Coimbra

Utentes da ACAPO no elenco de peça do Teatrão em Coimbra

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 20-03-2022

A Milu, o Armando e o Paulo são três dos utentes da delegação de Coimbra da ACAPO – Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal que, na sexta-feira, sobem ao palco da Oficina Municipal de Teatro para falarem de si e para mostrarem ‘O que é invisível’.

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Poucos minutos antes de ter início mais um ensaio, Milu, de 64 anos, é uma das mais entusiastas, empolgada por vestir a pele de uma donzela, vaidosa, e que da sua janela descreve pormenorizadamente o homem que lhe arrebata o coração.

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“Já participei noutras peças de teatro da instituição e gostava muito de ter sido atriz”, confidenciou a utente da delegação de Coimbra da ACAPO à agência Lusa.

A estreia do espetáculo “O que é invisível’ está agendada para as 19:00 de sexta-feira, apresentando-se novamente no mesmo horário de sábado e às 17:00 de domingo.

Integrada na programação do Projeto ‘A MEU VER’, esta é a primeira criação de um ciclo de trabalho de três anos, desenvolvido pelo ‘O Teatrão’, em colaboração com a ACAPO de Coimbra, no âmbito do Programa PARTIS & Art for Change – Fundação Calouste Gulbenkian/Fundação “La Caixa”.

“Esta é a primeira fase deste projeto de três anos e tem apenas utentes da instituição. No próximo ano vamos abrir o grupo a outras pessoas da cidade, para trabalharmos no sentido da inclusão”, revelou a coordenadora do projeto e diretora de ‘O Teatrão’, Isabel Craveiro.

O projeto, que criará três espetáculos originais, trabalha com a rede familiar e social dos participantes, tem acompanhamento e produção científica e desenvolve parcerias nacionais e internacionais com outros coletivos congéneres.

“Este é um projeto que gera também um grande impacto no Teatrão, porque a partir deste projeto conseguimos um financiamento de um programa da Direção-Geral das Artes, o projeto Artes sem Limites, que permitiu a aquisição de uma cabine de audiodescrição. Neste momento, o Teatrão tem espetáculos com tradução de língua gestual portuguesa e audiodescrição que, se não tivéssemos o ‘A meu Ver’, não aconteceria”, apontou.

Mariana Nunes e Telmo Ferreira são os encenadores de ‘O que é invisível’, um espetáculo criado e pensado tendo em conta o facto de estar em palco um grupo amador de pessoas cegas ou de baixa visão.

“Foram criadas estratégias para se orientarem e não se perderem, conseguindo estar em cena de forma liberta. O percurso foi todo delimitado por uma corda, que faz o balizamento entre espaços que são ou não de cena”, descreveu Mariana Nunes.

Todos os pormenores foram estudados, calculados e entre as estratégias de orientação estão também o contar de passos, as deixas de som e até de movimento.

“Ao longo do percurso falam-nos do espaço onde estão, como o observaram através dos outros sentidos e criam ficção sobre aquele espaço e também falam de si”, acrescentou.

De acordo com Telmo Ferreira, a história levada a cena “é um bocadinho biográfica, no sentido de que ilustra um pouco o que foi o início do projeto”.

“Queriam fazer este espetáculo porque não queriam ficar em casa e isso inspirou-nos. Tentámos descobrir todos os pontos deste espaço de uma forma original e regida pelo que eles queriam conhecer, daí ter originado uma espécie de visita guiada, orientada pela biografia deles e pela sua curiosidade sobre o espaço”, referiu.

Dos 11 elementos cegos ou de baixa visão, que sobem ao palco, Armando Sousa é o mais velho: tem 73 anos.

Faz par romântico com Milu, por quem se deixa conduzir nas gargalhadas e na dança que levam a cena.

A experiência é igualmente divertida para Paulo Pereira, que venceu a timidez e descobriu outras capacidades.

“Há um ano procurei esta experiência para me ajudar a diversificar o meu dia a dia, quando estávamos em plena pandemia. Tem sido a minha primeira experiência no palco e estou a gostar bastante”, evidenciou.

Apesar de ter uma visão entre 5 a 10%, dependendo da luminosidade, a sua performance inclui algumas “voltas” de bicicleta.

O “segredo” em palco passa “por conhecer bem o espaço e adotar estratégias” que o ajudam a localizar e movimentar, nomeadamente os sons e as riscas que se destacam no solo.

No palco, como na vida, o “segredo” é “olhar” para o mundo com outra “visão”.

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