Aquela sensação de que o verão parece estender-se cada vez mais — invadindo a primavera e empurrando o outono para mais tarde — não é ilusão. A ciência confirma: os verões estão efetivamente a ficar mais longos, e um novo estudo revela que essa tendência poderá acelerar de forma dramática nas próximas décadas.
Investigadores da Royal Holloway, Universidade de Londres, analisaram camadas de lama preservadas no fundo de lagos europeus, verdadeiros “arquivos climáticos” que guardam informação com 10.000 anos. Entre esses registos está o Ótimo Climático do Holoceno, um período de aquecimento natural que alterou profundamente a dinâmica das estações, como consta na Popular Mechanics.
Ao reconstruir a evolução das temperaturas ao longo de milénios, os cientistas calcularam o gradiente latitudinal de temperatura (GLT) — a diferença de temperatura entre o Ártico e o Equador. E foi aí que encontraram a chave do problema.
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As regiões polares estão a aquecer quatro vezes mais rápido do que o resto do planeta, devido à perda de gelo e ao consequente enfraquecimento do efeito de albedo. À medida que o Ártico aquece, o GLT diminui, enfraquecendo as correntes atmosféricas e prolongando o verão.
Segundo o estudo, por cada grau perdido no GLT, o verão na Europa ganha cerca de 6 dias. Estamos a caminho de perder 7 graus, o que significa +42 dias de verão até 2100. Ou seja: se nada mudar, os verões europeus poderão durar quase metade do ano.
A investigadora principal, Celia Martin-Puertas, recorda que já se sabia que os verões estavam a aumentar de duração, mas faltava compreender o mecanismo por detrás disso.
“Estas descobertas mostram como o clima europeu está profundamente ligado à dinâmica climática global.”
A coautora Laura Boyall acrescenta: “Este padrão já ocorreu ao longo da história da Terra, mas o que vemos agora é uma mudança muito mais rápida, intensa e causada por atividades humanas.”
O prolongamento do verão tem implicações severas: mais extinções e dificuldades de reprodução para inúmeras espécies; aumento drástico do risco de incêndios florestais; mais doenças relacionadas com o calor, incluindo golpes de calor e desidratação; e impactos na saúde mental, agravados por noites tropicais e ondas de calor persistentes.
Estudos anteriores já sugeriam que, seguindo a trajetória atual, o verão poderá ocupar metade do ano, enquanto o inverno poderá reduzir-se a menos de dois meses.
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