Será que a propensão para ficar viciado em canábis está no ADN? Um novo estudo da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) sugere que sim.
De acordo com a investigação, publicada esta segunda-feira na revista Molecular Psychiatry, determinadas regiões do genoma humano estão associadas ao consumo e à dependência de canábis.
Os investigadores analisaram dados genéticos e comportamentais de 132 mil pessoas, procurando compreender porque é que quase 30% das pessoas que experimentam canábis acabam por desenvolver um transtorno de uso da substância.
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O estudo identificou dois genes principais ligados ao consumo de canábis ao longo da vida:
- CADM2 (Molécula de Adesão Celular 2) — já antes associado a traços de personalidade impulsiva, obesidade e até metástase do cancro;
- GRM3 (Recetor Metabotrópico do Glutamato 3) — ligado a doenças mentais como esquizofrenia e perturbação bipolar.
Além destes, a equipa identificou mais 40 genes relacionados com o consumo de canábis e quatro genes específicos ligados à frequência do consumo.
A autora sénior do estudo, Sandra Sanchez-Roige, explicou à revista New Atlas que os resultados mostram “uma forte ligação entre a genética do consumo de canábis e outros traços psiquiátricos, medidas cognitivas e até condições físicas”.
Segundo a investigadora, compreender estas ligações genéticas pode, no futuro, ajudar a identificar pessoas com maior risco de desenvolver dependência — permitindo uma intervenção mais precoce.
Os cientistas sublinham que ter estes genes não significa estar condenado à dependência. O comportamento humano resulta da combinação entre genética, ambiente e escolhas individuais.
Ainda assim, os resultados reforçam a ideia de que a predisposição para o consumo e vício de canábis pode estar biologicamente inscrita no nosso ADN — um avanço importante para a psiquiatria e para a prevenção de comportamentos aditivos.
Em suma: o vício pode não ser apenas uma questão de vontade — parte dele pode estar, literalmente, escrita nos nossos genes.
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