Opinião

Tudo o que não lhe contaram sobre a futura Estação Intermodal de Coimbra

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 1 mês atrás em 24-03-2024

Depois da sessão pública de apresentação da versão preliminar do Plano de Pormenor da Estação Intermodal de Coimbra, realizada pelo arquiteto catalão Joan Busquets, não faltaram as notícias, as crónicas e os comentários, mas também as omissões sobre o verdadeiro conteúdo da proposta. Felizmente para o caro leitor, chegou a hora de ter acesso a toda a verdade e nada mais do que a verdade!

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Assim, o principal fator de destaque será que toda a área circundante da atual Coimbra B permanecerá como estaleiro de obra durante pelo menos duas décadas. Desta forma, será possível satisfazer os saudosistas da superespecial do Rali de Portugal (permitindo mitigar os prejuízos causados pela Figueira da Foz ao recusar a muito razoável proposta de empréstimo da prova, ano sim, ano não), mas também possibilitar uma transição mais suave para a normal vivência da Cidade àqueles conimbricenses que possam sentir nostalgia do inferno particular que têm sido os últimos meses.

Um dos projetos estruturantes previstos é a edificação de um enorme palanque-palco, inspirado pelo altar-palco que marcou a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Esta estrutura garantirá que possa haver em permanência a apresentação de novos propostas de Plano de Pormenor, mesmo depois de toda a renovação estar já concluída, de forma a manter satisfeitos os muitos especialistas – académicos, profissionais e autonomeados – existentes em Coimbra.

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Outros pontos importantes passam pela criação de um memorial ao ex-futuro aeroporto de Coimbra, a construção de uma grande arena exclusivamente para combates entre ‘falsos’ movimentos de cidadãos e ‘verdadeiros’ movimentos de cidadãos, bem como de três incubadoras tecnológicas (mas só abertas a empresas que os políticos possam dizer nos seus discursos que são disruptivas, mesmo quando não percebem o que fazem), e a disponibilização de Wi-Fi gratuito numa área de 10 quilómetros quadrados, de forma a garantir que todos podem facilmente atualizar as suas redes sociais, sejam ou não autarcas.

Finalmente, sendo consequente com o objetivo de criar na zona uma nova centralidade urbana em resultado da requalificação prevista, e para que as altas figuras da Cidade que a passarão a frequentar o possam fazer com segurança e conforto, será construído um grande muro circundante. Inspirado pela barreira entre os Estados Unidos e o México prometida por Trump aquando da sua primeira campanha eleitoral, esta estrutura impedirá a entrada dos habitantes da periferia suburbana, também para sua própria proteção, permitindo-lhes ficar com as suas festas em sociedades recreativas, foguetório de limitada ambição e sonhos de saneamento básico universal, sem contaminar a alta cultura das elites.

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Entretanto, já circula uma petição que apresenta uma visão completamente diferente para a futura Estação de Coimbra. Nela, e no sentido de não sobrecarregar o erário público, defende-se que nada seja construído e se utilize antes a maqueta apresentada por Busquets para acolher todos os conimbricenses, depois de estes serem encolhidos pela máquina eletromagnética do filme “Querida, Eu Encolhi os Miúdos”. Pode parecer fantasioso, mas desde que se lhe pudesse chamar algo como Capital da Miniatura, certamente não deixaria de ter enorme adesão entre a inteligência local.

(Este texto é, naturalmente, uma mentira pegada. Fake news, como agora se lhes chama. Tenha cuidado com elas. Para nos deixarem abismados, já bastam as notícias verdadeiras.)

OPINIÃO | PEDRO SANTOS- ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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