Desporto

Volta a Portugal: Torre vai testar as ‘maravilhas’ dos estágios em altitude

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 07-08-2022

Os benefícios dos estágios em altitude serão hoje postos à prova na terceira etapa da Volta a Portugal, com a Torre a testar os efeitos físicos e até psicológicos dos períodos passados pelos ciclistas passam acima do nível do mar.

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“Eles estão ao nível do mar e, de repente, ir para os 1.500 [metros], 1.800, 1.900… são umas condições completamente diferentes. Os estágios são muito importantes para eles se habituarem a essa altitude. Depois, por outro lado, faz com que o grupo seja mais forte. São convívios, são momentos em que os atletas estão juntos. É como uma família. Mesmo que às vezes possa haver discussões, como nas famílias, criam-se laços fortes entre eles. Não é igual trabalhar para um amigo ou para um colega de equipa”, notou Gustavo Veloso.

Até ao ano passado, o diretor desportivo da Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados preparava cada participação na Volta a Portugal na Estación de Montaña Manzaneda e, esta época, a sua primeira nas novas funções, decidiu proporcionar a experiência aos seus corredores, com alguns deles a estrearem-se mesmo em estágios em altitude durante os nove dias que passaram naquela zona da Galiza.

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“Também é importante pelo descanso, por treinares em lugares diferentes aos que habitualmente treinas, que faz com que não seja tão complicado treinar, porque desfrutas de paisagens diferentes. Depois, ganhas também ao nível de percursos de montanhas como vão fazer na Volta. Montanhas de 20 quilómetros, de 15, de 25. Quando não temos nas nossas ‘casas’ essas condições, temos de procurá-las. São todos esses motivos que tornam os estágios benéficos”, enumerou, em declarações à Lusa.

Para o galego, bicampeão da Volta (2014 e 2015), esse estágio foi “mesmo um ponto de inflexão na preparação” para a participação na prova ‘rainha’ do calendário nacional.

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‘Adepto’ confesso dos estágios em altitude, José Azevedo defende que estes permitem aos ciclistas “treinar montanhas longas”, como a de hoje, que “têm uma duração de 30, 40 minutos”, e “melhorar a condição física”.

“Numa prova como esta, que são 10 dias, tudo conta. Eu acho que o importante é a condição física do atleta e o estágio em altitude ajuda. Aumenta o número dos glóbulos vermelhos, isso permite maior oxigenação, e em esforços de alta intensidade, o corpo tem mais capacidade de absorver mais oxigénio”, explicou o antigo ciclista, que foi quinto classificado no Tour2004 e Giro2001.

Nos estágios da Efapel, a equipa leva a estrutura toda. “Levamos três massagistas, mecânicos. Naqueles dias, a rotina do ciclista é simplesmente andar de bicicleta. Não tem de se preocupar com nada”, revelou o diretor desportivo, comparando essas jornadas com os de uma efetiva competição.

“Em algum período que os corredores no seu programa tenham espaço livre, se eles quiserem ir treinar montanha, vão, mas a equipa organiza durante o ano estágios. A maioria dos nossos estágios são feitos na Covilhã, por estar encostada à Serra da Estrela, que é a única zona montanhosa que nós temos em Portugal. Dá-nos a opção de subir por três, quatro vertentes para não se tornar repetitivo”, contou à Lusa, salientando a importância dos mesmos para “a coesão do grupo”.

Quem esteve nesses “estágios de uma semana” – o último foi de 10 dias, já em julho – foi Henrique Casimiro, também ele defensor dos benefícios desta opção.

“Há nove anos que comecei a fazer estágios de altitude, normalmente faço dois. No nosso país, por acaso não é muito habitual. Os primeiros estágios que fiz foram de adaptação, para ver como o corpo reagia, e o que é facto é que sentes ganhos. Nós aqui, em Portugal, só temos uma subida que se assemelha a onde fazemos estágios de altitude, que é a Serra da Estrela, e é muito importante isso, porque são esforços contínuos, onde o calor nesta altura também predomina e onde manténs aquela cadência”, enumerou.

Onde vive, o ciclista alentejano de 36 anos só tem “uma subida de 15 minutos”. “É diferente fazeres uma subida de 45 minutos ou uma hora”, disse à Lusa, indicando que também a concentração sai reforçada desses períodos longe de cada.

“Traz muitas vantagens até pelo facto de estares concentrado em treinar, descansar durante 21 ou 22 dias é muito importante. Em casa, por muito bem que treines, tens sempre uma rotina diferente”, pontuou.

No entanto, o ciclista da Efapel lembra que “nem todos os organismos são iguais”. “Há atletas que não se adaptam. Tive colegas que chegaram aos 2.300 metros de altitude e tiveram de baixar, não se davam com a altura. Não conseguiam descansar, dormir, recuperar. Isso é muito individual”, completou.

Não é o caso de Bruno Silva, o vencedor da classificação da montanha em 2015 e 2021, que considera que “um estágio é sempre benéfico, não só para uma chegada à Torre, mas para a preparação de qualquer corrida”.

“Pela altitude, claro que nos ajuda também a suportar melhor depois esse esforço na chegada à Torre, porque o oxigénio começa a faltar conforme vamos subindo, e também a parte do calor, que é importante para nos adaptarmos”, evidenciou.

Antes de estar em Cabeza de Manzaneda, com os colegas da Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados, Silva já tinha estado em Serra Nevada durante 20 dias, “duas vezes noutros anos”.

“Agora, este ano, tornei a fazer cá e em Espanha. Fizemos em Manzaneda e depois fiz na Serra da Estrela. Fiz quatro estágios este ano: primeiro, foram 10 dias, o segundo foram 13, depois 10 e mais oito”, enumerou, vincando que “é preciso força psicológica e vontade”.

Ainda assim, o detentor do título de ‘rei da montanha’ acredita que “acaba por compensar”.

“O objetivo é fazer o trabalho, depois na corrida as coisas podem sair bem ou não sair, mas o trabalho está feito”, concluiu.

A terceira etapa da Volta a Portugal liga hoje a Sertã ao alto da Torre, onde está instalada uma contagem de montanha de categoria especial.

por Ana Marques Gonçalves, da Agência Lusa

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