As velas perfumadas, tão apreciadas pelo ambiente acolhedor e relaxante que proporcionam, podem estar a comprometer seriamente a qualidade do ar que respiramos dentro de casa.
De acordo com estudos científicos recentes, estas velas emitem nanopartículas e compostos químicos que representam riscos reais para a saúde, mesmo quando não estão acesas.
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O que parece inofensivo — uma vela acesa com aroma a lavanda ou baunilha — liberta, na verdade, um cocktail de compostos orgânicos voláteis (COVs), muitos deles potencialmente cancerígenos. Estas substâncias tóxicas provêm, geralmente, de ceras à base de petróleo e fragrâncias sintéticas.
“As velas perfumadas libertam partículas tão finas que conseguem penetrar nos pulmões e passar diretamente para a corrente sanguínea”, explicam os investigadores. Uma vez no organismo, estas partículas contribuem para inflamações, stress oxidativo e danos no ADN, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, respiratórias e outras complicações crónicas.
Mesmo alternativas consideradas “mais saudáveis”, como as velas de soja ou de cera de abelha, podem libertar COVs quando contêm fragrâncias. Um estudo de 2025 focou-se nas ceras perfumadas derretidas (sem chama), frequentemente promovidas como seguras, e concluiu que também elas libertam partículas em níveis semelhantes aos de fogões a gás e escapes automóveis, pode ler-se na ZME Science.
Anne Steinemann, professora e investigadora na área da qualidade do ar, já em 2015 alertava: “Ouvi de várias pessoas com asma que não conseguem sequer entrar numa loja que venda velas perfumadas, mesmo que não estejam acesas”. Segundo os seus estudos, 20% da população relata algum grau de sensibilidade química, incluindo crises de asma, enxaquecas e sintomas neurológicos. Crianças, idosos e animais de estimação são ainda mais vulneráveis. Os bebés, com pulmões em desenvolvimento, estão especialmente em risco quando expostos regularmente a estes poluentes invisíveis.
As casas modernas são muitas vezes mal ventiladas, desenhadas para reter o calor e economizar energia, mas acabam por reter também os poluentes. Com janelas fechadas, isolamento reforçado e pouca circulação de ar, os compostos químicos libertados por velas, difusores e até produtos de limpeza acumulam-se no ar interior durante horas — ou dias.
“Mesmo produtos com rótulos como ‘natural’ ou ‘sem fragrância’ podem emitir dezenas de substâncias químicas perigosas”, alerta Michael Bergin, professor da Universidade Duke. Não há motivo para pânico. “Uma vela não o vai matar”, garantem os especialistas. Um estudo de 2014 concluiu que, em condições normais, a utilização moderada de velas perfumadas não representa um risco imediato para a maioria das pessoas. No entanto, a falta de estudos de longo prazo e o crescente número de substâncias envolvidas deixam margem para preocupação.
O prazer olfativo das velas perfumadas pode ser inegável, mas é importante ponderar o seu impacto real na saúde e na qualidade do ar. Afinal, o verdadeiro conforto começa por aquilo que respiramos todos os dias — mesmo quando não vemos o perigo no ar.
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