Bebé começa a falar para dizer que não faz segurança ilegal

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 18-01-2018

Já passava das 10 da manhã deste dia 18 de Janeiro quando o Tribunal de Leiria retomou o julgamento dos arguidos da “Operação Punho Cerrado”. Meia hora de atraso! É normal nos “campus da justiça”.

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tribunal de leiria

Recordamos que Ministério Público de Leiria deduziu a acusação contra duas dezenas de pessoas e uma sociedade, imputando-lhes vários ilícitos criminais, entre os quais associação criminosa, de extorsão, coação, coação agravada, ofensa à integridade física qualificada, ameaça, ameaça agravada, exercício ilícito da atividade de segurança privada, detenção de arma proibida, violência doméstica e associação criminosa”.

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Esta segunda sessão fica marcada pelo depoimento de Paulo Vicente Miguel, o “Bebé”, considerado o líder desta “associação”.

Recordamos que na primeira audiência se limitou a dizer que de momento não falava e que não entendia porque está a ser acusado: Podia ser ignorância minha, mas três advogados que contactei, ninguém me soube explicar e gostava de perceber para me poder defender.”

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Paulo Miguel pediu a palavra durante a manhã para “se poder defender dos 11 crimes de segurança ilícita”.

“Sou o  primeiro interessado em que se apure a verdade. Preciso que me perguntem um a um. Quero que o tribunal me interrogue. Quero esclarecer. Eu sei explicar melhor  que o advogado. Melhor que ninguém. Preciso da vossa ajuda por me defender. Estou a mendigar para ser interrogado, disse Bebé, que acabou por dar várias explicações e contar a sua versão do que terá acontecido.

Quando o Procurador lhe lembrou que está acusado de outros crimes, Paulo Vicente Miguel  respondeu que falará sobre eles na altura própria.

Queria falar, falou, ao ponto de falar ao mesmo tempo do Procurador da República, o que obrigou a que o Presidente do colectivo de juízes a fazer “um ponto de ordem”.

Depois de ter dito que não estava envolvido em segurança ilegal e que se limita ao trabalho de comercial da 365, Bebé afirma que nunca foi “gerente de facto da 365”.

“Eu era só comercial”. “Nunca exerci funções fardado ou desgarrado de segurança  365”, afiança Bebé, que negou ter exigido pagamentos ou coagido donos de casas nocturnas. É mentira diz Bebé. Era amigo de muitos, ia ao aniversário dos filhos deles, jantavam,  eles queriam trabalhar comigo, garante.

Podia ter tido outras funções na 365, mas não aceitou o convite de Manuel Santos, o autarca de Cantanhede que “ficou” com a 365. “Convidou-me para ir trabalhar directamente com ele para começar em 2017. Para estar no terreno”. Em funções de direção, salienta o antigo dono da Lexsegur.

Na sua intervenção, para demonstrar que os bares e discotecas não eram o seu core business, Bebé disse que a sua extinta Lexsgur era “grande de dia”. “A noite eram dez por cento” da facturação.

De resto,  na sequência de outro processo, a Lexsegur não estava proibida de trabalhar “com clientes do dia”.

Explica que cedeu negócio e vigilantes à 365 para evitar novos dissabores. A ex-mulher teve a ideia.  O acordo foi feito por advogados, acrescenta.

Questionado sobre se o seu irmão Jonatas tinha sido exercido funções de gerência, de comando, Paulo é peremptório: Ele não tem capacidades para exercer funções de gerência”.  “O mundo dele é o dos ginásios”, de onde “saiu”, dirá mais à frente, quando o IVA subiu de 6 para 23%.

Se Jonatas não tinha privilégios porque tinha uma intervenção activa nos recebimentos, questionou o representante do Ministério Público. Paulo Miguel desmente.

Lembra que esteve preso 2 anos. Saiu do EP (Estabelecimento Prisional) em 5 de maio de 2016. Foi a partir desta data que começou a ser “comercial da 365”.

