Coimbra

De costas voltadas

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 02-10-2020

As recentes notícias da ausência de qualquer referência à Universidade de Coimbra na Visão Estratégica 2030 da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) são reveladoras da ausência de uma estratégia integrada de desenvolvimento para a cidade e para a região, que seja congregadora das dimensões do setor público e privado, do território, do investimento e conhecimento.

PUBLICIDADE

É também mais uma derrota para Coimbra que vê, ano após ano, a sua esfera de influência social e económica diminuírem. Este Plano demonstra assim duas falhas graves: uma incapacidade da CCDR de diagnosticar as instituições fundamentais ao desenvolvimento regional e de as integrar no planeamento regional e também, é preciso dizê-lo, uma enorme ingratidão à Universidade de Coimbra pelo papel que tem tido na formação de quadros qualificados, na investigação e desenvolvimento e na criação de emprego qualificado.

PUBLICIDADE

Em políticas públicas, planear, legislar, decidir e avaliar são exercícios complexos, difíceis que requerem por um lado conhecimento técnico e profundidade sobre o objeto e por outro a capacidade de selecionar, de optar, que resulta numa escolha – normalmente política. 

Tanto agora como no passado, o discurso político e a atividade pública sempre atribuíram e reconheceram a centralidade e importância do papel das universidades no desenvolvimento local, regional e nacional. As universidades e politécnicos enquanto polos de criação e interseção dos saberes produzem e transferem conhecimento para as diversas áreas da sociedade, das ciências exatas às humanidades, da saúde às artes, promovendo investigação e desenvolvimento que se consubstancia, depois, na inovação. É, pois, difícil de compreender como é que um documento estratégico de planeamento que elenca prioridades para uma década não contempla claramente o papel dinamizador que a UC imprime na cidade e na região.

PUBLICIDADE

publicidade

Percorrendo o documento da CCDRC, encontramos referências à Universidade da Beira Interior, à Universidade de Aveiro e aos Institutos  Politécnicos da Guarda, Castelo Branco, Leiria e Tomar. Todas estas instituições de ensino superior mereceram destaque na Visão Estratégica para 2030 pelo papel a desempenhar na região. E a UC? A UC não desempenhará um papel na região neste plano a 10 anos? Que Coordenação e Desenvolvimento esperar de uma Comissão para a Coordenação e Desenvolvimento que ignora a maior instituição de ensino superior da sua própria Região?

Os objetivos de longo-prazo para Portugal e União Europeia, e a base da recuperação económica da crise provocada pela pandemia da COVID-19, passam pela digitalização e pelo ambiente, e assentam numa economia do conhecimento. Não incluir as universidades e politécnicos na reflexão e conceção de visões estratégicas para um planeamento de uma década de desenvolvimento, revela um pensamento francamente redutor do potencial das instituições da região. 

Na verdade, mais grave que este esquecimento por parte da CCDRC, tão só o silêncio político da autarquia e a sua relevância cada vez menor, primeiro no país e agora até na região. Não é possível o poder político, as instituições democráticas e sociedade civil continuarem a pensar o país e a região de costas voltadas. 

Opinião de Lídia Pereira

Eurodeputada

Related Images:

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE