Saúde

Vacinação anti-covid-19 aprofunda desigualdades entre ricos e pobres

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 13-12-2021

O ano 2021 fica marcado pela vacinação anti-covid-19, mas de forma diferente consoante a região do mundo: nos países ricos, pela imunização da maioria da população adulta e, nos países pobres, pela quase ausência de vacinas.

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Até ao final de novembro, apenas 13% das vacinas anti-covid-19 prometidas pela comunidade internacional foram entregues aos países mais pobres através da Covax, segundo dados avançados por esta plataforma de distribuição e por organizações como a Unicef e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No caso do continente africano, referem as mesmas fontes e a African Vaccine Acquisition Trust, apenas 7% das doses contratadas foram entregues.

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Entre as duas plataformas de distribuição de vacinas, a expectativa de doses a receber, segundo os contratos firmados, chegava a 3,67 mil milhões, mas, até agora, só receberam 480 milhões.s

Criada pela Aliança para as Vacinas (Gavi) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para permitir a 92 países e territórios desfavorecidos receberem gratuitamente vacinas financiadas por países ricos, a plataforma Covax tinha como objetivo vacinar 40% das suas populações até 31 de dezembro deste ano, mas, segundo o mecanismo de monitorização da OMS-FMI, pelo menos 74 países não vão conseguir cumprir a meta. Desses 74, 60 são países pobres.

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O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, tem criticado abertamente as farmacêuticas por “só visarem o lucro”, mas também os países mais ricos por “preferirem dar doses de reforço à sua população em vez de garantirem que a cobertura de vacinação em todos os países aumenta de maneira proporcionada”.

Dados da OMS indicam que as empresas chinesas de fabrico de vacinas anti-covid-19 – a Sinopharm e a Sinovac – forneceram 61% das doses prometidas à Covax, tendo sido as únicas a ultrapassar metade do total acordado.

No caso da AstraZeneca, a percentagem foi de 48%, enquanto a indiana Serum Institute ficou-se pelos 18%.

A Pfizer entregou apenas 10% das doses prometidas para distribuição aos países mais pobres, a Moderna ficou-se pelos 2,7% e a Johnson & Johnson não forneceu nenhuma dose.

Por países doadores, os Estados Unidos são aquele que ficou mais aquém do que tinha prometido, tendo entregado pouco mais de 100 milhões das 800 milhões de doses de vacinas prometidas.

Os países europeus (excluindo o Reino Unido) prometeram 400 milhões, mas entregaram apenas 50 milhões. O Reino Unido não está muito melhor, tendo fornecido apenas 10 milhões de doses dos 120 milhões que prometeu.

O Japão enviou menos de 10 milhões dos 60 milhões com que se comprometeu, enquanto o Canadá entregou menos de 10 milhões das 50 milhões de doses prometidas, tendo, entretanto, decidido abandonar a plataforma Covax.

Paralelamente, 48 países do mundo – dos quais 38 se contam na lista dos mais ricos – têm mais doses do que precisariam para vacinar toda a sua população elegível.

Segundo a OMS, a cobertura vacinal total efetiva nos países mais ricos deve alcançar os 118% das suas populações até ao final de 2021 (mais de 30 países decidiram dar doses de reforço das vacinas) – contra 34% em países com rendimento baixo ou médio.

De acordo com dados do FMI, Banco Mundial, OMS e Organização Mundial do Comércio, dos quatro mil milhões de pessoas que vivem em países com rendimento baixo ou médio, apenas 842 milhões (20,9%) foram vacinadas.

A comunidade científica tem avisado, ao longo do ano, que a imunidade coletiva induzida pela vacina só será atingida se estas desigualdades forem ultrapassadas, tendo alguns dos especialistas em saúde recusado a ideia de dar doses de reforço face à situação de imunização nos países mais pobres.

Nós últimos dias, especialistas em saúde global defenderam que o surgimento da variante Ómicron do coronavírus – detetada no final de novembro – resultou da iniquidade da distribuição de vacinas e avisaram que a nova estirpe vai propagar-se sobretudo nas regiões do mundo com taxas de vacinação mais baixas.

África vai precisar de apoio financeiro, para a saúde pública e investigação científica, escreveu, na rede social Twitter, o diretor do Centro de Resposta a Epidemias e Inovação da África do Sul (país que alertou para a existência desta nova variante) e um dos principais especialistas em sequenciamento de DNA, Túlio de Oliveira.

Mais de 5,2 milhões de pessoas morreram em todo o mundo devido à pandemia da covid-19 desde que o coronavírus SARS-CoV-2 foi detetado, no final de 2019, na China, segundo um balanço da agência France-Presse.

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