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Brasil no meio de uma tempestade perfeita de dengue deve registar recorde de mortes em 2024

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 mês atrás em 31-03-2024

Imagem: Depositphotos.com

Com 830 óbitos por dengue confirmados nos três primeiros meses do ano, o Brasil experimenta uma tempestade perfeita e as mortes provocadas pela doença devem atingir um novo recorde histórico, avaliou Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infetologia (SBI).

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Numa entrevista à Lusa, o infetologista projetou que o país sul-americano vai superar 2 mil mortes por dengue em 2024, quase o dobro do registado no ano passado (1.094), quando as mortes provocadas pela doença atingiram o recorde da série histórica iniciada em 2000 pelo Ministério da Saúde brasileiro.

Além dos 830 óbitos já confirmados devido à doença este ano no país, há atualmente outros 1.269 casos suspeitos em investigação, de acordo com dados do painel de monitorização das arboviroses do Ministério da Saúde brasileiro.

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Chebabo explicou que a dengue é um problema antigo, chegou a ser erradicada no meio do século passado no Brasil, mas o clima tropical (quente e húmido em várias regiões) associado à urbanização desorganizada das cidades, com muitas habitações precárias e graves problemas de saneamento básico, facilitaram a reintrodução da doença e a proliferação do seu vetor, o mosquito Aedes aegypti, a partir da década de 1980.

“Houve uma expansão [da dengue] pelo país, foi acontecendo gradativamente nesse século em todas as regiões. Além disso, houve a introdução de alguns vírus, sorotipos da dengue, que não circulavam há algum tempo e voltaram a circular como o sorotipo quatro (…) que voltou a circular no início desse século levando a surtos frequentes”, disse o presidente da SBI.

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Questionado sobre a alta proliferação da dengue nos três primeiros meses do ano, que já atingiu 2,3 milhões de casos prováveis segundo estatísticas do Governo brasileiro, Chebabo afirmou não estar surpreendido, porque ele e outros especialistas já previam que isso poderia acontecer.

“Há mais de um ano estamos alertando que, dependendo das condições climáticas, teríamos um registo recorde de número de casos e de mortes no Brasil. E realmente é uma tempestade perfeita o que está acontecendo agora”, pontuou.

Chebabo lembrou também que, nos últimos anos, as políticas de saúde concentraram-se no combate à pandemia da covid-19, que, além de exigir políticas de saúde e recursos, também provocou o isolamento social, o que impediu que as autoridades fossem chamadas para controlar focos de Aedes aegypti, por exemplo, nas casas, prejudicando o enfrentamento do problema.

Além disso, o Brasil registou, já no ano passado, um número muito grande de casos e mortes fora da época de sazonalidade da doença. Normalmente a dengue circula com força nos meses quentes e chuvosos, ou seja, entre novembro a abril, porque o mosquito necessita de temperaturas altas e água para se reproduzir.

“O inverno passado não foi rigoroso, foi um inverno com temperaturas mais elevadas, que favorecem a replicação do mosquito (…) Já esperávamos que se esse verão, como se planeava, como se projetava, fosse um verão muito quente e chuvoso, por causa da questão climática, e teríamos um grande número de casos [de dengue] porque partimos de um patamar acima do esperado no inverno”, avaliou o infetologista.  

“Associado isso ao aumento da área de expansão [da presença do mosquito e da doença], há municípios e estados vivendo o primeiro surto de dengue. Há secretários de saúde nos estados, nos municípios, sem experiência em manusear uma epidemia dessa proporção. Isso também leva a uma condição de atendimento ruim e certamente elevou o número de mortes causadas pela doença”, acrescentou.

Chebabo afirmou que houve uma antecipação da curva de proliferação da doença este ano, com um pico antecipado em cidades como Brasília e Rio de Janeiro, que já estão numa curva de queda. 

O especialista disse ser muito difícil prever o avanço exato da doença devido à grande subnotificação, mas projetou um registo perto de 3 milhões e 3,5 milhões de casos prováveis em 2024.

“Nesse momento de epidemia, o que temos que ter é uma estrutura de atendimento à população para evitar danos maiores, que é a morte do paciente. Tem que ter uma estrutura adequada para atender a população, ao menos a demanda de atendimento dessa população na rede de saúde, que já é uma rede de saúde bastante saturada, para criar condições de atender rapidamente a população e reduzir as mortes porque qualquer morte por dengue é uma morte evitável”, concluiu.

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