Economia

Topázio: Nascida de um fio de ouro ‘roubado’ ao dote

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 meses atrás em 15-03-2024

Imagem: Topázio

Um fio de ouro derretido e transformado em várias peças foi o primeiro passo da Topázio, empresa de ourivesaria de Gondomar que este ano completa 150 anos e que tem nos judeus norte-americanos uma franja importante do seu mercado.

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Menorás e castiçais fazem hoje parte da produção da empresa sediada desde 1972 em Valbom, mas cuja história começou em 1874 quando Manuel José Ferreira Marques foi buscar ao dote da esposa o fio que transformou em várias peças de ouro para vender na feira de Cantanhede, à época o núcleo do comércio do ouro.

Maria José Ferreira Marques, trineta do empresário, e José Augusto Seca, diretor executivo da empresa, contaram à Lusa episódios de uma história que em outubro completará século e meio de vida e onde, quando o descalabro parecia querer acontecer, surgiu sempre o aconselhamento que fez a diferença.

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Dos primórdios do negócio, que Maria José só consegue imaginar que “tenha começado em Gondomar”, dá-se um salto até 1950, pois os registos mais antigos situam a empresa já no Porto, dividida entre a Rua dos Navegantes, onde trabalhavam a prata, e a Rua do Heroísmo, onde estava centrada a produção de peças.

Nessa altura, continuou Maria José, davam trabalho a 300 pessoas, tudo à custa da prata, relatando que a fábrica “foi também uma escola de ourivesaria, para miúdos do Porto e arredores, que chegavam para trabalhar”.

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José Augusto Seca intervém na conversa com novo dado histórico: “a firma foi registada em 1931, deixando de ser Ferreira Marques e Filhos para passar a ser Ferreira Marques e Irmão, acrescentado do nome Topázio, designação com que os herdeiros do fundador quiseram homenagear a mãe que tinha aquela pedra preciosa como a sua favorita”.

Em 1972, parte da produção passou para Valbom com cerca de 100 empregados, tendo atualmente 64 funcionários, contabilizou o atual responsável da fábrica.

O facto de em 1974 “pagar muito acima da tabela salarial” não livrou o pai de Maria José, que então geria o negócio, de “viver alguns receios” na sequência da revolução do 25 de Abril, assim como, quando na década seguinte, quando a cotação da prata quadruplicou e as vendas ameaçaram cair.

A solução, segundo a trineta, surgiu de um amigo, de ascendência judaica, que convenceu o pai de Maria José a “avançar para o banho de prata em peças, que já se praticava no estrangeiro”.

A internacionalização aconteceu em 1960, quando as circunstâncias o pareceram contrariar na Feira internacional de Hanover, na Alemanha, depois do expositor ter sido colocado “perto das águas furtadas do edifício”, recorda a descendente com um sorriso.

Também aqui, um amigo judeu mostrou-lhes o caminho, garantindo ao dono da Topázio que, se o artigo fosse bom, “todos iriam subir, a pé, nem que fossem 20 andares”.

“Foi a partir daí que crescemos junto dos judeus norte-americanos e, mais tarde, começámos a expor também na Feira de Milão”, contou, recordando que as encomendas de menorás, um candelabro e um dos maiores símbolos do judaísmo, “começaram a acontecer, acompanhadas de visitas regulares dos empresários interessados”.

José Augusto Seca garantiu haver hoje peças da Topázio nos Estados Unidos, Marrocos, Grécia, Médio Oriente, França, Alemanha, Rússia, Inglaterra, República Checa, Países Baixos, mas também na Ásia e em África, assinalando as que estiveram expostas no Metropolitan Museum de Nova Iorque.

Atualmente, a empresa exporta 40% da produção e nos últimos quatro anos registou um crescimento de 20% no mercado internacional fruto da aposta, também, no segmento da joalharia. Contas feitas, em 2023 faturaram cerca de três milhões de euros, disse o diretor executivo.

Na fábrica, o polidor Serafim Oliveira, há 47 anos na empresa, assegurou terem “um conhecimento que não se encontra em mais lado nenhum do mundo” e que, para além de “terem de aprender todos os dias, quem chega, sabe que a exigência é maior”, realidade testemunhada por José Reinaldo, há 46 anos na empresa, que interrompeu o alisar de uma salva de prata para falar com a Lusa.

“A nível de qualidade estamos acima de todos. Mesmo a nós próprios exigimos fazer sempre o melhor”, afirmou o ourives desde os 14 anos.

Vitorino Pinheiro, há 42 anos na empresa, sustentou trabalhar numa empresa com futuro, justificando-o pelas “horas extraordinárias que, atualmente, têm de fazer para responder às encomendas associadas às festas do judaísmo que, basicamente, são menorás, castiçais e copos”.

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