“Universidade afastou-se dos ideais da luta estudantil de 1969”

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 20-03-2018

Celso Cruzeiro, advogado e antigo dirigente estudantil na crise académica de 1969, em Coimbra, disse hoje que a Universidade “afastou-se claramente” do que eram os sonhos da sua geração.

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“Em conclusão, a Universidade afastou-se claramente daquilo que pensámos que devia ser. Nós não queríamos discutir o funcionamento da Universidade, nós queríamos discutir a função da Universidade, queríamos discutir a função da Universidade, na relação com a sociedade em que se inseria, e obrigá-la a cumprir funções de emancipação cultural e social do povo”, afirmou.

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A luta estudantil em Coimbra entendia que a Universidade devia ser “um farol humanista, um espaço de discussão” e “formar gente com um pensamento crítico, para abrir caminhos”.

“Era, no fundo, uma perspetiva humanista de formação integral do indivíduo que a Universidade devia formar não ser um mero apêndice das necessidades das empresas e da economia”, salientou.

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Celso Cruzeiro, na qualidade de orador na palestra “Antes e Depois de Maio de 68: o movimento estudantil português”, que hoje decorreu na Universidade de Aveiro, integrada na “Festa da Francofonia” e na “Semana da Língua Francesa”, procurou fazer uma retrospetiva histórica e cronológica do Maio de 68 e a influência que os acontecimentos em França tiveram para a revolta estudantil em Portugal.

“Em apenas um mês, 10 milhões de grevistas colocaram a França e o poder político à beira de soçobrar e depois as centrais sindicais e os trabalhadores aderiram à luta estudantil”, mas a diferença de motivação foi determinante do insucesso, para o orador.

“Acentuou-se marcadamente a divisão entre uma perspetiva estudantil que queria uma luta civilizacional e cultural, uma luta de mudar a sociedade em si, mudar a vida, e a luta dos sindicatos, dos operários, das centrais sindicais e dos partidos políticos da esquerda, que era meramente no sentido da melhoria das condições económicas, sem colocar em crise o modelo existente vida. Isso está na base do fracasso do movimento”, considerou.

Menos de um ano depois rebentou a crise académica em Coimbra e Celso Cruzeiro lembrou “como é que se aproveitaram os ensinamentos, a experiência e as ideias da luta do Maio de 68”, mas também as diferenças entre as realidades da luta estudantil nos dois países.

“Portugal era um país mais atrasado do que a França, com menor população, em que a classe operária não tinha tanto peso. A diferença principal começa logo porque nós não tínhamos liberdade de imprensa e tínhamos um regime autoritário e autocrático em que as liberdades essenciais não estavam garantidas”, observou.

Para Celso Cruzeiro, a mudança do regime e a guerra colonial “tinham de balizar” a luta em Portugal: “tínhamos uma guerra colonial, enquanto a França tinha a guerra da Argélia resolvida e o país em democracia liberal, com liberdade de reunião e de opinião. Era uma luta que tinha ainda obstáculos que em França já estavam superados”.

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