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Utentes criticam metro “à pinha” e autocarros “lotados” em tempo de pandemia

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 23-09-2020

Metros “à pinha” nas horas de ponta e autocarros que “nem param porque seguem lotados” são os relatos dos utentes dos transportes públicos do Porto, que pedem reforço de veículos e fiscalização, mas também apontam o dedo entre si.

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“Sem ser nas horas de ponta, os transportes não estão muito preenchidos, mas nas horas de ponta é perigoso. Ontem [terça-feira] deixei passar três autocarros. Algumas pessoas fazem distanciamento. Mas reparo que os mais idosos mostram menos preocupação”, descreve Pedro Pinto.

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O jovem de 20 anos, regressou esta semana às aulas na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e falou à agência Lusa junto à estação de metro de Carolina Michaelis, cerca das 13:00, quando começam a chegar dezenas de alunos do secundário acabados de sair das aulas.

A descrição repete-se junto à Casa da Música, numa estação muito utilizada para transbordos entre metro e autocarro, por Jorge Santos que, após utilizar a Linha C, de ligação entre a Maia e o centro do Porto, se serve deste ‘interface’ para apanhar as carreiras 208 e 507 da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) que o levam à fisioterapia e às consultas médicas.

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À Lusa, conta que já deixou de entrar nos autocarros porque o motorista não parou por ter a viatura lotada.

“O metro é de 15 em 15 [minutos]. Estou contente. Já os autocarros é uma vergonha. A STCP dizia que ia reforçar as linhas, mas só daqui a 38 minutos é que tenho autocarro e aquela senhora está à espera há 30. Não há distanciamento. Não entendo porque é que o Governo não permite pessoas nos estádios e no futebol, enquanto o metro vem à pinha e nos autocarros as pessoas vão em cima das outras”, lamenta.

No mesmo local, de máscara e afastada dos restantes utentes, Miriam Costa, diariamente faz o percurso entre Canidelo, em Vila Nova de Gaia, e Senhora da Hora, em Matosinhos, tendo de recorrer a “pelo menos” um autocarro ou camioneta e ao metro, diz sentir “pouca segurança” quando apanha transportes entre as 08:00 e 08:30.

“Os metros chegam a abarrotar e os autocarros também. Mas também já assisti a um motorista de autocarro a dizer que não entrava mais ninguém porque tinha atingido a lotação. Sinto que vamos como sardinhas enlatadas, o que é horrível em momento de pandemia [covid-19]. Podiam disponibilizar gel desinfetante à entrada [do autocarro] porque tocamos todos nas mesmas coisas. Não vejo os passageiros a desinfetar as mãos. Eu desinfeto porque tenho medo”, conta a estudante universitária.

Enquanto desce a escadaria da estação de bicicleta em punho, para viajar até à Póvoa de Varzim, Chayene Rodrigues explica ter optado por fazer a viagem fora das horas de ponta” para “evitar ajuntamentos”.

“Os transportes estão mais cheios no Porto, mas depois da Senhora da Hora é mais tranquilo e sinto-me segura. [Defendo] mais fiscalização e que controlem a entrada das pessoas nas estações. Já presenciei pessoas a pedirem a outras para usarem a máscara”, aponta.

O cenário de passageiros a circular com máscara colocada no rosto, nem sempre a cobrir o nariz, e de pessoas sentadas à espera de transportes nas paragens de autocarro e nas estações de metro, quase nunca sem guardarem entre si distância social, repete-se na Trindade, onde se cruzam linhas e carreiras que seguem para vários concelhos do Grande Porto.

Fabiane Silva, rececionista que diariamente recorre à linha do aeroporto Francisco Sá Carneiro, critica os “horários reduzidos num trajeto longo”, no qual diz ser impossível “manter distanciamento”.

“O uso de máscara tem sido correto, mas o transporte demora muito. Temos de ficar em pé e afastados. Eu defendo o uso de máscara tanto no interior como no exterior”, refere.

Ao lado, Jorge Pereira desafia a Metro do Porto a tirar as etiquetas onde se lê “Mantenha distância. Não utilize este lugar” dos bancos.

“Ninguém cumpre”, garante.

“Têm de dar condições às pessoas para poderem viajar. As linhas estão sobrecarregadas. Se põem menos lotação, deixamos de ter para onde ir e como circular. A Metro diz que não tem composições. Se não tem, que compre. E há cada vez mais gente nas horas de ponta e com as escolas, faculdades e pessoas a irem para o trabalho”, desabafa.

Contactada pela Lusa, fonte da STCP diz que tem registado, “pontualmente e em algumas linhas, níveis de procura nas horas de ponta já próximos dos novos limites de lotação dos veículos [dois terços da capacidade]”.

A STCP refere ainda ter “em curso a preparação de soluções para o possível reforço de algumas linhas”.

“A STCP pede, inclusive, a todos os seus clientes, em especial aos mais idosos, que evitem deslocações nas horas de ponta”, lê-se na resposta da empresa.

Também a Metro do Porto, em resposta à Lusa, admitiu que tem verificado “um gradual aumento da procura em todas as linhas e em todos os períodos horários, mas sem casos de lotação superior a dois terços da capacidade”.

Fonte da empresa apontou, ainda, que foi colocado em prática a 14 de setembro “um reforço da operação” para que “todas as viagens sejam efetuadas em veículos duplos, em todas as linhas, entre as 07:00 e as 20:00”.

“Para além de uma maior capacidade, temos também frequências melhoradas, sobretudo nas linhas Amarela, Azul e Laranja. Estão também a decorrer os trabalhos de adaptação de 15 veículos Eurotram à configuração com bancos laterais – aumentando a capacidade destes em 10%”, acrescentou.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 971 mil mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 1.928 em Portugal.

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