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Viajar de Moçambique para a África do Sul passa a custar mais caro

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 30-07-2022

O preço de transporte de passageiros entre Moçambique e África do Sul, uma das maiores economias africanas, vai subir a partir de 01 de agosto, mas para quem faz o trajeto regularmente o aumento justifica-se face à vertiginosa inflação.

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“O aumento vai afetar as minhas contas, mas eles [os transportadores] têm razão, não há dinheiro. Tudo subiu em Moçambique, menos o salário”, diz à Lusa Rosta Massingue, moçambicana que faz o trajeto há mais de 20 anos para visitar a família que vive na terra do “rand”, como é popularmente descrita a África do Sul entre os moçambicanos.

Sentada num autocarro com destino a Rustenburg, no terminal da baixa de Maputo, Rosta Massingue faz as contas, que nunca batem, e lamenta o aumento dos preços.

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Esta moçambicana começou a fazer viagens em 2001, quando o transporte custava 180 rands (11 euros), e hoje, tendo de pagar 500 rands (cerca de 30 euros), cogita reduzir as visitas à sua família.

Com a subida dos preços dos combustíveis em Moçambique e também na África do Sul, a situação ficou “mais pesada” e “sufocante” para os transportadores, obrigando-os a aumentar 50 rands (três euros) no custo das viagens, explica Francisco Mandlate, secretário da Moçambique, África do Sul Transportes Associados (Mosata).

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“Nós tentámos resistir [à subida dos preços com a inflação global] por um tempo. Mas ficámos sufocados e daí tivemos de aumentar um bocado a tarifa”, refere o responsável.

A viagem de Maputo para Rustenburg subiu de 450 rands (27 euros) para 500 rands, enquanto da capital moçambicana para Durban subiu de 400 rands (24 euros) para 450 rands (27 euros).

Por outro lado, viajar de Maputo para Johannesburg passa de 350 rands (21 euros) para 400 rands (24 euros) e da capital moçambicana para Nelspruit há um aumento de 30 rands (dois euros), passando de 200 rands (12 euros) para 230 rands (14 euros).

Segundo a Mosata, que faz também viagens para o reino Essuatíni (antiga Suazilândia), as receitas “baixaram drasticamente”, o que se agrava pelo facto de atravessarem fronteiras e movimentarem-se em países com preços diferentes.

“A subida devia ter sido de 100% para que a gente voltasse à rotina normal de ganhos”, defende Marcos Abílio, motorista que faz a rota Maputo – Rustenburg, referindo que mesmo a nova tabela “não vai compensar” os custos das viagens.

Antes da subida dos preços dos combustíveis em Moçambique, Marcos gastava cerca de 2.500 rands (149 euros) para fazer uma viagem, mas, com a vertiginosa subida de preços, passou a gastar quase o dobro, ou seja, só para ir a Rustenburg o motorista precisa de cerca de 4.200 randes (250 euros).

“A pessoa que conduz tem de ser paga, também temos de pagar pelo combustível, o óleo e muitas outras coisas”, refere Marcos Abílio.

“Eles aumentaram pouco o preço do transporte, mas pela falta de dinheiro parece muito”, refere Violeta Tamele, 47 anos, enquanto caminha, junto de outras duas mulheres, em direção às lojas da baixa da cidade de Maputo para comprar capulanas e revender na África do Sul.

Violeta e as suas duas companheiras fazem três viagens por mês para vender capulanas em Komatipoort, na África do Sul, e mesmo que não tenha havido ainda um aumento da tarifa na sua rota, já conseguem prever o “caos” que será nas suas contas.

“Vai ser difícil. A situação vai afetar as minhas contas e vou ter de reduzir as viagens”, lamenta Zaveta António, que faz viagens há 12 anos para vender as capulanas.

Apesar da redução de receitas devido à subida do preço do combustível em Moçambique, os transportadores mantiveram o preço de viagens para Essuatíni para “poupar o passageiro que ainda tem de pagar pelo teste da covid-19” naquele país.

A nova tabela de transportes internacionais ocorre após as paralisações de 04 julho, quando proprietários de autocarros e ‘chapas’, ligeiros improvisados como transporte urbano coletivo em Moçambique, encostaram os seus veículos em protesto contra o aumento do preço dos combustíveis, provocando longas filas e confusão nalgumas zonas da capital moçambicana.

A gasolina subiu de 83,30 meticais (1,24 euros) por litro para 86,97 meticais (1,30 euros) e o gasóleo passou de 78,97 meticais (1,18 euros) para 87,97 meticais (1,32 euros) por litro.

Em 2008 e 2010, o aumento do preço de transporte rodoviário, acompanhado do agravamento do custo dos bens e serviços essenciais, gerou revoltas populares nalgumas das principais cidades do país, resultando em confrontos com a polícia e destruição nalguns locais.

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