O Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) tem vindo a acompanhar doentes com ostomia respiratória, um procedimento realizado em casos de laryngectomia total, deixando os pacientes com um estoma definitivo ou temporário para respiração.
A iniciativa foi explicada pela enfermeira especialista em otorrinolaringologia, Vanessa Anjos.
“A nossa consulta de enfermagem acompanha doentes ostomizados respiratórios com ostomia respiratória definitiva ou temporária. Queremos alertar para o Dia Mundial do Ostomizado, sobretudo para aqueles com ostomia definitiva, que são submetidos a uma laringectomia total e ficam com um estoma que os acompanha para a vida toda”, explicou.
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A ostomia respiratória é muitas vezes necessária em doentes com cancro da laringe, doença que, embora com menor incidência que outros tipos de cancro, ainda apresenta números significativos a nível nacional. A enfermeira detalha que “estes doentes, depois de saírem do bloco operatório, têm um estoma por onde vão respirar. Isto impacta a vida deles fisicamente, incluindo alterações na deglutição, na comunicação e até na alimentação”.
Apesar das mudanças, Vanessa destaca que “é uma vida que eles consideram normal, mas sim, têm muitas adaptações para que possam ter uma vida considerada normal”. O acompanhamento inclui competências técnicas de tratamento do estoma, vigilância e estratégias de adaptação, com o apoio de uma equipa multidisciplinar, incluindo terapeutas da fala, assistentes sociais e médicos.
Sobre a prevenção, a especialista alerta: “99% dos doentes com cancro da laringe são fumadores e têm hábitos etílicos marcados. Portanto, abolir o tabaco, não fumar e evitar bebidas alcoólicas é essencial. Também é importante estar atento a sinais de alerta, como rouquidão persistente ou dificuldade em deglutir”.
O CHUC promove reuniões mensais de laringectomizados, permitindo que os pacientes troquem experiências com voluntários e com profissionais de saúde. “O feedback é muito positivo. Os doentes sentem-se inseridos num grupo, partilham experiências e recebem apoio profissional e emocional, o que é fundamental para a reinserção social e bem-estar”, reforçou Vanessa.
A enfermeira destaca ainda o impacto físico e psicológico do estoma: “Há uma grande transformação a nível da imagem corporal. Alguns utilizam dispositivos médicos ou lenços para tapar o estoma, dependendo do que lhes proporciona maior conforto e bem-estar”.
A celebração do Dia Mundial do Ostomizado serve assim para sensibilizar a sociedade para esta realidade, incentivar a prevenção e apoiar a reintegração social dos doentes.
Abel Fernandes, de 58 anos, foi submetido a uma laringectomia total a 31 de julho de 2013 e contou como tem sido a sua vida ao longo destes 12 anos e a adaptação à ostomia respiratória definitiva.
“É uma vida normal. Uma pessoa não pode pensar no que já passou, tem que olhar para a frente. Até agora, sou totalmente diferente do que era há 12 anos. Temos que aceitar a vida, passar um dia de cada vez, e é tudo bom”, afirmou Abel.
O paciente revelou que mantém uma rotina ativa e participa em atividades culturais. Abel integra um coro de pacientes e profissionais de saúde, onde encontra apoio e motivação. “É bom ter gente a cantar, ajuda-nos a viver. É sempre dizer que somos capazes, capazes de ultrapassar uma doença”, explicou.
Sobre o diagnóstico e o início do tratamento, Abel recorda o impacto emocional: “Foi um grande susto. Senti-me mal, mas não podia parar a vida. Fiz a operação e aceitei a situação. Hoje, tenho uma ostomia respiratória para toda a vida”.
Apesar das alterações físicas e das adaptações necessárias, Abel elogia o acompanhamento do hospital: “Só a dizer bem das enfermeiras, médicas, toda a equipa. Temos apoio em tudo”.
O relato de Abel Fernandes evidencia a importância do apoio multidisciplinar, da reintegração social e da resiliência pessoal no processo de recuperação de doentes submetidos a laringectomia, mostrando que é possível manter uma vida ativa e plena mesmo após uma intervenção tão transformadora.
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