Coimbra

José Reis: o “doutor” que nunca negou um prato de sopa aos estudantes

António Alves | 7 meses atrás em 15-10-2023

José Reis serviu à mesa nomes como Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Alberto João Jardim e, mais recentemente, os presidentes e dirigentes da Associação Académica de Coimbra.

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O seu nome está, desde muito novo, ligado à história da academia conimbricense. Primeiro, como funcionário e sócio do Cova Funda e depois no restaurante a que deu o nome de “Cantinho dos Reis”.

Natural de Portunhos, concelho de Cantanhede, “Zé Reis” fugiu da sua terra aos 12 anos. Numa das viagens do “senhor Peres” – comerciante do Terreiro da Erva – para comprar vinho ao seu pai, decidiu esconder-se atrás de uma pipa de vinha e, dessa forma, “procurar uma nova vida” em Coimbra.

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A aceitação, por parte do pai, desta decisão e o facto do “senhor Peres” o ter contratado para trabalhar com ele foram fundamentais para o sucesso desta história. A forma árdua com que trabalhou neste comerciante levou a que um dos proprietários do Cova Funda, Benito, o tivesse convidado para trabalhar neste restaurante.

“Entrei com 14 anos e saí de lá com 50”, afirmou José Reis, que ainda chegou a ser um dos sócios deste estabelecimento. Foi aqui que o empresário teve “a felicidade de conhecer estudantes muito bons, de grande categoria e de grande inteligência”.

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A lista de amigos é extensa, mas na entrevista ao Notícias de Coimbra José Reis recorda nomes como “Adriano Rodrigues, professor da universidade e médico” e Pedro Ribeiro, “de Leiria, que eu conheci quando tinha 17 anos e que é o meu médico”. “Há um amigo que não consigo esquecer, professor Poiares Batista, que quando eu tinha 17 anos me levou para o hospital para ser operado”, afirma.

Fruto do bom serviço que prestou, primeiro, no Cova Funda e, agora, no Cantinho dos Reis foi ganhando cada vez mais amigos. António Maló de Abreu, Luís Parreirão, Emídio Guerreiro e Tiago Magalhães são alguns dos nomes de presidentes dos anos 70 e 80 do século passado que passaram por este restaurante e que não dispensam o reencontro com o empresário da restauração.

Ainda recentemente o “Cantinho dos Reis” recebeu um almoço de confraternização de antigos presidentes e dirigentes da Direção-Geral da AAC. Miguel Portugal, André Oliveira e Ricardo Morgado foram alguns dos nomes que marcaram presença.

Basta olhar para as paredes do piso térreo do restaurante – que tem outras salas para servir refeições no piso 1 – para perceber que uma boa parte pertence a antigos dirigentes da AAC. Quase sem espaço para mais retratos, a parede está forrada de imagens, entre outros antigos presidentes, e que foram tiradas mesmo em períodos posteriores à sua liderança.

Mas estas “paredes da fama” também têm nomes como António Costa, Rui Rio, Rui Nabeiro, Paulo Futre, Cavaco Silva, Nuno Melo, Paulo Portas e Jerónimo de Sousa. “Faltam aqui algumas fotos, muitas delas importantes. Tenho de dar uma volta a esta parede”, disse.

Carregue na galeria e conheça algumas das imagens das paredes no piso térreo

No piso 0, há mesmo uma zona onde se encontram muitos dos amigos do restaurante que já faleceram, como por exemplo o empresário e antigo presidente da Académica, Jorge Anjinho; o médico Agostinho Almeida Santos; o jornalista João Mesquita e o ex-presidente da AAC, Cesário Silva.

Aliás, uma das particularidades de José Reis é a forma como consegue reunir à mesma mesa personalidades muito diferentes. O padre António Jesus Ramos, os ex-presidentes da câmara de Coimbra Manuel Machado e Carlos Encarnação, bem como o atual presidente José Manuel Silva, são presenças habituais neste espaço.

Ainda recentemente foi surpreendido na esplanada do seu restaurante pelos pais de uma antiga estudante que lhe pediram para tirar uma selfie. Depois de conhecer a história, confessou que quase chorou porque sentiu “felicidade naquilo que esta antiga estudante viveu em Coimbra, tendo sempre falado bem da nossa casa aos pais”.

“Quando vêm ao Cantinho dos Reis fazer umas jantaradas, eles sentem como se estivessem na sua própria casa. Nós tentamos tratá-los com toda a paciência do mundo”, frisou. José Reis referiu que os tempos de agora são diferentes do que acontecia há 35, 40 anos.

Nessa altura, as mesadas não davam para grandes extravagâncias e, como tal, houve vezes em que os estudantes chegavam ao seu restaurante com o dinheiro contado ou, noutros casos, não chegava para pagar a refeição pretendida.

Para todos, a resposta foi sempre positiva e, como forma de agradecimento, vinham depois ao restaurante pagar o que faltava. “Nunca nenhum deles me ficou a dever dinheiro”, garantiu.

Na academia, e principalmente nas tomadas de posse dos presidentes da Associação Académica de Coimbra, passou a ser “obrigatória” a presença de José Reis. Sobre o ano em que esta “tradição” teve início, o empresário de restauração não se recorda.

O que se lembra é que, desde a primeira presença, leva sempre uma prenda para o presidente que sai e outra para o novo responsável: “um queijinho e uma garrafa de vinho”. Este gesto surpreendeu inicialmente os dirigentes, mas desde então passou a ser tradição.

E até houve um reitor que lhe perguntou se também não havia uma oferta para ele. “Saí da sala e lá fui buscar um queijo e uma garrafa de vinho para lhe oferecer. Quando cheguei, ele já estava a discursar e, para o surpreender, coloquei a oferta junto às suas pernas”, recordou.

Com 79 anos, José Reis referiu que é “carinhosamente” chamado de avô por muitos dos estudantes que estiveram em Coimbra. Essa referência deixa-o muito orgulhoso, mostrando-se esperançado em que o genro Sérgio Girão – que já trabalha com ele há muitos anos – prossiga este trabalho.

“Atualmente, já é ele que faz as marcações (dos estudantes) e que está à frente do restaurante. Acredito que, se continuar desta forma, continuará a ter muito sucesso junto da academia e dos restantes clientes”, concluiu.

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