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Ambientalistas deixam ilhéu Raso e receiam extinção das cagarras

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 08-06-2021

A organização ambientalista Biosfera Cabo Verde receia que o abandono a partir de 15 de junho dos projetos de conservação no ilhéu Raso, alegando ameaças de pescadores e mergulhadores, possa levar à extinção milhares de cagarras.

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Em entrevista à agência Lusa, o presidente daquela Organização Não-Governamental (ONG), Tommy Melo, explicou que a Biosfera Cabo Verde desenvolvia há mais de 15 anos projetos ambientais neste ilhéu desabitado, de sete quilómetros quadrados, situado a oeste da ilha de São Nicolau, os quais contribuíram para preservar a cagarra, uma ave endémica cujo consumo ilegal ao longo dos anos quase ditou o seu fim.

“A Biosfera iniciou em 2006 naquele ilhéu exatamente para travar a captura ilegal da cagarra, porque eram mortas milhares de cagarras por ano naquele lugar, tendo em conta que o Raso é o maior centro de reprodução desta espécie endémica em Cabo Verde. Obviamente, na ausência da Biosfera poderemos ter a retoma da captura ilegal desta ave”, lamentou o presidente da Biosfera Cabo Verde, com sede na ilha de São Vicente.

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Em causa, explicou, estão as crescentes ameaças a que as equipas daquela associação estão sujeitas por parte de pescadores e mergulhadores que pescam ilegalmente em torno do ilhéu, o que levou à decisão de suspender os projetos de conservação no local.

O responsável acrescentou que são grupos de jovens, oriundos de diferentes ilhas, como Santo Antão, São Nicolau e São Vicente, e “particularmente agressivos, ameaçadores e que não respeitam os recursos, como fazem os pescadores ansiosos por continuar a sua atividade no futuro”.

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“Do jeito que está não há condições para continuar e vamos abandonar o ilhéu no dia 15 de junho. Se as nossas autoridades decidirem intervir e criarem condições de segurança para que a nossa equipa possa continuar a desempenhar as suas funções de pesquisa, seguimento e monitorização das espécies de conservação ativa, ficaremos, porque é para isso que a Biosfera existe”, declarou Tommy Melo à Lusa, assumindo que “nos últimos meses as ameaças aumentaram de tom”.

O responsável garantiu que as queixas e provas apresentadas pela associação às autoridades não surtiram efeito, daí a decisão de sair do ilhéu.

“Fiz queixas às autoridades de todas as formas possíveis, sabemos que as próprias autoridades já notificaram alguns indivíduos que andaram a fazer ameaças. Porém, só notificar não chega, visto que os indivíduos continuam no mesmo local, todos os dias”, lamentou.

Face ao nível das ameaças, Tommy Melo explicou que o fim das atividades no ilhéu é para evitar perdas de ambos os lados: “Não queremos chegar ao ponto em que haja uma rutura e possa haver perdas materiais ou humanas. E não é esse o objetivo da Biosfera”.

Contudo, assumiu que a Biosfera quer continuar a trabalhar na conservação dos ecossistemas, junto com as comunidades, procurando formas alternativas de rendimento que sejam sustentáveis, mas também através da sensibilização ambiental.

Com estes objetivos, Tommy Melo garantiu que as equipas da Biosfera não podem sujeitar-se a este tipo de confronto, como os que acontecem no ilhéu Raso.

“É de salientar que não temos para nós esses indivíduos como inimigos. São sim pessoas a procurar o sustento de forma mais honesta. Porém, essa forma que estão a usar não é a mais adequada, tendo em conta que vai deixar lesões graves no ecossistema marinho de Cabo Verde, nomeadamente das reservas “, acrescentou, sublinhando que estas áreas de reserva natural não deveriam estar a comportar pessoas em atividades deste tipo.

“É com desânimo que decidimos abandonar 16 anos de trabalho para não dar seguimento a estes conflitos, que deveriam ser das autoridades”, frisou.

Esta situação desmotiva a equipa da Biosfera no ilhéu, mas, no entanto, o ambientalista admite que a instituição irá dirigir as suas energias para outros projetos e locais, como na ilha de Santa Luzia (que juntamente com os ilhéus Raso e Branco forma uma reserva natural).

Além do trabalho com as cagarras no ilhéu Raso, esta ONG transportou calhandras do ilhéu para Santa Luzia, fazendo com que a ilha deserta tenha uma população razoável daquelas aves, inclusive já em reprodução local.

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