Coimbra

Café Santa Cruz em Coimbra celebra 100 anos de existência com dois dias de atividades

Notícias de Coimbra com Lusa | 12 meses atrás em 04-05-2023

O café Santa Cruz, em Coimbra, celebra na segunda-feira 100 anos de existência, e apesar de ser muito frequentado, hoje em dia, por turistas mantém o firme objetivo de continuar a ser um espaço da Baixa e da cidade.

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Foi o café dos futricas, onde os dirigentes do União de Coimbra se reuniam, em contraposição com o Arcádia, ligado aos adeptos da Académica (os estudantes chegaram a ser proibidos de entrar de capa e batina no Santa Cruz), espaço de tertúlias, de reunião de antifascistas durante o Estado Novo, de jantares reservados numa das suas salas escondidas, e mais recentemente aberto a eventos culturais, como apresentações de livros ou concertos de fado de Coimbra, sendo também ponto de passagem quase obrigatório dos turistas que passeiam pela Baixa.

“Tenho muita estima a este café. Tenho passado bons e maus momentos e tenho feito muito boas amizades por aqui”, conta António Costa, empregado do Santa Cruz desde 1988 e que foi colecionando amizades entre os clientes que por lá passam todos os dias.

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Face à história do espaço, a antiga Igreja de São João, que fazia parte do Mosteiro de Santa Cruz e que foi desde uma funerária a uma estação de bombeiros, antes de ser um café, António Costa foi também procurando saber mais sobre o espaço para responder às perguntas dos clientes mais curiosos, explicou o funcionário, durante a conferência de imprensa que se realizou hoje sobre as comemorações do centenário.

Mas António Costa guarda as histórias, admitindo alguma inibição, que não é muito dado a conferências de imprensa, e passa a palavra ao cliente de longa data do café, Inácio Nogueira.

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O autor do livro “Santa Cruz: Um Café com História” realça a diversidade dos clientes que foram passando por aquele espaço, que foi também, em tempos, “um restaurante de elite com ementas fantásticas”, aproveitando a estrada nacional, que passava junto a Santa Cruz.

Durante muitos anos, conta, que ia todos os dias a pé para o Santa Cruz, entrava por volta das 10:00, e deliciava-se com “um barulho de solidão boa”.

“’Sai uma bica’ e logo a seguir o barulho da máquina, depois o bruaá das conversas, a luta tremenda para se apanhar os jornais locais… É um lugar irrepetível”, recorda Inácio Nogueira, autor de vários livros, quatro deles escritos numa das várias mesas de tampo hexagonal do interior do café, que diz estar eternamente agradecido aos vitrais da fachada do Santa Cruz, que o ajudaram a terminar frases ou a “engendrar capítulos”.

O café abriu a 08 de maio de 1923, (data escolhida face à sua morada, Praça 8 de Maio), num projeto impulsionado por Adriano Ferreira da Cunha, Adriano Viegas Lucas e Mário Pais.

Em 1975, a cozinha é encerrada e foca-se no serviço de cafetaria, e em 2001 são realizadas profundas obras de conservação do espaço classificado como Monumento Nacional dois anos antes de abrir (1921).

No domingo e na segunda-feira, o café vai celebrar os 100 anos de existência, com um programa que contará com uma arruada, no dia 07, da Filarmónica de Taveiro, entre o largo da Portagem e a Praça 08 de Maio, concertos, a entrega do certificado da integração do Santa Cruz num roteiro internacional de cafés históricos, o lançamento de um selo postal dos CTT alusivo ao Santa Cruz, exposição de pinturas do café e da envolvente por oito artistas, e a apresentação de um projeto que pretende manter viva a tradição das tertúlias naquele espaço.

À agência Lusa, um dos gerentes, Vítor Marques, afirma que, apesar de os clientes terem mudado, “muito ao longo dos últimos anos”, motivado pelo crescimento da cidade, o espaço continua a querer ser um ponto de encontro para os conimbricenses.

“Naturalmente que os turistas são, nesta época, os nossos principais clientes, mas não temos apenas turistas”, notou, sublinhando que o Santa Cruz “é um café da Baixa, de Coimbra, da região”.

Para Vítor Marques, o objetivo é continuar de portas abertas à cidade e ser espaço sempre pronto a acolher iniciativas.

“Se fecharmos o acesso ao café por parte das pessoas da nossa cidade, eu nem sei se depois pertenceríamos à cidade”, vincou.

Para o futuro, o responsável do café pretende assegurar “o registo das memórias dos que frequentam este espaço antes que elas desapareçam”.

“Queremos que sejam perpetuadas para os próximos 100 anos”, disse.

O programa das comemorações do centenário pode ser consultado em cafesantacruz.com.

Veja o vídeo do NDC:

 
Veja o vídeo do NDC:

 

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