Política

Presidente da Associação das Assembleias Municipais antevê as “eleições mais difíceis” dos últimos anos

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 18-06-2021

As próximas eleições autárquicas serão as “mais difíceis” dos últimos anos para os políticos, que estão a ser “culpados de tudo” a nível local, argumenta o presidente da Associação Nacional das Assembleias Municipais (ANAM), Albino Almeida.

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Em entrevista à agência Lusa, o também presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia há dois mandatos consecutivos, independente eleito nas listas do PS, acrescenta à “narrativa” que culpa os políticos a “desinformação” nas redes sociais, onde é possível “mentir sem que haja edição” e sem que os destinatários saibam qual a origem da informação, faltando-lhes espírito crítico para discernir entre o que é verdade e o que não é.

“Vamos ter as eleições mais difíceis que eu antevejo a nível autárquico. Não vamos ser culpados do vírus [que provoca a covid-19], porque ninguém nos fará essa maldade. Mas, para além do vírus, de tudo vamos ser culpados”, afirma Albino Almeida.

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O presidente da associação fundada em 2016 e estabelecida formalmente em 2018 – que representa atualmente cerca de 200 das 308 assembleias municipais do país – alega que a culpabilização dos políticos “já se está a sentir no território”, por relatos que lhe têm chegado oriundos “do povo”.

“O que falhou na luta à pandemia não exime partidos. Quem esteve lá e quem não esteve foi igual. Quem esteve pecou por omissão ou por erro, mas quem não esteve pecou por omissão ou por ninguém ter ouvido nada. Pela primeira vez, este é o patamar onde os nossos cidadãos estão a olhar para as eleições municipais”, avisa.

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No terreno, os autarcas “que foram quem mais fez para ajudar localmente” na pandemia de covid-19, estão a ser confrontados com pessoas que perderam o emprego ou que passaram por carências várias, para quem os políticos “são todos iguais”, refere Albino Almeida.

Esta narrativa, nota, é ampliada nas redes sociais, onde se desconhece quem edita e divulga determinada informação, muitas vezes falsa, a exemplo do “aproveitamento exímio” com recurso a ferramentas tecnológicas feito por “forças radicais” nas eleições dos EUA.

“E vemos a Europa a correr atrás do prejuízo, contra as ‘fake news’ e as mentiras. Somos confrontados com isso todos os dias. E há o velho princípio em que se sai a mancha, fica a nódoa”, ilustra.

Albino Almeida – que durante cerca de uma década presidiu à Confederação Nacional das Associações de Pais – refere que o antídoto contra a desinformação está na capacidade crítica dos utilizadores das redes sociais, mas “as escolas não ensinaram os alunos a pensar”.

“Temos a geração mais bem informada dos últimos anos a engolir tudo o que as redes sociais lhe dão. Porque não tem espírito critico, não pergunta”, sustenta.

Apesar da avaliação, no dia-a-dia ou nas redes sociais, que as pessoas possam fazer do desempenho dos políticos, na ANAM e na presidência da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia “não mora ninguém com remorsos”.

“O que sinto muitas vezes é que os cidadãos criticam aquilo que tenho a certeza que fariam se estivessem no lugar onde nós estamos. Porque a forma como o fazem, a forma desinformada como o dizem, a tentativa que fazem de tornar um mosquito num avião, é bem sintoma de quem não percebe nada do que está a falar. Mas fala, tem esse direito”, enfatiza Albino Almeida.

Sobre a forma com a população perceciona a corrupção, o presidente da ANAM defende que as pessoas “não percebem que a desonestidade vai na proposta” e que, no seu entender, o fenómeno corruptivo “é mais um problema de mentalidade do que de corrupção real”.

“Quando estamos em lugares públicos, fartamo-nos de receber cunhas e pedidos para tudo e mais um par de botas. A corrupção nunca nasce no político, nasce na capacidade de aceitar tudo sem por um filtro. Se não põe um filtro está tramado, quando der por ele está metido em alguma coisa que não devia”, sublinha Albino Almeida.

Por outro lado, a perceção de que todos os políticos são corruptos, muito em voga nas redes sociais, “existe assim porque não é debatida”, resultando, como sucedeu há quatro anos em Gaia, antes das eleições autárquicas, em queixas judiciais, “algumas verdadeiramente inacreditáveis”.

“Foram todas arquivadas por falta de provas. Bastava ter um pouco de senso ou trabalhar, o sucesso está antes do trabalho nas redes sociais e, na verdade, ele só está antes do trabalho no dicionário”, ironiza Albino Almeida.

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