Política

Coimbra diz que saída do Porto exige “intenso debate” sobre missão da Associação de Municípios

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 31-05-2022

O presidente da Câmara de Coimbra afirmou hoje que compreende a saída do Porto da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e considera que a forma como aquela instituição tem gerido a descentralização exige um “intenso debate” interno.

PUBLICIDADE

“Acho que [a saída da Câmara do Porto da ANMP, aprovada na segunda-feira] é uma atitude corajosa que põe o problema da representatividade dos municípios junto do Governo em cima da mesa e é fruto já de um desencanto de nove anos do presidente Rui Moreira relativamente à ANMP, que me parece um desencanto fundamentado”, afirmou à agência Lusa o presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva.

O autarca também tem assumido uma postura crítica face aos processos de descentralização nas áreas da saúde e da educação, considerando que os reforços previstos no Orçamento do Estado recentemente aprovado são “insuficientes”.

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE

publicidade

Nesse sentido, José Manuel Silva defende “um intenso debate interno” para que se discuta “afinal qual é a missão da ANMP, porque há muitos presidentes de Câmara insatisfeitos”.

PUBLICIDADE

“A ANMP não tem defendido os interesses dos municípios e tem sido uma interface entre o poder do Governo central e o poder local, mas um interface que tem prejudicado o poder local, na medida em que a ou o presidente é sempre da mesma cor partidária da do Governo e faz com que a ANMP seja partidarizada e secundarizada, em prejuízo dos municípios”, asseverou.

Segundo José Manuel Silva, isso tanto é visível “no processo de descentralização, que foi mal negociado e mal conduzido”, em que não está plasmado o princípio da neutralidade orçamental (a medida teria um impacto nulo nas contas das autarquias), mas também no decreto-lei que obriga os municípios a suportar as comparticipações nas despesas de saúde dos trabalhadores municipais que descontam para a ADSE.

“NA ANMP, tudo é politizado e tudo é partidarizado e é preciso debater o modelo do partidarismo excessivo”, defendeu, considerando que o atual processo de descentralização prejudica o municipalismo.

“Quem critica este processo está a defender a descentralização, porque se não for devidamente financiada, o processo será descredibilizado e irá levantar enormes reservas sobre uma futura regionalização”, notou.

A Assembleia Municipal do Porto aprovou na segunda-feira à noite a saída da autarquia da Associação Nacional de Municípios com os votos favoráveis dos independentes liderados por Rui Moreira, Chega e PSD e contra de BE, PS, CDU e PAN.

O executivo municipal já tinha aprovado a desvinculação em reunião de câmara, com os votos a favor do movimento independente, a abstenção do vereador do PSD Alberto Machado e os votos contra do PS, BE, CDU e do social-democrata Vladimiro Feliz.

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, fez conhecer a sua vontade de abandonar este organismo a 12 de abril, altura em que disse que não se sentia em “condições” para passar “um cheque em branco” à ANMP para negociar com o Governo a transferência de competências.

O processo de transferência de competências em mais de 20 áreas da Administração Central para os municípios decorre desde 2019.

A transferência definitiva e obrigatória de competências nas áreas da Educação, Saúde e Ação Social para os municípios estava prevista acontecer a partir de 01 de abril deste ano, após vários adiamentos.

Em 03 de fevereiro, o Governo aprovou a possibilidade de os municípios requererem a prorrogação até 01 de janeiro de 2023 do prazo para a concretização da transferência de competências na área da Ação Social, mantendo a efetivação das competências de Educação a 01 de abril.

A Câmara Municipal do Porto interpôs, em 25 de março, uma providência cautelar para travar a descentralização nas áreas da educação e da saúde.

Em 04 de abril, o vereador da Educação da Câmara do Porto, Fernando Paulo, adiantou que a providência foi aceite, mas sem efeitos suspensivos, o que levou a autarquia a “acomodar” as competências.

Após recurso, o Supremo Tribunal Administrativo (STA) declarou-se na sexta-feira “incompetente” para decidir sobre a providência cautelar interposta pela Câmara do Porto.

Related Images:

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE