Coimbra

Santos Cabral preocupado com risco de desprezo do bem comum

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 19-06-2020

O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz (CDJP) de Coimbra considerou, hoje, que Portugal “não pode ser gerido em obediência a meros interesses privados ilícitos, desprezando o sentido do bem comum”.

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Através de uma nota intitulada “Ser solidário em tempo de crise”, José Santos Cabral (juiz do Supremo Tribunal de Justiça) alude aos “cerca de 17 000 milhões de euros que, desde 2007, foram absorvidos por entidades bancárias na sequência de actos de gestão indigente, quando não criminosa”, e a 18 000 milhões “que se calcula ser o custo da corrupção no nosso país”.

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“Tais verbas, gastas em nosso nome sem qualquer benefício real, mas beneficiando uma minoria, quando não uma plutocracia, seriam, hoje em dia, uma preciosa ajuda para suplantar a crise” gerada pela covid-19, adverte.

“Se a resposta institucional é fulcral, o papel de cada um de nós é insubstituível”, prossegue Santos Cabral, fazendo notar que a “crise não atinge todos por igual e sobre os que mais podem recai um dever de solidariedade, também ele sem precedentes, contribuindo para uma maior justiça social”.

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O magistrado recomenda que a solidariedade faça parte do nosso léxico de todos os dias, remetendo para “múltiplas formas pelas quais podemos ajudar a mudar para um mundo melhor”.

“No atravessar desta ‘pandemia da fome’, os católicos, como todos os cidadãos, têm uma responsabilidade acrescida, que advém do Evangelho, indo ao encontro dos mais necessitados, vivendo a fraternidade e a solidariedade”, acentua.

Ao parafrasear o Papa Francisco, o presidente da CDJP de Coimbra assinala que, neste momento difícil da História da Humanidade, “estamos todos no mesmo barco e ninguém se salva sozinho”.

“Crise é, também, o momento de desafio, decisivo para vencer os desequilíbrios e restabelecer a confiança”, afirma Santos Cabral, em cujo ponto de vista “devemos exigir respostas colectivas, estruturadas e sustentadas”, sem que, “individualmente, cada um de nós deixe de agir, pois há o dever de dar a mão a quem, ao nosso lado, precisa de pão e esperança”.

A nossa atenção, prossegue o juiz conselheiro, é agora despertada para realidades que sempre estiveram presentes, mas para as quais não estávamos particularmente atentos, e que atingem os mais fragilizados e indefesos.

A pobreza latente irrompeu com ímpeto em largas zonas do país, ameaçando superar 18 por cento da população, e 1,80 milhões de pessoas estão risco, adverte.

“Convoca-nos a realidade pungente de existirem no nosso país cerca de um milhão de pessoas que vivem com menos de 250 euros por mês”, assinala o timoneiro da CDJP de Coimbra.

Neste contexto, Santos Cabral alerta para o facto de sermos, “cada vez mais, um país assimétrico em termos territoriais, sociais e económicos, com visíveis fracturas mostrando desigualdades que vão desde a estabilidade social e económica de alguns até à incerteza do futuro daqueles para quem viver o dia seguinte é já uma incógnita”.

Não obstante, é reconfortante, segundo o presidente da CDJP de Coimbra, constatar a forma como grande parte da sociedade civil se mobilizou para enfrentar o desafio de uma vida, sendo que muitas das instituições de solidariedade social, em particular ligadas à Igreja, assumem-se, agora, como pilares fundamentais na procura de um equilíbrio mínimo em termos de coesão social”.

“Nestes tempos de desafio, vem ao de cima o melhor que temos na nossa natureza humana, mas, infelizmente, aparecem, igualmente, a indiferença e o oportunismo, respaldados na anomia de valores”, conclui Santos Cabral.

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