Saúde

Recebe por telefone notícia da morte da filha dias depois de a ter levado ao hospital. Mãe acusa Misericórdia de negligência

Notícias de Coimbra | 1 ano atrás em 10-04-2023

Uma mãe cuidadora informal apresentou queixa da Santa Casa da Misericórdia de Arruda dos Vinhos por alegadamente não ter cumprido com as indicações dadas quanto aos cuidados da filha com deficiência.

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A cuidadora deixou a filha na Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) da Santa Casa da Misericórdia de Arruda dos Vinhos, para ser operada, mas a jovem não voltou para casa, adianta o Jornal de Notícias (JN).

A morte da filha, com 95% de incapacidade, foi-lhe comunicada por telefone em março, “sem que fosse explicada a causa do óbito. Empenhada em fazer justiça, pediu a abertura de um inquérito ao procurador do Tribunal de Torres Vedras, por suspeitar que a filha foi vítima de negligência”, refere a notícia.

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Inconformada, a mãe contou ao jornal que deu indicações precisas à Santa Casa para a filha “dormir sempre de barriga para baixo, ser sentada com as costas da cadeira reclinadas, e não ser alimentada deitada.” Para além de todos os cuidados descritos que deviam ser tomados, a mãe fotografou a demonstração dos procedimentos a seguir, para que a filha não entrasse em sofrimento. “Ensinei-as a virar a Mariana e expliquei como tinham de colocar as almofadas e os lençóis, porque fazia movimentos bruscos e podia cair da cama”, justifica.

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Apesar das recomendações, a cuidadora informal garante que ligou todos os dias para que lhe assegurassem que a jovem tinha dormido bem e de barriga para cima. “Pedi, por amor de Deus, para não fazerem isso”, recorda. “Suspeito que não tenham respeitado as minhas indicações e a menina esteve em sofrimento aquelas três noites.” Acredita, por isso, que morreu asfixiada ou devido a uma queda.

Logo no primeiro dia em que deixou a filha, teve a intuição de que algo não estava bem. Depois de se reunir com a diretora técnica, voltou a ir ter com a jovem e encontrou-a desesperada. “Estava branca como cal, ensopada em suor, com o cabelo a pingar, e os olhos a pedir socorro”, mencionou ao JN. “Sentaram-na na cadeira direita e não viram que ela estava naquela aflição”, lamenta. “Reclinei a cadeira e ela recuperou logo”, garante. Quando regressou mais tarde, a filha “estava semideitada e bem-disposta”. A mãe ficou mais calma, mas manteve-se sempre em contacto com a instituição.

Três dias depois, enquanto se encontrava a recuperar da operação, uma médica da UCCI telefonou e deram-lhe a notícia: “A Mariana já não está entre nós”. Face à situação, a clínica disse que ia passar a certidão de óbito. “Pensaram que não ia fazer nada, porque me ia ver livre da minha filha”, afirma a mãe. Embora nunca lhe tenham dito a causa da morte, acredita que algo de errado se passou.

“Apesar de ser muito magrinha, tinha o rosto muito inchado, um traço negro e os olhos negros, sobretudo o direito”, relata. “Sinto-me culpada, porque a levei para a morte. Tiraram-me a alegria”. Com paralisia cerebral, Mariana não falava, nem andava, mas a mãe, que sempre cuidou dela, assegura que percebia tudo, lê-se na notícia do JN.

A diretora técnica da Santa Casa da Misericórdia de Arruda dos Vinhos alega o “dever de sigilo profissional” para não comentar o caso, que “lamenta profundamente”. Porém, assegura que são prestados “sempre os melhores cuidados a todos os utentes integrados na unidade”.

Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas confirma ao JN que “a unidade de Arruda dos Vinhos é conhecida pelas boas práticas”. Embora desconheça a situação em concreto, falou com o provedor, que lhe garantiu que a morte da jovem “não tem nada que ver com más práticas”, conclusão a que chegou com base no relatório técnico a que teve acesso.

De acordo com a mesma notícia, quanto ao facto de a mãe desconhecer as causas da morte da filha, Manuel de Lemos explica que “legalmente, a instituição tem de prestar contas ao centro de saúde [Cadaval] e, normalmente, também à família”. Refere ainda que “a transferência da menina para a rede tem de vir acompanhada de um conjunto de indicações escritas” sobre o seu historial clínico. Contudo, diz que Esmeralda Rodrigues tem o direito de recorrer ao tribunal.

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