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Fernando Santos ganhou 30 milhões numa empresa de Cantanhede que tem um “buraco” de 51 milhões

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 meses atrás em 06-02-2024

A empresa de brindes promocionais Paul Stricker S. A., com sede em Cantanhede, avançou com um processo especial de revitalização (PER) face a uma dívida de 51 milhões de euros, mas o grupo sublinhou que está longe de uma situação de insolvência. Recorde-se que, em 2022, o antigo seleccionador nacional de futebol, Fernando Santos, vendeu as ações que tinha nesta empresa sediada no Parque Industrial de Murtede pelo valor de 30 milhões de euros.

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A lista provisória de credores da Paul Stricker S. A., publicada em 22 de janeiro no âmbito do PER na plataforma Citius e consultada pela agência Lusa, faz referência a um total de cerca de 51 milhões de euros de dívida reconhecida, a maioria a entidades bancárias.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da empresa de brindes esclareceu que não se trata de um PER “tradicional”, mas um simplificado, tendo entrado em tribunal com um acordo “já estabelecido e aprovado pela maioria” dos credores da Stricker.

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“O que está em causa é apenas a alteração de prazos e taxas. Este acordo não envolve nem tem qualquer impacto nos colaboradores, Estado e fornecedores, mantendo-se com os mesmos uma atividade normalizada”, salientou, referindo que a empresa nunca teve “qualquer dívida a colaboradores e Estado”.

Grande parte do capital reclamado (cerca de 40 milhões de euros) é dívida bancária e o PER surge da necessidade de recorrer à “renegociação” dessas mesmas dívidas, “após dois anos de resultados menos positivos, no seguimento de um difícil ano de 2020, devido à pandemia covid-19”, esclareceu.

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Apesar de a empresa ter registado um crescimento após a pandemia, a rentabilidade “estacionou em valores insuficientes, o que acabou por causar um desequilíbrio financeiro e colocar em causa a capacidade da Stricker em continuar a contar com o ‘revolving’ [crédito renovável] natural das suas linhas de financiamento, crítico para manter o nível de fundo de maneio necessário à sua normal atividade, em especial o nível de inventário”.

A empresa de Cantanhede sublinhou que o volume de dívida, “em termos absolutos, não é problemático, principalmente à luz da rentabilidade da Stricker nos anos pré-covid”, apesar de a relação entre dívida e rentabilidade ter-se tornado “um problema a partir de 2020”.

Para a Stricker, “o pior já passou”, tendo sido implementado em 2023 um plano “bem-sucedido de redução e controlo de custos”.

Segundo fonte oficial da empresa, a Stricker “está longe de uma situação de insolvência” e tem um plano desenhado até 2025 para voltar “a rácios financeiros saudáveis”.

Questionada pela agência Lusa sobre se o atual PER irá levar a despedimentos de funcionários, a empresa referiu que “os ajustamentos necessários já foram realizados no início de 2023”, com o reajuste da dimensão de “algumas equipas” e a redução da dependência de serviços externos.

“Neste momento, estamos, inclusivamente, com alguns processos de recrutamento em aberto e a expectativa é a de crescimento da equipa, ainda que moderado, ao longo de 2024”, frisou.

Na resposta à Lusa, a Stricker vincou que “está hoje com menos dívida, mais ‘stock’ e mais rentável do que há um ano”, aclarando que eliminou “desperdícios e ineficiências – comuns em empresas que crescem com a velocidade que a Stricker registou na última década” – e reviu “processos e procedimentos”.

Recorde-se que Fernando Santos, ex-seleccionador nacional de futebol, entrou para a empresa de artigos promocionais, que tem presença em 92 países e base de gestão e operações em Murtede, em janeiro de 2014. Na altura, segundo documentos oficiais consultados pelo Notícias de Coimbra, foi feito um aumento de capital de 176500 euros, passando o capital social para 1.176.500,00.

O selecionador foi nomeado vogal do Conselho de Administração da Paul Stricker sem funções executivas. A quota foi vendida, em abril de 2022 por 30 milhões de euros, segundo o jornal Correio da Manhã (CM) que cita o próprio Fernando Santos, ouvido no Centro de Arbitragem Administrativa (Caad), no âmbito do processo tributário em que o Fisco exige o pagamento de 4,5 milhões de euros em impostos.

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