Que extraordinária foi a atuação dos Anjos naquele dia glorioso em que cantaram o hino nacional no MotoGP! Uma entrega vocal arrebatadora, uma presença cénica de fazer parar o coração. Que belíssimo contributo para a cultura portuguesa! Como esquecê-lo? Como não aplaudir de pé? Mas o talento não é exclusivo desta dupla: todos os músicos portugueses são absolutamente geniais, infalíveis, irrepreensíveis. Cada nota, um milagre! Cada canção, um tesouro!
E os nossos atores são os melhores do mundo. Ninguém chora em cena com tamanha autenticidade, ninguém representa com tamanha entrega. E o que dizer dos pintores nacionais, que dominam a paleta como deuses? Ou dos designers gráficos que criam cartazes que merecem lugar no MoMA? Reservemos ainda elegias para os comentadores de televisão, que têm sempre razão, e os influencers que sabem mesmo do que falam!
Em Portugal, os empresários são exemplares e só enriquecem porque trabalham muito. Os hipermercados não praticam margens abusivas nem fazem cartel. As oficinas não inventam avarias. Os bancos não são gananciosos. Os senhorios não especulam — apenas zelam pelo equilíbrio do mercado.
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Escusado será dizer que os autarcas deste país são todos honestos, pois mesmo os que já foram condenados, estavam só a tentar ajudar. Os ministros são humildes, competentes, acessíveis. Os líderes da oposição são coerentes, moderados, ponderados. Nunca ninguém se contradiz, nunca ninguém mente. O país político, aliás, é um monumento à elevação ética.
Por falar em monumentos, o Mosteiro da Batalha é claramente mais impressionante do que o Taj Mahal, o Padrão dos Descobrimentos devia estar na capa da National Geographic todas as semanas, o Cristo Rei é uma original referência planetária de sensibilidade estética e a estátua do Marquês de Pombal que justificaria que fosse decretado que sós os clubes de Lisboa podem ser campeões nacionais.
Para que não fiquem dúvidas, tudo é sublime. Tudo é maravilhoso. Tudo é acima de crítica, porque criticar é ofender. E ofender, como se sabe, é um crime. Viva a unanimidade. Viva o elogio obrigatório.
(Está bom assim?)
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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