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Músico Ambrose Akinmusire vai animar festival Jazz ao Centro em Coimbra

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 15-10-2022

O músico e compositor Ambrose Akinmusire vem atuar em Portugal num momento em que sai da mítica editora Blue Note para ter espaço para ser mais do que um trompetista de jazz, papel onde nunca se sentiu completamente confortável.

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O músico de 40 anos, natural de Oakland, no estado americano da Califórnia, conseguiu despertar a atenção da Blue Note logo após o seu primeiro álbum, tendo lançado, em 2011, o seu segundo disco a solo, intitulado “When the Heart Emerges Glistening”, já com a chancela da mais influente editora de jazz do século XX, por onde passaram nomes como Miles Davis e John Coltrane.

Tudo aconteceu num momento em que a editora trilhava um caminho de aposta em novos artistas e não viver apenas das reedições dos grandes nomes do jazz dos anos 50, 60 e 70, que lhe deram a reputação que ainda tem hoje.

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“No início senti a pressão. Era um dos primeiros na minha geração a assinar com uma grande editora. Senti que, se não corresse bem, estaria a destruir oportunidades para outros e para a geração futura”, conta à agência Lusa o músico que vai atuar no Seixal e em Coimbra, a 21 e 22 de outubro, respetivamente.

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“Se não funcionasse iam dizer: ‘Tentámos com o Ambrose, mas os álbuns não venderam. Os jovens não funcionam e, por isso, vamos continuar a editar o ‘Kind of Blue’ [álbum de Miles Davis lançado em 1959]”,afirma Ambrose, sublinhando que, apesar de ter sentido essa pressão de representar uma nova geração, nada mudou na sua relação com a música ou na sua forma de compor.

Cinco álbuns depois editados pela Blue Note, Ambrose Akinmusire sente que é o momento de sair daquela editora e abraçar novos desafios sob a chancela da nova iorquina Nonesuch, por querer ir para lá do jazz, numa carreira onde já colaborou com artistas tão distintos como Kendrick Lamar, Brad Mehldau e Joni Mitchell.

“Queria mais espaço. Eu não sou um trompetista de jazz. É por isso que as pessoas me conhecem e eu consigo fazer o papel do trompetista de jazz, mas nunca foi 100% confortável para mim. Quero espaço para fazer outras coisas”, disse à agência Lusa Ambrose Akinmusire.

Apesar de estar tão relacionado com o jazz (os concertos que dá em Portugal são no âmbito de festivais que têm como foco esse género musical), o artista norte-americano não se vê como músico de jazz – tanto gosta de Bach, como do rapper Nas ou do cantor de blues Leadbelly.

“Eu sinto-me como um músico de jazz, como um artista de hip-hop, como um ‘bluesman’, como um compositor clássico, como alguém que compreende e gosta de música da África Ocidental ou que também adora música escandinava”, vinca.

Nesse sentido, ao longo dos últimos dez anos em que esteve ligado à Blue Note, quis lançar bandas sonoras, álbuns “se calhar sem trompete” (no último álbum, troca em duas faixas aquele instrumento pelo teclado Fender Rhodes) ou discos de hip-hop ou de funk.

“Já pensei fazer cada uma dessas coisas nos últimos dez anos, mas a Blue Note é uma editora de jazz e até pode ser difícil para eles perceberem porque é que quero fazer isso. E quero isso porque é apenas quem eu sou – toco com o Kendrick Lamar, com a Joni Mitchell ou com o Archie Shepp. É quem eu sou. Toco todas essas coisas e sinto-me em casa em todas elas”, diz o músico, que regressa a Portugal, depois de já ter vindo várias vezes, a primeira quando tinha apenas 19 anos, no conjunto liderado por Steve Coleman.

Consigo, traz também o último álbum, lançado em 2020, intitulado “On the Tender Spot of Every Calloused Moment”, o seu trabalho “mais acústico” e direto, sem trabalho de “pós-composição”.

Ambrose Akinmusire, que tem uma relação especial com a poesia – a sua mulher é poeta -, fala do título como um verso de um poema.

“Espero que, tal como a minha música, possa crescer e mudar com o tempo”, refere, considerando que o ‘tender spot’ (ponto macio) de todos os momentos calejados a que se refere no nome do álbum remete para o blues.

“A palavra-chave é o calejado, que implica que tenha havido alguma dor, mas no meio há um ponto suave. Para mim, este álbum é um álbum de blues. Quando se canta: ‘Oh! A minha mulher deixou-me/ Oh! A minha mulher deixou-me / Mas eu vou encontrar uma nova mulher’ – é aí, nessa frase final, que está o ponto suave. Acho que é isso que faz o blues”, explica.

Ambrose Akinmusire não faz distinções entre jazz, hip-hop ou blues, aliás considera que todas essas linguagens musicais são “a mesma coisa”.

“Foi o som do jazz de fusão que se transformou em hip-hop. E o que era a fusão antes disso? O que estavam a fazer antes de fazer fusão? Herbie Hancock ou Wayne Shorter estavam a tocar com o Miles, com o Coltrane. Portanto, hip-hop é apenas um novo desenvolvimento do jazz. O hip-hop faz a mesma coisa que o jazz, que é contar a história de uma comunidade que normalmente não tem voz. Blues, jazz, hip-hop não estão ligados. São a mesma coisa”, frisa.

Daí que para o músico norte-americano é fácil pegar no trabalho de um rapper como Kendrick Lamar e mostrar “como está relacionado com o Clifford Brown ou o Louis Armstrong”.

“O jazz é relevante e é música de agora. Não é de ontem, nem é do futuro”, aponta o músico, que se apresenta em formato de quarteto no SeixalJazz, a 21 de outubro, e, no dia seguinte, no festival Jazz ao Centro, em Coimbra.

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