Portugal

Um terço dos peões mortos tem álcool a mais no sangue

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 9 meses atrás em 14-08-2023

As vítimas mortais de acidentes rodoviários com uma taxa de álcool igual ou superior ao permitido por lei para conduzir (0,5 g/l) estão a aumentar em Portugal, segundo as autópsias realizadas pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), números avançados pelo Jornal de Notícias (JN).

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O aumento é notório. Só no ano passado, 27,7% tinham 1,2 g/l ou mais de álcool no sangue, uma quantidade considerada crime. Em 2017, o registo estava nos 12,2%. Os especialistas neste tema pedem uma fiscalização apertada nas estradas e um “programa sério” contra o alcoolismo nas idades mais novas.

Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), destaca ao JN a “preocupação” com os números, mas diz ser preciso olhar para a globalidade dos dados e não apenas para a realidade de um ano. “Entre 2017 e 2021, a percentagem de peões com uma taxa igual ou superior a 1,2 g/l de álcool no sangue esteve sempre abaixo dos 17%. No entanto, em 2022, os valores aumentaram vertiginosamente para quase 30%”, refere.

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“É importante saber qual a localização dos acidentes, se foram em zonas urbanas ou não, nas capitais de distrito, no Norte ou no Sul”, afirma Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACAM). E quem tem a mesma opinião é Alain Areal, que acrescenta ser necessário uma “maior fineza dos dados”, caso contrário torna-se difícil encontrar justificações para o fenómeno.

No entanto, há contextos que ajudam a explicar e realidades que não se escondem por detrás dos números. “Têm aumentado as zonas de lazer para peões nos espaços públicos, nomeadamente em áreas urbanas como Lisboa”, aponta Manuel João Ramos. O responsável da ACAM refere que o fenómeno da “turistificação pode estar a causar este efeito colateral”, o de consumo de álcool na via pública. “Os espaços de divertimento noturno também aumentaram muito”, diz.

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Já Joana Teixeira, presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, explica ter existido um “abrandamento das campanhas de segurança rodoviária” sobre o consumo de álcool ao volante e que devem ser reforçadas “novamente”. A psiquiatra realça o fenómeno do “binge drinking”, especialmente entre os jovens, que se traduz pela ingestão de várias bebidas alcoólicas numa ocasião.

No ano passado, houve menos vítimas mortais de acidentes rodoviários a serem autopsiadas pelo INMLCF: 294. Nos últimos seis anos, o pico ocorreu em 2018 com 417 análises realizadas. Mesmo com menos autópsias feitas, a proporção de condutores e peões com álcool no sangue subiu, especialmente em 2019, 2021 e 2022.

Os dados mostram um aumento expressivo da alcoolemia nos peões, mas também nos condutores, em que a taxa de álcool igual ou superior a 1,2 g/l esteve sempre acima dos 20% desde o ano de 2017.

Os especialistas referem ser necessário um “maior esclarecimento sobre o efeito do álcool na condução”, além da existência de mais fiscalização nas estradas. “Cada condutor é submetido em média a um teste de alcoolemia de quatro em quatro anos. (…) Se aumentasse a frequência, teria benefícios e criaria maior pressão sobre os condutores”, conclui Alain Areal.

 

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