Uma descoberta inesperada na medicina está a gerar entusiasmo: algumas vacinas, além de protegerem contra infeções, podem também reduzir o risco de demência.
As evidências mais sólidas apontam para a vacina contra herpes zóster, originalmente desenvolvida para prevenir erupções cutâneas dolorosas e com bolhas. Estudos recentes indicam que esta vacina pode diminuir o risco de demência em até 20%.
“Estas vacinas protegem contra infeções potencialmente graves, especialmente em adultos mais velhos, e prevenir essas infeções é fundamental”, explica Avram Bukhbinder, médico residente no Hospital Geral de Massachusetts. “Parece haver também algum benefício adicional, e isso acrescenta mais um motivo para a sua utilização”, acrescentou, referindo-se a vacinas contra herpes zóster, gripe, VSR e dTpa.
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A demência afeta milhões de pessoas nos Estados Unidos, privando-as da memória, da independência e da capacidade de reconhecer familiares, ao mesmo tempo que representa um elevado encargo emocional e financeiro para as famílias.
Um estudo publicado na Nature em 2025, que acompanhou quase 300.000 idosos no País de Gales durante sete anos, concluiu que aqueles que receberam a vacina contra herpes zóster tiveram 3,5% menos probabilidade de desenvolver demência, representando uma redução de risco relativo de cerca de 20%. A vacina recombinante mais recente, Shingrix, revelou-se particularmente eficaz e é agora padrão nos EUA, sendo recomendada para adultos com 50 anos ou mais, ou para adultos mais jovens com sistema imunológico enfraquecido.
Outros estudos confirmam resultados semelhantes com diferentes vacinas. A dTpa (tétano, difteria e coqueluche), a vacina contra a gripe e a nova vacina contra o VSR demonstraram também associações com menor risco de demência. Um estudo com mais de 1,8 milhões de americanos com mais de 65 anos verificou uma redução de 40% do risco de doença de Alzheimer em indivíduos vacinados contra a gripe. A vacina contra o VSR, Arexvy, foi associada a uma redução de 29% nos diagnósticos de demência em 18 meses.
Os cientistas alertam, contudo, que a maioria destes estudos é observacional, mostrando correlações, mas não provas diretas de causa e efeito. Há várias explicações possíveis para o efeito protetor:
- Prevenção da infeção: doenças graves como gripe, herpes zóster e VSR podem acelerar o envelhecimento cerebral e causar inflamação que favorece a demência.
- Estímulo imunológico: vacinas como Shingrix e Arexvy contêm adjuvantes que podem ativar células imunológicas, protegendo o cérebro de danos.
- Redução do risco de AVC: o herpes-zóster está associado a taxas mais altas de acidente vascular cerebral, um dos principais fatores de demência.
Alguns estudos sugerem ainda que o efeito protetor é mais forte em mulheres do que em homens, embora a razão para esta diferença ainda não seja clara.
Para já, os especialistas recomendam que os indivíduos elegíveis se vacinem, nomeadamente contra herpes-zóster, reforçando que estas medidas devem ser complementadas com hábitos de vida saudáveis, como exercício físico, controlo da pressão arterial, moderação no consumo de álcool e tratamento da perda auditiva.
A possibilidade de que vacinas possam proteger o cérebro contra a demência representa um avanço notável na medicina preventiva e promete abrir novas perspetivas para o envelhecimento saudável.
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