Professor de Coimbra defende criação de associação de vítimas dos fogos florestais

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 06-07-2017

O investigador de Coimbra José Manuel Mendes defendeu hoje a criação de uma associação de vítimas da zona afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande, para garantir que as pessoas são ouvidas, mas também para facilitar um processo de indemnizações.

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“Seria fundamental [uma associação de vítimas] para haver uma contranarrativa e uma outra definição dos apoios e das necessidades” das pessoas afetadas pelo incêndio que deflagrou a 17 de junho em Pedrógão Grande e que provocou 64 mortos e mais de 200 feridos, disse à agência Lusa o coordenador do Observatório de Risco da Universidade de Coimbra, José Manuel Mendes.

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Um instrumento deste tipo permitiria às pessoas “ajudar a definir prioridades” na intervenção pós-catástrofe, mas também a dar mais força a um processo de indemnizações, referiu.

“As indemnizações dificilmente serão atribuídas, porque para isso era preciso uma associação de vítimas forte”, notou o especialista em situações de risco, considerando que a associação também daria hipótese às pessoas de se organizarem “de forma autónoma” e de garantirem “pressão sobre o poder político”.

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Para José Manuel Mendes, a pressão sobre o poder político, por parte dos familiares das vítimas e dos feridos, neste momento, “é zero”, por não haver uma organização das populações afetadas.

A presença “do Estado por excesso” na região, seja através de membros do Governo ou através do Presidente da República, permite também que seja o Estado a definir a narrativa.

Depois das primeiras semanas com uma forte presença de jornalistas no terreno, a narrativa, na sua perspetiva, vai ficar cada vez mais circunscrita ao “institucional e governamental”, não entrando no espaço público a narrativa das populações afetadas, vincou.

“São tudo lições da ponte de Entre-os-Rios [onde morreram 59 pessoas]. O Estado aprendeu com Entre-os-Rios que não pode deixar que a narrativa seja definida pelos outros”, notou.

O investigador recordou também o caso recente do incêndio na torre Grenfell, em Londres, onde morreram pelo menos 80 pessoas, em que os moradores “imediatamente se organizaram e o poder político tem sido obrigado a responder”.

No entanto, no caso dos concelhos de Castanheira de Pera, Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, por ser um território mais vasto, “muito heterogéneo” – com várias casas de segunda habitação – poderá tornar-se difícil a criação de uma associação de vítimas, algo pouco usual em Portugal e que tem como um dos poucos exemplos o caso de Entre-os-Rios.

O investigador, que já esteve no terreno, afirmou também à agência Lusa que vai avançar com um projeto de investigação participativo, com base em voluntariado de investigadores do Centro de Estudos Sociais, em torno das causas e das necessidades de reconstrução das comunidades.

O projeto, que deve arrancar em setembro, pretende ser feito com a participação das populações afetadas, tendo em conta os seus conhecimentos “da floresta, do ordenamento, das necessidades, da relação com entidades”.

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