Portugal

Miscigenação é ponto positivo da relação de Portugal com antigas colónias

Notícias de Coimbra | 2 semanas atrás em 19-04-2024

Imagem: https://depositphotos.com/pt/

O professor universitário e investigador Fernando Jorge Cardoso considera que a relação pessoal estabelecida por Portugal com as suas antigas colónias resultou, entre outros aspetos, na miscigenação, no cruzamento de pessoas de etnias diferentes.

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“Houve uma experiência histórica e, não falando de colonialismo mas sobretudo de epopeia – porque foi uma epopeia da expansão marítima portuguesa ao longo de África e para a América do Sul e também para a Índia -, o que aconteceu foi que parte dos portugueses ficaram e, ao ficarem, criaram uma relação pessoal com as pessoas da terra. E essa relação pessoal levou àquilo que nós chamamos os mulatos”, afirmou à agência Lusa.

“Obviamente, os mulatos não são unicamente consequência da expansão marítima portuguesa”, frisou, destacando que historicamente existiram antes, mas no caso português “esta cultura mulata entre as pessoas levou a laços de afetividade”.

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Para Fernando Jorge Cardoso, a expansão marítima, particularmente ao longo da costa, criou um conjunto de laços afetivos e de relações que se concretizam sobretudo no caso das colónias portuguesas do Atlântico.

Do lado do Índico, Moçambique, por exemplo, “este tipo de sentimento é muito menos sentido do que do lado Atlântico.

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“Há uma parte positiva em tudo isto, que vem do sofrimento, que vem da exploração, que vem de coisas que têm a ver com a nossa construção como seres humanos”, vinca.

O investigador considera que esta é uma parte positiva que vem da História, “independentemente das coisas más que a história traz consigo”.

“E isso reflete-se no facto de, em termos concretos, quando olhamos para uma cidade como Lisboa e verificamos que há uma quantidade imensa de pessoas (do lado Atlântico) do Brasil, Angola, Cabo Verde, que quando pensam em fazer compras, passar férias ou visitar alguém que conheceram, pensam em Portugal. Portanto, há aqui uma relação criada que se mantém e que tem reflexos numa maior facilidade de comércio, de contactos”, adiantou.

O segundo ponto positivo evidenciado por Fernando Jorge Cardoso das relações das antigas colónias com Portugal passa pela língua.

“A língua é uma questão absolutamente fundamental que deriva de tudo isto e de facto as pessoas, quando falam português e se encontram em terceiros países, reforçam essa ligação. Isso de facto cria uma relação que é importante e existe, é visível e continua a existir, independentemente das políticas estúpidas que os governos de Portugal, de Moçambique, de Angola, de São Tomé e Príncipe, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde possam ter”, vincou.

Crítico da vertente económica e empresarial que se quer atribuir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Fernando Jorge Cardoso defendeu que a organização criada em 1996 “não faz o mínimo sentido sob o ponto de vista económico”.

Defensor dos princípios que levaram à criação da CPLP, “e que não são a parte económica”, Fernando Jorge Cardoso concluiu que insistir nessa dimensão “é lançar expectativas que não são cumpríveis e depois só dão frustrações”.

“A CPLP tem todo o sentido do ponto de vista político e do ponto de vista cultural e do ponto de vista linguístico neste mundo em que nós estamos. A CPLP não serve para nada se pensarmos como entidade económica. Agora serve se passarmos a pensar como entidade de relacionamento cultural, pessoal, linguístico e mesmo diplomático. E aí faz sentido”, sustentou.

Porque, sustentou, “esta tentativa de puxar a CPLP para as relações comerciais, para as relações económicas, é absolutamente ficção. A única relação económica que estes países têm é através de Portugal”, disse.

Fernando Jorge Cardoso considerou que a CPLP não é prioridade para, por exemplo, o Brasil.

“Mesmo a prioridade para Portugal é a Europa, como a prioridade para Angola são as relações com os Estados Unidos, porque Angola não tem relações regionais. Angola não tem comércio com os seus vizinhos sequer. Não há”, referiu.

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