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António Arnaut assina prefácio de novo livro de Casimiro Simões

Notícias de Coimbra | 11 anos atrás em 15-10-2013

É já no próximo dia 26, pelas 15:00, na Filarmónica Lousanense, que Casimiro Simões apresenta a última obra da sua “trilogia satírica republicana” .

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A apresentação de “Cornos ao sol – Agonia do carneiro velho na troika de Vale Tudo”, será da responsabilidade do advogado e escritor António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde, que assina o prefácio, e do historiador e professor universitário Amadeu Carvalho Homem.

“Cornos ao sol” encerra uma trilogia satírica que iniciei há quatro anos, para assinalar o centenário da República, com a publicação de “Com as botas do meu pai – Pegadas do poder autárquico na vila de Vale Tudo”, a que se seguiu, em 2010, “Campanha bufa – Porco no espeto na safra de Vale Tudo”.

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Trata-se de uma coleção humorística, com capas e ilustrações do artista lousanense Carlos Alvarinhas, concebida a partir de um olhar crítico sobre o estado da democracia e da República sonhada em 1910 e das perversões do exercício do poder em Portugal, nos seus diferentes patamares de decisão, desde logo ao nível das autarquias.

Notícias de Coimbra teve acesso ao Prefácio de OS CORNOS AO SOL, cujo autor é o conceituado advogado António Arnaut e que aqui se reproduz, com a devida vénia.   

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Este livro encerra uma “trilogia satírica republicana” iniciada em 2009, Com as botas do meu pai, e prosseguida em 2010, com Campanha bufa, sobre o exercício do poder autárquico em Portugal, “cantiga assumida de escárnio e maldizer”, como o autor nos esclarece na nota introdutória do primeiro volume.

Os Cornos ao sol rematam o louvável propósito de prestar “homenagem à República Portuguesa sonhada em 1910, aos seus protagonistas mais íntegros e a todos os que preservaram o ideal republicano nestes cem anos”, como se explica na contra-capa do segundo volume deste tríptico.

Escrita com a tinta áspera da verdade, como convém à ficção – a ficção é o rosto burilado da realidade – a obra tem como espaço físico e humano o município imaginário de Vale Tudo, que é, aliás, o espelho reflector de certas autarquias, embora, felizmente, haja outras que têm resistido ao vírus arrasador do negocismo e da mediocridade.

Vale Tudo, como o nome indica, é, caricaturalmente, uma coutada privilegiada de malfeitorias e nepotismos, onde o cacique local se vai perpetuando “democraticamente”, perante a indiferença de alguns e a conivência de outros, apesar de fustigado por aqueles que não desistem, como o jornalista Casimiro Simões, de reconduzir a República ao seus valores matriciais e a ética à política, que é o seu lugar preferido, como escreveu Hegel.

Todos nós conhecemos os Onófrios Fanfarrões e seus lambe-botas, e os especuladores Batanetes e seus serviçais, que os dois primeiros volumes retratam de forma burlesca e que pairam neste terceiro volume como sombras espectrais. O autor, porém, não esquece a gente séria que ainda resiste às seduções da vaidade, do mando e da pecúnia.

Ao ler este último tomo, que completa a empresa de celebrar o centenário da República, lembrei-me, com a devida diferença de planos, das célebres catilinárias e verrinas de Cícero e das Farpas de Ramalho e Eça, o que mostra como a sátira político-social é tão antiga como o poder, porque os abusos e desvios a que está sujeito lhe são inerentes como as sombras à luz.

Contudo, é preciso não descrer das virtudes da democracia e na sua capacidade de regeneração, de que a liberdade de pensamento e de imprensa é instrumento precioso, porque permite denunciar os atropelos à legalidade e ao bem comum, zurzindo naqueles que se embriagam com o poder e traem a vontade soberana do povo que os elegeu.

Este volume é a pedra de fecho dos anteriores, expressão que me foi sugerida pela nova personagem Pedro Pedra. Os figurões ficaram pelo caminho e só restam três sobreviventes “do ataque fulminante dos mercados”, de que a troika é a mão pesada e desumana.

Os sobreviventes são um burro, um porco e um carneiro, naquele curral “do honrado Joaquim Lua, onde o mato com bostas várias se fazia riqueza nacional”. Estes bichos têm o simbolismo que o leitor lhes quiser dar, à semelhança dos outros Bichos de Miguel Torga.

As bostas representam, metaforicamente, se não me engano, a pureza sobrevivente a tão indecorosas personagens que se movimentam no universo ficcional de Casimiro Simões. Servindo-me das palavras do grande escritor citado, “ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi”. (Diário, 22/1/1936).

Eis aqui um pequeno grande livro que dá gosto ler, porque fala de figuras e figurões nossos conhecidos e expressa uma realidade crua deste tempo insano. Embora reportada ao poder local, a parábola do drama maior do poder central, dominado, em toda a Europa, pelo capitalismo financeiro que vai destruindo, implacavelmente, o Estado de Direito, enquanto o povo não travar a sua voracidade predadora.

Misto de libelo, sátira e fábula, esta trilogia é também – e principalmente – um testemunho construtivo e uma tentativa cívica de regenerar a democracia e a República, denunciando os golpes que lhe têm sido desferidos.

Vale Tudo é a metonímia de um país aviltado, vendido a retalho ao estrangeiro, onde as exceções confirmam a regra, como num céu plúmbeo uma estrela acesa anuncia que a escuridão não é total e que poderá haver um amanhã limpo e redentor. Tenhamos, pois, esperança. A esperança lúcida que desperta a vontade e dá força à ação.

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