Portugal

“Visitante” cruza a Terra e desaparece para sempre

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 hora atrás em 16-12-2025

Imagem: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA/B. Bolin

O cometa interestelar 3I/ATLAS fará a sua maior aproximação da Terra no próximo 19 de dezembro de 2025, num acontecimento que representa a última e melhor oportunidade para observatórios terrestres estudarem este objeto raro antes de abandonar definitivamente o Sistema Solar.

No momento do perigeu, o ponto em que estará mais próximo do nosso planeta, o 3I/ATLAS passará a cerca de 270 milhões de quilómetros da Terra, uma distância quase duas vezes superior à que separa a Terra do Sol. Apesar disso, os cientistas consideram-na suficientemente curta para permitir observações detalhadas a partir da Terra.

Descoberto a 1 de julho de 2025, o 3I/ATLAS rapidamente chamou a atenção da comunidade científica por apresentar características invulgares. À medida que se aproximou do Sol, de Marte e agora da Terra, o cometa revelou uma atividade inesperadamente intensa e uma composição química fora do comum.

PUBLICIDADE

publicidade

As primeiras medições da sua coma — a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo do cometa — mostraram uma libertação precoce e abundante de dióxido de carbono. Com o aumento do aquecimento solar, foram também detetadas grandes quantidades de cianeto de hidrogénio e metanol, resultantes da sublimação do gelo, como consta no artigo da Science Alert.

Nos dois meses seguintes à descoberta, os investigadores identificaram ainda concentrações anormalmente elevadas de níquel e ferro, levando alguns cientistas a falar numa “composição potencialmente extrema”, diferente de qualquer outro cometa conhecido.

No início de outubro, o 3I/ATLAS passou muito perto de Marte, sendo observado por sondas e observatórios espaciais. Pouco depois, durante o periélio — ocorrido a 29 de outubro, quando o cometa esteve mais próximo do Sol — as observações tornaram-se difíceis, uma vez que o objeto ficou oculto pelo brilho solar do ponto de vista da Terra.

Após reaparecer, vários observatórios retomaram o acompanhamento. O telescópio espacial XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia (ESA), dedicou cerca de 20 horas à observação do cometa, detetando emissões de raios X suaves produzidas pela interação entre o vento solar e a coma em expansão.

No final de novembro, o telescópio Gemini Norte, do NOIRLab, captou imagens que revelaram uma tonalidade esverdeada no cometa. Este facto surpreendeu os astrónomos, uma vez que as primeiras observações indicavam uma coloração mais avermelhada, associada à presença de compostos orgânicos conhecidos como tolinas.

A cor verde, comum em muitos cometas, resulta da presença de carbono diatómico (C₂), que emite fluorescência quando excitado pela radiação solar. No entanto, observações anteriores sugeriam que o 3I/ATLAS tinha níveis excecionalmente baixos deste composto, o que indica que o carbono só começou a formar-se numa fase tardia da sua passagem pelo Sistema Solar.

O significado destas características ainda não é totalmente compreendido. Algumas hipóteses apontam para um cometa extremamente rico em metais, possivelmente com criovulcões ativos, enquanto outras sugerem que o 3I/ATLAS poderá estar a esgotar as suas reservas de gelo, iniciando uma transição para um objeto semelhante a um asteroide.

Apesar das dúvidas, os cientistas concordam que se trata, de facto, de um cometa. As observações previstas para os próximos meses deverão ajudar a esclarecer as diferenças entre o 3I/ATLAS e os cometas originários do Sistema Solar, oferecendo pistas valiosas sobre o ambiente do espaço interestelar.

“Este objeto é um cometa”, afirmou em novembro Amit Kshatriya, administrador associado da NASA. “Tem a aparência e o comportamento de um cometa, mas veio de fora do Sistema Solar, o que o torna fascinante, empolgante e cientificamente muito importante.”

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE