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Brigada Victor Jara nasceu a abrir uma estrada com o MFA!

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 15-04-2014

A Brigada Victor Jara teve a sua génese ligada ao 25 de Abril, quando jovens estudantes participavam na abertura de uma estrada, na Lousã, no âmbito das Campanhas de Dinamização Cultural do MFA.

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Começou por ser um grupo informal, constituído maioritariamente por jovens ligados à União dos Estudantes Comunistas (UEC), como Jorge Gouveia Monteiro, mais tarde vereador da CDU na Câmara de Coimbra.

Em 1975, Gouveia Monteiro participou com amigos na abertura de um caminho, na Lousã.

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“O tenente Vilão viu-nos a cantar à sombra, no fim do trabalho, e não nos largou mais. Nesse dia, já demos um espetáculo para o MFA no cineteatro local”, contou à Lusa.

Em 1981, em Lisboa, na apresentação do “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti, o maestro Fernando Lopes-Graça, que também colaborou no livro, perguntava ao autor principal: “Quem são estes rapazes que cantam tão bem?”.

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Cooperativa com sede em Coimbra, a Brigada já tinha então gravado dois discos, “Eito fora” (1977) e “Tamborileiro” (1979), editando ainda nesse ano “Quem sai aos seus” (1981).

De 1982 a 2006, seguiram-se “Marcha dos foliões”, “Contraluz”, “10 anos a cantar Portugal”, “Monte Formoso”, “15 anos”, “Danças e folias”, “Por sendas, montes e vales” e “Ceia louca”.

Manuel Rocha e Arnaldo Carvalho, que entraram para o grupo em 1977, contaram à Lusa que Lopes-Graça, distraído “lá no seu mundo” intelectual, manifestou a Giacometti surpresa pela qualidade dos sons que acabava de ouvir.

Só que os três primeiros “LP” já incluíam recolhas de “fontes puras e acima de qualquer suspeita”, como Giacometti e o próprio Lopes-Graça, além do amigo Louzã Henriques e do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC).

Nestes 39 anos, passaram dezenas de músicos pela Brigada Victor Jara, que já não inclui nenhum da fundação, integrando atualmente Arnaldo Carvalho, Aurélio Malva, Catarina Moura, José Tovim, Luís Garção Nunes, Manuel Rocha e Rui Curto.

Em 1975, a Brigada tocava especialmente temas de intervenção alusivos à Guerra Civil de Espanha, à Revolução Mexicana ou à resistência italiana ao nazi-fascismo, sem esquecer as mais populares canções de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, entre vários portugueses.

Em solidariedade com o povo do Chile e as vítimas do golpe militar de Pinochet, em 1973, que derrubou o governo democrático de Salvador Allende e matou milhares de pessoas, incluindo Victor Jara, a Brigada interpretava também “muita música da América Latina”, incluindo temas do grupo chileno Inti-Illimani, do próprio Jara e de outros, como a norte-americana Joan Baez, recordou Arnaldo Carvalho.

Em 1977, com o disco “Eito fora”, enveredou pela recriação e divulgação da música tradicional portuguesa.

O psiquiatra Louzã Henriques viveu de perto os momentos mais importantes do agrupamento.

“Desde logo, eles trazem à superfície um nome tutelar, Victor Jara, um poeta que morre como poeta, defendendo ideias do mundo, do socialismo e da fraternidade”, afirmou.

Além de Gouveia Monteiro, a formação inicial integrava, entre outros, Né Ladeiras (que colaborou depois com os Trovante e a Banda do Casaco), Amílcar Cardoso (atualmente professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, UC) e Seabra Santos (mais tarde reitor da UC).

Realçando a “profunda ligação” da Brigada ao 25 de Abril, Louzã Henriques frisou que “a esperança da própria revolução era alegria” e que o grupo “foi fundamental para colaborar” nas campanhas do Movimento das Forças Armadas (MFA) e em diversas ações de trabalho voluntário.

A denominação Victor Jara gerou simpatias e desconfianças, no rescaldo do 25 de Abril e anos depois, uma digressão na Alemanha não chegou a realizar-se porque o empresário germânico punha como condição que a Brigada mudasse de nome.

A única voz feminina da banda, Catarina Moura, orgulha-se de ter tanto tempo de vida como a Brigada, já que nasceu em 1975.

“Ainda um dia hei de cantar na Brigada”, confessava aos pais. E assim aconteceu, quando Catarina já tinha passado pelo GEFAC e pelo Realejo.

O grupo tem uma relação de amizade com a República Palácio da Loucura, em Coimbra.

“Ceia louca”, uma pintura mural no interior da república onde viveu Louzã Henriques, nos anos de 1950, deu nome e capa ao último disco.

Em torno de “uma mesa de pernas para o ar”, como no desenho da autoria de Tòssan, “participou muita gente que não tinha nada a ver com a Brigada”, salientou Luís Garção, no grupo desde 1982.

Num “louco” repasto musical, ouvem-se as vozes de Jorge Palma, Manuela Azevedo, Carlos Medeiros, Vitorino, Lena d’ Água, Cristina Branco, Rita Marques, Janita Salomé e Carlos do Carmo.

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