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Uma aldeia, 19 habitantes e um Natal como já não se faz

Notícias de Coimbra | 31 minutos atrás em 13-12-2025

Na aldeia de Parises, no coração da serra algarvia, no concelho de São Brás de Alportel, os 19 habitantes preservam durante o fim-de-semana saberes e sabores, transformando a época de Natal num verdadeiro regresso às origens.

Entre pequenas casas e ruas estreitas decoradas com figuras e luzes alusivas ao Natal, a pequena comunidade mantém viva a chama das celebrações natalícias, num ritual que resiste ao tempo e às mudanças da vida moderna, num espaço onde se cruzam gerações: o habitante mais velho tem 89 anos e o mais novo, 12 anos.

Durante o fim de semana, a aldeia dinamiza a “Oficina de Natal”, um espaço que pretende transmitir o conhecimento dos usos e costumes de outrora dos habitantes de Parises, aldeia situada em plena serra do Caldeirão, a 17 quilómetros da sede do concelho de São Brás de Alportel.

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A pequena localidade faz do Natal um momento de encontro, partilha e solidariedade entre habitantes e visitantes, procurando transmitir a arte “do fazer” com produtos locais, as decorações e a gastronomia alusivas à época.

Dinamizado desde há três anos por Sónia Martins, técnica de turismo da Câmara de São Brás de Alportel, o Natal de Parises pretende mostrar as tradições da aldeia serrana, através das oficinas de trabalho onde se ensina a fazer desde estrelas (com canas e decoradas com ciprestes) a figuras alusivas à época, com madeiras e outros materiais naturais.

“Tentamos, de alguma forma, recriar um pouco das tradições que se viviam na serra, como as decorações construídas com materiais naturais, bem como a gastronomia confecionada com produtos que a serra dá”, disse à Lusa a dinamizadora do evento.

Segundo Sónia Martins, os preparativos para a “grande festa que é o Natal” começam com um mês de antecedência, envolvendo os habitantes de Parises, a maioria de idade avançada, “mas com disposição e grande empenhamento”.

A técnica de turismo realça que o Natal de Parises é “mais do que uma festa, é reavivar algo que se vai perdendo no tempo, como são as artes e costumes, como os tradicionais cozinhados no ‘fogo de chão’, os doces, vinhos e outros produtos com origem da terra”.

Sónia Martins revelou que o evento “tem crescido, ano após ano”, tendo sido visitado no ano passado por cerca de duas mil pessoas de 14 nacionalidades, destacando-se “um grande número” de pessoas oriundas da Austrália.

A decoração das ruas e espaços da aldeia conta com a ajuda de crianças e jovens, familiares de residentes e dos muitos voluntários que se envolvem para fazer de Parises “uma cidade do Natal”, referiu o único jovem da aldeia.

Gil Silvestre, de 12 anos, disse à Lusa que “esta época traz animação à aldeia, com muitas pessoas a ajudar a decorar o lugar onde gosta de viver em harmonia com a natureza”, apesar de ser o único jovem residente.

“Gosto de viver aqui [em Parises] e não sinto que estou sozinho, porque quase todos os fins-de-semana recebo amigos em casa aqui na aldeia”, apontou o jovem que frequenta a escola no concelho vizinho de Loulé.

Num Algarve marcado pelo turismo, Parises preserva o ritmo próprio do interior da serra, onde a tradição natalícia é vista como património imaterial, transmitido de geração em geração, que reforça o sentido de pertença e comunidade.

O património gastronómico é também destacado por estes dias na aldeia, como o tradicional feijão com carnes variadas, cozinhadas durante várias horas em fogo de lenha, as torradas com mel e azeite ou o café de chocolateira, feito com borras de café.

“São sabores e tradições que tentamos replicar de forma natural”, disse à Lusa o Grão-Mestre da Confraria Gastronómica da Serra do Caldeirão, uma das entidades que colaboram nas festividades.

De acordo com Gonçalo Mesquita, os confrades participam “para recriarem as vivências das pessoas cuja alimentação era feita apenas com produtos que a terra dá, onde se destaca a dieta mediterrânica”.

O Grão-Mestre adianta que “a participação dos confrades visa sobretudo transmitir às novas gerações, a riqueza da gastronomia de gerações, apenas confecionada com os produtos locais, como as verduras, a carne de porco, azeite, mel, doces variados, vinhos e a famosa aguardente de medronho”.

“Aqui faz-se como antigamente, pois é uma forma de mostrar que a serra tem vida e uma identidade que precisa de ser preservada”, realçou.

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