Uso inadequado de antibiótico cria maior resistência e dificuldades no combate das infeções bacterianas

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 22-05-2017

É lançado amanhã um livro com os resultados da investigação da docente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC) Nádia Osório sobre a resistência bacteriana a antibióticos, incluídos na tese de doutoramento em Biologia, especialização em Microbiologia apresentada à Universidade de Aveiro, com o título “O resistoma de Aeromonas salmonicida revelado por proteómica”.

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 Nádia Osório

Nádia Osório

O lançamento tem lugar amanhã, dia 23, às 16h00, na ESTeSC, e trata-se do nono volume da Coleção “Ciência, Saúde e Inovação | Teses de Doutoramento”.
O estudo permitiu identificar proteínas e vias metabólicas envolvidas no ganho de resistência de bactérias a antibióticos, frequentemente usados na prática clínica. Estas podem vir a ajudar no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas usadas no combate a infeções.
O uso excessivo ou mal aplicado de antibióticos é hoje considerado um problema de saúde pública, na medida em que existe uma resistência cada vez maior por parte de bactérias e, consequentemente, maiores dificuldades no combate a infeções.
O estudo partiu da necessidade de compreender o comportamento das bactérias face aos antibióticos e conhecer os mecanismos de resistência envolvidos. Segundo Nádia Osório, procurou-se em laboratório mimetizar de algum modo aquilo que acontece na vida quotidiana (ambiente): “as pessoas tomam antibióticos errados, em quantidades erradas porque se automedicam, ou então porque às vezes alguém prescreve um antibiótico de largo espectro para erradicar a bactéria sem saber sequer qual é a bactéria ou seu antibiograma. Depois surgem por vezes reinfeções em que os antibióticos anteriormente utilizados já não funcionam, o que demonstra maior dificuldade no tratamento”.
“Se soubermos que mecanismos a bactéria desenvolve, ou passa a expressar quando se adapta ao antibiótico, podemos desvendar novos targets para o desenvolvimento de novos antibióticos ou de outros compostos químicos ou terapêuticas que depois atuem neles”, explica a investigadora, realçando que esta é uma necessidade urgente dado que “cada vez mais estamos restritos à utilização de antibióticos e que, num futuro próximo, estes podem ser ineficazes e gerar um maior descontrolo no combate a infeções”.
No decorrer do estudo, foi usada uma estirpe bacteriana que continha determinados genes de resistência, a qual não expressava, e por isso era sensível a várias classes de antibióticos usados na clínica, ou seja facilmente era eliminada. Foi-lhe administrado em laboratório um antibiótico em dosagens ineficazes, que foi gradualmente aumentando, e por isso a bactéria foi-se adaptando e foi sobrevivendo. “Ao fim de aproximadamente oito dias tinha uma bactéria que deixou de ser sensível a antibióticos e passou a ser resistente a três classes de antibióticos, obtive uma bactéria multirresistente”, refere. A seguir avaliaram-se comportamentos da bactéria antes e após tratamento e compararam-se as proteínas expressas, identificaram-se e descreveram-se quais os possíveis mecanismos em que estas podem estar envolvidas, de modo a compreender a resposta adaptativa da bactéria.
O estudo conseguiu identificar proteínas envolvidas no ganho de resistência bacteriana na espécie estudada, o que pode vir a ajudar no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas neste âmbito.
Para Nádia Osório, esta investigação veio reforçar que é fundamental uma aplicação regrada dos antibióticos e que estes só deveriam ser aplicados em situações muito concretas e devidamente estudadas. “Seria mais assertivo na prática clínica, tentar reduzir a aplicação de antibióticos nas situações generalizadas, ou seja, que são mais fáceis de tratar. Deveria ser totalmente impeditivo a aquisição de antibióticos sem prescrição, tanto para a veterinária, quer para a saúde humana, e a população deveria ser constantemente informada das consequências negativas que estes comportamentos podem gerar. Evidenciando não só a mortalidade crescente associada ao aumento do número de infeções, assim como mostrar os custos elevados associados no tratamento prolongado de processos infeciosos – como medicamentos e internamentos”, conclui.

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