365-a
Nesta quinta-feira prestaram depoimentos, na qualidade de “testemunhas da acusação”, vigilantes, clientes de bares e discotecas e um agente da PSP.
Deram a sua versão de alegados factos relacionados com crimes de coação, segurança ilegal, espancamentos dentro e fora de espaços de diversão nocturna, ameaças de morte.
Umas testemunhas desvalorizaram. Outras só se lembram de parte dos alegados factos. Algumas confirmaram. O Tribunal foi mesmo obrigado a refrescar a memória de uma parte deles, que nem se lembravam do que tinham dito em outros momentos deste processo. Fica a ideia que nem todos estão “disponíveis” ou “estão em condições” de “colaborar com a justiça”. 
Um dos depoentes aproveitou o momento em que prestava declarações para perdoar uma agressão de Jonatas Miguel e logo ali retirou a queixa, decisão que foi aceite pelo arguido.
Quem tem a certeza que aqui há crime é o agente da PSP. Tem a certeza que existia segurança ilegal. Assistiu “em tempo real” através de escutas e no terreno. O advogado do principal arguido não gostou do que ouviu. Chamou-lhe mentiroso.
A cena dos eventuais crimes relacionados com a segurança ilegal situa-se em dezenas de espaços nocturnos nos distritos de Leiria e Santarém.
Pode começar numa “discoteca da moda” como o Suite, passando por um “bar de alterne” como o Lady´s, terminando em “festas chiques” na ribatejana Golegã, por exemplo.
segurança

Os arguidos Paulo Miguel, o Bebé, bem como o seu irmão Jonatas Miguel, estão em prisão preventiva. São acusados dos crimes de fraude fiscal qualificada, associação criminosa e exercício ilegal de segurança privada.

Lembramos que Bebé já tinha sido detido noutra ocasião no âmbito de um processo relacionado com crimes de fraude fiscal. A sua empresa LexSegur foi  dissolvida na sequência desse caso.

Segundo o Ministério Público, em 2015 e 2016, nos distritos de Leiria e Coimbra, os arguidos, “inseridos numa estrutura criminosa, visaram forçar possuidores de determinados estabelecimentos, sobretudo de diversão noturna, a celebrarem contratos de prestação de segurança privada, fixando os preços, as condições de serviço, o meio de pagamento e a quantidade de segurança, os quais acatavam com receio de sofrerem represálias”.

O MP  sustenta que os arguidos terão recorrido à coação e à força física, “sendo auxiliados pelo uso de armas, que seriam utilizadas contra quem se opusesse às suas intenções, chegando a molestar o corpo de vítimas, que cediam com sério receio da sua vida, da sua integridade física e de bens de valor patrimonial elevado, como os referidos estabelecimentos”.

Paulo  Miguel, Jonatas  Miguel (detidos), Ana  Grácio, Edgar Glória, João Barbeira, João Santos, Manuel dos Santos, Neemias  Teles, Nuno  Cordeiro, Ricardo  Casalinho, Ricardo Azenha Rui  Viola, Sara  dos Santos, Tania Dias, Vilson  Lima, Stéphanie  Vieira, José  Vitorino, 365 Segurança Privada, Ldª, Hélder  das Neves, Jorge  Neves, Joel  da Cruz e Gonçalo Letra integram lista de arguidos da operação Punho Cerrado dirigida pela PSP de Leiria.

São defendidos por quase duas dezenas de advogados, alguns de Coimbra, que ocupam 4 bancadas de uma das salas de audiências do Tribunal de Leiria.

Luís Miguel Rodrigues defende Paulo Miguel. Augusto Murta representa o Jonatas Miguel, irmão de Pedro Miguel. João Barbeira, Ricardo Casalinho, Ricardo Azenha e Nuno Cordeiro são constituintes de António Manuel Arnaut. Vitor Gaspar, de Cantanhede, é o advogado de Manuel Santos.

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