Desporto

Diogo Valente: “Isto não podia acontecer a um clube como a Académica”

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 16-04-2022

A despromoção inédita da Académica da II Liga de futebol, hoje confirmada, é algo que “não podia acontecer”, declara à Lusa Diogo Valente, um antigo ‘herói’ da ‘Briosa’, que viveu em Coimbra “o momento mais alto da carreira”.

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“É triste ver um clube daquela dimensão, com aquelas condições, numa cidade como é Coimbra… é triste. É estranho, é estranho. […] Isto não podia acontecer a um clube como a Académica”, lamenta, em entrevista à Lusa.

Agora no Salgueiros, outro ‘gigante’ que caiu para fora dos campeonatos profissionais, a que procura voltar há anos, o extremo de 37 anos tem dificuldade em encontrar explicações para o que aconteceu à Briosa, cuja descida foi hoje confirmada com um empate diante do Penafiel.

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“A cidade e as pessoas afastaram-se muito. É verdade que os estudantes deixaram de acompanhar, claro que se atravessaram momentos difíceis a nível financeiro, mas não é justificação para chegar a este ponto”, considera.

Quatro golos em 36 jogos impressionaram Coimbra e, depois da época inaugural de 2010/11, ficou para mais um ano, que viria a ser histórico para o clube, ao acabar com a conquista da Taça de Portugal frente ao Sporting.

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Ao minuto 64 desse jogo, no Jamor, Diogo Valente cruzou, da esquerda, para encontrar a cabeça de Marinho, autor do único tento do encontro.

“É um momento marcante. Foi o momento mais alto da minha carreira, ganhar uma Taça pela Académica, contra um grande do futebol português, e também pela envolvência que houve naquele estádio, a quantidade de pessoas no Jamor. Depois, na chegada a Coimbra, encheram as ruas de gente”, recorda o extremo.

Aí, o plantel comentava entre si: “Onde andam estas pessoas noutras épocas?”. Isto porque “em momentos de festa estão, mas quando o clube mais precisa…”.

Aquele “ambiente de clube grande” fez-se sentir após a conquista da prova ‘rainha’ do futebol português, mas “porque é que não apoiam jornada a jornada?”

“A Académica podia ser mais forte se as pessoas fossem ao estádio e apoiassem”, comenta.

O antigo jogador de Boavista, FC Porto, Sporting de Braga e Leixões, entre outros clubes, acabou por ter duas passagens pela Briosa ao longo dos anos, e ficou perto de um número redondo: foram 99 jogos, com nove golos marcados, em 2010/11, 2011/12 e depois 2013/14.

“[Quando fui para a Académica] encontrei um clube que até hoje me marcou muito. No final dessa época, a minha vontade foi continuar mais um ano precisamente pelo carinho e ambiente naquele clube. As pessoas recebem muito bem, há um ambiente muito bom. […] Tivemos esse momento histórico, em que a cidade se uniu, com muita esperança e um acreditar muito grande”, conta.

Esse ano, e essa conquista, acabam por surgir em cada ‘curva’ da conversa, já que foi o último grande ‘grito’ de um dos históricos do futebol português, mas também por se sentir “que a cidade estava com o clube”.

A descida ‘assusta’, porque não se sabe “o que vai acontecer. “Um clube daqueles cair numa realidade de Liga 3, será que vai voltar a reerguer-se? Não sei. São momentos de muita incerteza e julgo que assustam”, assume.

A Liga 3 e o Campeonato de Portugal estão ‘pejados’ de históricos que procuram voltar à ribalta, e Diogo Valente passou os últimos anos em dois deles: no Sporting de Espinho, entre 2019 e 2021, e esta época no Salgueiros.

“Esses clubes não caíram pela garra desta gente e pela gente que é. A Académica já não tem este bairrismo. Isso é o que me assusta mais. Nestes clubes, realmente, vive-se muito [o emblema], e foi esse bairrismo, essa gente, esse amor ao clube, que não deixou estes clubes cair”, refere.

Apesar da Mancha Negra, uma “claque que apoia o clube”, a falta de uma massa ligada à equipa como em Espinho e no ‘nomadismo’ do Salgueiros, ‘órfão’ do Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro, pode dificultar um reencontro com o clube.

“A Académica e a cidade têm de voltar a unir-se, as pessoas têm de voltar a acreditar no clube. Só assim podem devolvê-la ao patamar dos últimos anos”, refere.

De resto, também Diogo Valente pode estar a caminho da Liga 3, mas em sentido inverso: o Salgueiros, com um plantel que combina juventude com ‘craques’ com experiência de I Liga, disputa a fase de subida do Campeonato de Portugal.

A histórica Académica, vice-campeã nacional em 1966/67, na melhor das suas 64 presenças na I Liga, caiu hoje, pela primeira vez na sua história, para o terceiro escalão do futebol português.

Os ‘estudantes’ jogarão a Liga 3 em 2022/23, depois de 88 épocas consecutivas, desde 1934/35, entre a primeira e a segunda divisões do futebol luso, num trajeto que até hoje contava com sete descidas e 24 presenças na divisão secundária.

Esta é a oitava descida da história da Académica, depois de sete do primeiro para o segundo escalão, em 1947/48, 1971/72, 1978/79, 1980/81, 1987/88, 1998/99 e 2015/16.

A histórica vitória na edição 2011/12 da Taça de Portugal, na final do Jamor, reeditou o triunfo da edição inaugural (4-3 ao Benfica, em 1938/39), e deu acesso a uma participação na fase de grupos da Liga Europa, em 2012/13, e a uma vitória também histórica em Coimbra, ante o Atlético de Madrid (2-0).

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