Coimbra

Universitários de Coimbra fazem favores no Banco do Tempo

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 03-02-2014

Arranjos de costura, condução, companhia, acompanhamento, reparações domésticas, culinária, jardinagem e lições das mais diversas áreas foram os “ativos” mais trocados em 2012 nos 35 Bancos de Tempo existentes no país.

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Rute Castelo, membro da equipa coordenadora do Banco de Tempo de Coimbra, disse à Lusa que cerca de 10% dos membros desta agência são estudantes e, entre estes, a maior parte são universitários de segundo ciclo ou de doutoramento.

“As ajudas que se desencadeiam entre os membros do Banco de Tempo correspondem, muitas vezes, a pequenos favores que tipicamente se trocam dentro das fronteiras familiares e entre amigos e que, em alguns casos, dificilmente se encontram no mercado”, disse à Lusa a coordenadora da Rede Nacional do Banco de Tempo.

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“Ninguém se lembraria de pagar para obter companhia para andar a pé, para ir ao teatro, a uma exposição ou ao médico, ninguém se lembraria de pagar a alguém que lhe fizesse um nó de gravata ou que ajudasse a melhorar um texto ou a escrever uma carta…”, afirmou Eliana Madeira.

Os dados de 2012, compilados recentemente, mostram que os serviços mais trocados foram arranjos de costura, condução, companhia e acompanhamento (em particular para atividades recreativas e culturais e para atos médicos), reparações domésticas/ bricolage, culinária, jardinagem e lições (bordados, dança, informática, línguas, etc.).

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As mulheres representam 74% da totalidade dos membros do Banco de Tempo, sendo que 41% dos 1.834 membros têm idades compreendidas entre os 51 e os 70 anos, seguindo-se a faixa etária entre os 31 e os 50 anos (35%). Há ainda 207 crianças e jovens e 212 idosos (52 com mais de 80 anos).

Sem informação disponível a nível central sobre as ocupações das pessoas que aderiram à iniciativa, vários responsáveis de Bancos de Tempo referem a predominância de jovens universitários e de idosos ou reformados.

Marisa Fábrica, coordenadora do Banco de Tempo de Abrantes, o primeiro a ser criado no país, em janeiro de 2002, disse à agência Lusa que o perfil dos membros mais idosos “destaca-se pelos pedidos e ofertas ao nível de aulas de informática, aulas de ténis, pintura e desenho, trabalhos de jardinagem e preenchimento de documentos”.

Os estudantes, por sua vez, “oferecem apoio para trabalhos escolares a realizar em computador, pedem trabalhos de costura, ajuda para passar a roupa a ferro e confeção de refeições”, observou.

Já em Castelo Branco, os serviços mais trocados são o bricolage, eletricidade, preenchimento de IRS, revisão de texto e informática e serviços de apoio à agência (preparação de encontros/convívios).

Isaura Pinto, que integra a equipa que impulsiona a agência de Évora, disse à Lusa que ali são vários os serviços que os membros “trocam” entre si, mas, por norma, as pessoas que se inscrevem “preferem mais dar do que receber”.

“Parece que se inibem ou que quase se esquecem de pedir, temos que os estar sempre a ‘espicaçar’. Dizem logo que não querem nada, só querem dar, mas não é isso que se pretende, não é essa a filosofia do projeto”, relatou.

Ler para idosos, acompanhá-los a uma consulta ou ir à farmácia aviar medicamentos, tomar conta de crianças, cozinhar, efetuar arranjos de costura ou reparações domésticas e até apanhar pinhas para acender a lareira são algumas das tarefas oferecidas e procuradas neste Banco de Tempo.

“O que pretendemos é reatar as relações de boa vizinhança que se foram perdendo na cidade. E quando pedimos alguma coisa a vizinhos sentimos que ficamos quase em dívida. Aqui não, quem recebe é porque também já deu”, realçou Isaura Pinto.

Aulas de línguas são uma das trocas mais realizadas nesta agência, onde sobressaem os pedidos para a aprendizagem e/ou prática de português e de inglês, embora também apareçam situações relacionadas com outros idiomas, como sucede atualmente com o castelhano e o italiano.

O primeiro Banco de Tempo criado no país, em 28 de janeiro de 2002, em Abrantes, continua ainda em funcionamento, o que a responsável pela rede nacional, Eliana Madeira, atribui ao “empenho e interesse” da autarquia.

Marisa Fábrica, coordenadora da agência de Abrantes, a única existente no distrito de Santarém, disse à Lusa que os 103 membros deste banco mantêm uma atividade regular de trocas, de pedidos e de solicitações, tanto na cidade como em algumas freguesias rurais.

O mais recente membro inscreveu-se na passada semana pela linha azul 800 200 741, disse.

Também criado em 2002, o Banco de Tempo de Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, foi o quinto a surgir em Portugal, mas fechou menos de um ano depois, situação que os responsáveis da altura justificam com a existência na região de uma grande rede de vizinhança que se entreajuda e não vê necessidade de recorrer a este apoio.

Em Valongo, o Banco de Tempo, da responsabilidade da Agência para a Vida Local da Câmara Municipal, funciona há nove anos em Ermesinde, contando com 128 inscritos.

Criado há cinco anos, o Banco de Tempo de Castelo Branco conta atualmente com 64 membros, com idades entre os 13 e os 84 anos.

Mais recente, “nascida” há três anos, a agência de Évora, a única do Alentejo, conta com 87 membros, adesão que tem sido gradual e que satisfaz a equipa dinamizadora: “A palavra foi passando ‘de boca em boca’”, disse à Lusa Isaura Pinto, que integra a equipa que impulsiona aquela estrutura local.

Em crescimento no Algarve, o projeto conta atualmente com agências em Quarteira e Albufeira, devendo até ao final do ano ter novas agências em Faro e Tavira.

O Banco de Tempo de Quarteira, o mais antigo na região e a funcionar regularmente há dez anos, conta com cerca de cem pessoas inscritas, a maioria com mais de 60 anos e, além da troca de serviços, tem vindo a apostar na divulgação com eventos culturais e colaborações com instituições sociais.

Na Lousã, o Banco de Tempo foi criado em 2009, no âmbito de uma parceria que a associação Activar estabeleceu com a Câmara Municipal e a Escola Secundária local. Chegou a ter 30 membros, mas “tem estado parado”.

Fernanda Vaz, da direção da Activar, disse à agência Lusa que esta estrutura “faz agora ainda mais sentido, mas tem de haver dinâmica” para lhe dar continuidade. Dois membros da associação frequentaram uma ação de formação promovida pelo Graal, em Lisboa, cabendo-lhes relançar o projeto nos próximos meses.

Criada em 2002, a agência de Coimbra estabeleceu recentemente uma parceria com o Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola n.º 10 (escola do primeiro ciclo da Solum, em Coimbra), em cujas instalações, no Monte Formoso, funciona atualmente, contando, ao longo dos seus 11 anos de existência, com uma média de 60 “investidores”, disse a sua coordenadora, Rute Castelo, à Lusa.

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