Política

Vitória da coligação de direita nos Açores antecipa dilemas para Aliança Democrática

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 meses atrás em 05-02-2024

A vitória da coligação de direita nos Açores, sem maioria absoluta, dará impulso à Aliança Democrática nas legislativas nacionais, mas antecipa também os dilemas de um cenário de minoria, consideraram hoje analistas.

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Segundo os dados oficiais provisórios, a coligação PSD/CDS/PPM venceu as eleições regionais dos Açores, no domingo, com 42,08% dos votos, elegendo 26 deputados (a três da maioria absoluta).

José Manuel Bolieiro, líder da coligação PSD/CDS-PP/PPM, que governa os Açores desde 2020, já disse que irá governar com “uma maioria relativa” nos próximos quatro anos.

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Perante este cenário, o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS) António Costa Pinto realça que os dilemas que Bolieiro enfrenta para governar nos Açores “serão os mesmos caso a Aliança Democrática [AD, formada por PSD/CDS-PP/PPM] vença as legislativas” de 10 de março.

O cenário político açoriano antecipa “os mesmos desafios para as eleições nacionais”, sublinha, recordando que Bolieiro desafiou o PS (segunda força, com 23 mandatos e 35,91%) e o Chega (que passou de dois para cinco deputados, com 9,19%) a viabilizarem o seu governo minoritário, “o que não fez há dois anos, derrubando o executivo socialista e fazendo um acordo parlamentar com o Chega”.

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Governar em minoria passa por “assumir as fragilidades que daí podem advir”, observa a professora de Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP) Teresa Ruel, antecipando um cenário de “bloqueios institucionais” no arquipélago.

Para a professora, a vitória da coligação não oferece, à partida, condições para a estabilidade governativa, até porque, “aritmeticamente, não existe grande disponibilidade das outras forças políticas” para apoiar Bolieiro.

Por um lado, desconhece-se “se o PS terá disponibilidade para ajudar a governação” e, por outro, o Chega já fez depender essa “ajuda” da entrada na governação, acrescenta.

“A incógnita é saber se a coligação cederá nesse aspeto”, refere, apontando para “uma situação muito difícil” na distribuição dos mandatos” pelos partidos.

“Mesmo os deputados da IL ou do PAN não sabemos até que ponto apoiarão este governo”, diz.

A Iniciativa Liberal (2,15%) e o partido Pessoas-Animais-Natureza (1,65%) elegeram um deputado regional cada, completando, juntamente com o eleito pelo Bloco de Esquerda (2,54%), os 57 eleitos do parlamento.

“É uma vitória agridoce, porque a coligação não conseguiu garantir mandatos suficientes para governar de forma mais estável”, constata Ruel, assinalando que ainda não há “uma clarificação em toda a linha”.

“Terão de encontrar outras soluções”, prevê, observando que “será muito interessante ver as próximas horas e os próximos dias”.

A apenas três deputados da maioria, esta legislatura açoriana “parece mais débil do que a anterior”, nota Ruel, reconhecendo “constrangimentos sensíveis”.

Costa Pinto sublinha que “a contaminação” das eleições regionais nas nacionais “é relativamente pequena”, reconhecendo, porém, que a vitória da coligação à direita “é um bom impulso para a AD a nível nacional”.

Teresa Ruel concorda que “os partidos vivem dessa competição” e que os resultados nos Açores são “um elemento potenciador para a campanha eleitoral” nacional.

A professora do ISCSP sublinha que “os líderes nacionais vão tirar ilações: quem ganhou vai capitalizar e quem perdeu vai desvalorizar”.

Por isso, considera, “todos os resultados eleitorais têm de ter uma leitura nacional”.

Já Costa Pinto realça que “as eleições dos Açores nunca foram previsão de nada em termos de política nacional”, ainda que reconheça as coincidências de se realizarem eleições regionais antecipadas a poucas semanas de eleições nacionais, igualmente imprevistas, e de no arquipélago governar uma coligação pré-eleitoral equivalente à que se vai apresentar em 10 de março a nível nacional (Aliança Democrática).

O professor do ICS destaca ainda “a novidade de o Chega ter crescido nas eleições regionais”, confirmando a tendência apontada nos estudos de opinião para que “o mesmo fenómeno aconteça nas legislativas”.

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