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Visões Úteis estreia em Coimbra “Versão Beta”. Uma peça “quase” carbono zero

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 25-10-2021

A Visões Úteis estreia em Coimbra, na quarta-feira, “Versão Beta”, primeira peça “quase” carbono zero da companhia do Porto, onde são abordadas as tensões entre passado, presente e futuro.

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O espetáculo estreia-se na quarta-feira, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), sendo apresentado no dia seguinte no Maus Hábitos, no Porto, estando na sexta-feira em Aveiro, no Gretua, e no sábado em Setúbal, na Casa da Cultura.

Com texto e interpretação de Carlos Costa, um dos elementos da direção artística da companhia, a peça é uma “exploração a solo”, num registo íntimo, em que o ator e encenador constrói relações entre três linhas de tempo da sua vida.

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O espetáculo explora o encontro de linhas de tempo, tema desenvolvido pela Visões Úteis em trabalhados passados, resultando nesta peça na “coincidência de uma vida e no encontro de um indivíduo [Carlos Costa] consigo e com o espetador” e com a consciência do passar do tempo, explica o ator.

“Apesar de haver um indivíduo a falar de si, fala de coisas muito reconhecíveis. As coisas nem sempre acontecem como nós imaginávamos”, disse à agência Lusa Carlos Costa.

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Em cena, são exploradas três linhas de tempo: a primeira cassete Betamax de Carlos Costa e os 30 minutos que gravou em 1984; o início da leitura de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, em 1995; e em 2008, quando se gravou a ler os textos de “Krapp’s Last Tap”, que Samuel Beckett indica terem sido registados 30 anos antes, para um projeto do ator a estrear em 2038.

Em 1984, Carlos Costa poderia ter gravado na sua cassete momentos históricos como a descoberta do vírus da SIDA ou o lançamento do álbum “Born in the U.S.A.”, de Bruce Springsteen, mas escolheu o videoclipe de um músico que ficou perdido na história.

Já o romance com mais de três mil páginas de Proust, está longe de acabar a sua leitura e acredita que irá morrer antes de o terminar.

Quanto ao projeto de Beckett, as gravações que fez foram “na esperança de, 30 anos mais tarde, com 69 anos, contracenar com a [sua] imagem”.

“Faz algum sentido? Aos 69 anos, quero estar a fazer isso?”, questiona Carlos Costa.

As questões exploradas na peça “têm a ver com a velocidade do tempo”, esclarece.

“Aos 22 anos, fiz as contas e teria muito tempo [para acabar a obra de Proust], e agora olho e sinto que não tenho tempo e que vou morrer sem chegar ao fim. Tem a ver como nós nos situamos no tempo e como essa passagem do tempo vai transformando a nossa imagem no presente, no passado e no futuro”, salienta.

Para Carlos Costa, o espetáculo “não é apenas um exercício diletante, porque na realidade este olhar para trás de perceber como as coisas se processaram até agora também permite que, ao olhar para a frente, se possa ter uma perspetiva mais lúcida sobre o que tem sentido imaginar e que sentido se pode encontrar nesta negociação entre o passado que aconteceu e que não aconteceu”.

Esta peça também será a primeira produção da Visões Úteis que será quase “carbono zero”, numa companhia que já tinha a preocupação de no passado plantar árvores para compensar o carbono emitido nas produções de cada ano.

Nas instalações onde são feitos os ensaios, só são utilizadas energias renováveis, as deslocações para os ensaios são feitas a pé, de bicicleta ou de metro, e a cenografia reutiliza materiais que a companhia já tinha, tendo tido a necessidade de comprar ou produzir “muito, muito pouco”, afirmou Carlos Costa.

A produção tinha também pensado em alugar um veículo elétrico para a itinerância do espetáculo, mas não encontraram qualquer opção para veículos de cargo elétricos, refere.

“Ainda assim, de um ponto de vista estrutural, conseguimos esticar a vida da nossa carinha a diesel, que teria menos impacto do que comprar um veículo e provocar a produção de mais um veículo elétrico para o utilizarmos”, sublinha.

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