Coimbra

PSD aposta na disputa “taco a taco” com o PS e campanha centrada em Rio

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 03-10-2019

O PSD vai continuar a apostar até domingo na bipolarização com o PS, apelando ao voto ao centro e dos indecisos, numa campanha feita à medida do líder Rui Rio e que ficou marcada pelo caso Tancos.

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O presidente do PSD assumiu que queria uma campanha diferente, com menos “gritaria” e mais “esclarecimento”, e na primeira semana tudo foi desenhado nessa lógica: almoços temáticos com poucas dezenas de pessoas e sessões de esclarecimento ao fim da tarde – que o partido designou de ‘talk’ – em capitais de distrito, para substituir os tradicionais comícios.

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No entanto, as perguntas quase sempre sobre os mesmos temas – saúde, carga fiscal, educação – levavam o líder a apenas repetir, perante plateias diferentes, as medidas previstas no programa eleitoral do PSD.

Mas, na passada quinta-feira, ao terceiro dia da volta nacional do PSD – Rui Rio arrancou a sua campanha oficialmente no dia 24, depois de terminado o período de debates –, a acusação do Ministério Público sobre Tancos irrompeu pela campanha social-democrata, e os ecos ainda se fazem sentir.

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Nesse mesmo dia, o líder do PSD fez questão de dar solenidade ao assunto, alterando a campanha para dar uma conferência de imprensa num hotel nas Caldas da Rainha, na qual considerou “pouco crível” que o primeiro-ministro, António Costa, não soubesse do encobrimento no reaparecimento das armas em Tancos.

“Sabia ou não sabia” foi a pergunta mais feita por Rui Rio ao primeiro-ministro nos dias que se seguiram, com trocas de acusações quer com António Costa quer com outras figuras do PS, como Carlos César ou Augusto Santos Silva.

O líder do PSD manteve a tese de que só tirou ilações políticas do caso e nenhuma conclusão judicial antes de tempo, apesar das acusações em contrário dos socialistas.

Desde segunda-feira, contudo, que Rio não voltou a colocar Tancos no discurso – tarefa que tem cabido a segundas linhas do PSD, em breves intervenções – e até já disse que é o PS que mantém o caso na campanha, obrigando-o a responder.

Com passagem por 17 distritos e construída de sul para norte, onde estão os distritos com mais apoio social-democrata, a caravana laranja percorreu cerca de 3.000 quilómetros desde dia 24, e quando faltam os dois maiores círculos em termos eleitorais: Porto, na quinta-feira, e Lisboa, onde será feito o encerramento.

Rio nunca evitou os contactos com a população, mesmo em zonas onde não poderia esperar muito apoio, como Évora, mas na maioria das vezes limita-se a cumprimentar e a distribuir o único brinde de campanha do PSD – lápis –, e é raro ter uma conversa mais prolongada com quem se cruza.

Na campanha do PSD, até os lápis são centrados no líder: com a inscrição “Rui Rio” são um bom espelho de uma ‘volta’ em que o presidente do PSD é protagonista quase exclusivo.

Até agora, só um ex-líder do partido apareceu para o cumprimentar – Luís Filipe Menezes, no primeiro domingo oficial de campanha ainda antes desta volta nacional arrancar – e dos chamados notáveis só apareceram o eurodeputado Paulo Rangel, a meio de uma arruada em Coimbra, e o antigo ministro Ângelo Correia, em Aveiro.

Figuras mais críticas da atual direção como Luís Montenegro, Marques Mendes, Hugo Soares ou Jorge Moreira da Silva têm feito campanha, mas não ao lado do líder, o que já lhes valeu a classificação de hipocrisia por parte de Rui Rio.

Na campanha, Rio apresenta a sua experiência e credibilidade política e pessoal como as grande mais valias, salientando ser a mesma pessoa que governou 12 anos a Câmara do Porto, e garantindo que se apresenta ao eleitorado “sem manhas”.

A aposta para os últimos dias é a captação do voto do centro, espaço político em que sempre quis situar o PSD “para que o país não fique completamente à esquerda”, e porque são os moderados “que podem ter a palavra final”.

Se Rio continua a dizer valorizar mais as “sondagens das ruas”, a subida do PSD nas sondagens reais teve reflexos práticos na campanha, e foi no sábado, empoleirado num pelourinho em Bragança, que falou pela primeira vez de forma mais enfática em vitória.

Aos jornalistas, tem sido mais cauteloso e repete que acredita estar a disputar “taco a taco” as eleições com o PS, acrescentando que só um poderá ganhar: “Se vamos ter mais 1% ou menos 1% que o PS, é o povo português que, a 06 de outubro, vai decidir e democraticamente. Aceito todas as decisões, cumpri o meu papel, fiz o que tinha a fazer”, defendeu, na quarta-feira em Águeda (Aveiro).

Ainda assim, já foi anunciando nomes para o caso de formar Governo: Arlindo Cunha para a Agricultura, depois de já ter apontado Joaquim Sarmento para as Finanças e garantindo que também já tem o da saúde na cabeça.

Tancos à parte, a política pura e dura chegou apenas na segunda semana de campanha: nos dois primeiros comícios da campanha, Malafaia (Braga) e Viseu, Rio recorreu a metáforas para falar de vitória. Primeiro, disse querer ser o Famalicão destas eleições – a equipa é a líder surpresa da Primeira Liga de futebol – e, depois, “o chefe dos lusitanos”, vendo renascer o “cavaquistão” no distrito que deu muitas vitórias aos sociais-democratas.

A defesa do rigor das contas do PSD tem sido uma preocupação de Rio, que tem feito do ministro das Finanças um dos seus principais alvos, acusando Mário Centeno de querer “confundir” e “descredibilizar” os números dos sociais-democratas.

Nos últimos dias, não tem deixado cair o desafio a Centeno para que debata com Álvaro Almeida, coautor do programa económico do PSD, depois de este ter recusado fazê-lo com Joaquim Sarmento, por não ser candidato a deputado.

Se o PSD conseguiu nos dois comícios até agora realizados mobilizações acima das duas mil pessoas, os contactos de rua têm variado entre o animado – Viana do Castelo, Bragança – e os pouco concorridos, como Barcelos ou Lamego, além de não ter arriscado a tradicional ‘arruada’ em Viseu.

Por perceber fica também, sobretudo na primeira semana, o objetivo de algumas iniciativas de campanha do líder, que entra e sai sem prestar declarações que expliquem a mensagem que quer transmitir, como aconteceu, por exemplo, num almoço na Universidade da Beira Interior, na Covilhã ou numa visita ao Instituto de Investigação Agrária e Veterinária de Santarém.

Ainda assim, a campanha que quer começar a inovar não esqueceu os tradicionais momentos para a imagem e Rio já dançou e subiu a uma máquina ceifeira em Santarém, apanhou maçãs em Lamego e tocou bombo no arraial da Malafaia.

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