Coimbra

Triatletas e federação não se entendem por causa do encerramento do CAR de Montemor-o-Velho

Notícias de Coimbra | 11 anos atrás em 25-09-2013

Os triatletas portugueses dos Centros de Alto Rendimento (CAR) repudiaram hoje a gestão federativa na alta competição e apelaram à intervenção dos responsáveis pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e Comité Olímpico de Portugal (COP).

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“A nossa ideia, e pelo contacto que temos tido com a estrutura federativa, é de uma clara falta de competência, mas não nos cabe a nós sugerir uma queda ou não da direção [da Federação de Triatlo de Portugal]. Tentámos falar atempada e repetidamente e nunca o diálogo foi levado a bom porto”, lamentou João Silva, em conferência de imprensa, em Lisboa.

O triatleta natural da Benedita, sexto classificado da edição de 2013 do Campeonato do Mundo, foi o “porta-voz” de um comunicado subscrito por 14 atletas que residem ou residiam nos CAR da modalidade, uma vez que a infraestrutura de Montemor-o-Velho foi encerrada pela FTP em maio último.

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“A FTP procedeu ao repentino encerramento do CAR de Montemor-o-Velho, em maio, sem comunicar previamente aos atletas, pais e funcionários do mesmo […], chegou a verificar-se a falta de comida e água no CAR e, inexplicavelmente, a mando do presidente da FTP foram trocadas as fechaduras da casa, ao que se julga para tomar posse da mesma. Tal facto mereceu a intervenção da GNR”, referem os triatletas, justificando esta tomada de posição com a vontade de preparar a época de 2014, quando começa o apuramento para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro2016.

Ladeado pelos “elites” João Pereira, 18.º do Mundial, e Miguel Arraiolos, 63.º, e “apoiado” por outros nove triatletas, João Silva anunciou o “frontal e total repúdio pela orientação seguida, no seio da FTP, no que ao alto rendimento diz respeito”.

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“Estamos aqui porque atingimos o limite e porque já tentámos por todas as vias internas da federação resolver os problemas, mas, como nunca obtivemos respostas nem soluções viáveis, vimo-nos obrigados a fazer este comunicado”, frisou João Silva, aludindo à missiva distribuída à comunicação social, que manifestava “profunda deceção e estranheza pela insensibilidade” do presidente da FTP, Fernando Feijão, e do antigo Diretor Técnico Nacional (DTN) Hugo Ribeiro.

Entre os vários pontos do comunicado dos triatletas constam várias denúncias, como o aliciamento de João Silva e João Pereira com uma bolsa monetária para que não competissem pelo Benfica, o afastamento das equipas médica, de fisioterapia e de psicologia, as “pressões, represálias e chantagens” aos atletas que pretendiam ter enquadramento técnico diferente do de Hugo Ribeiro.

Ainda relativamente ao antigo DTN da FTP, os triatletas contestam a sua contratação, salientando tratar-se de “um vice-presidente da própria federação, sem habilitações para o cargo, planeando treinos inexplicáveis do ponto de vista técnico e colocando em causa a própria integridade física dos atletas” e a falta de acompanhamento técnico para provas e estágios.

“Como é exemplo a participação do atleta João Pereira na etapa de Hamburgo, para a qual foi acompanhado pelo presidente da FTP, quando havia técnicos da FTP disponíveis” ou “o estágio em altitude realizado nos Pirenéus, em França, em maio […], realizado por José Estrangeiro e João Pereira, que conduziram a viatura da FTP a partir de Portugal, num total de 1.250 quilómetros cada viagem”.

Os subscritores do comunicado, além de agradecerem o apoio aos “pais, clubes e amigos”, solicitam a intervenção aos presidentes do IPDJ, do COP e da Comissão de Atletas Olímpicos, assim como aos responsáveis da FTP.

 O presidente da Federação de Triatlo de Portugal (FTP), Fernando Feijão, manifestou hoje “surpresa e estranheza” pela conferência de imprensa promovida por vários atletas assumindo duras críticas à gestão do alto rendimento por parte da sua equipa.

“Estranho muito. Telefonam-me muitas vezes às 22:00 e 23:00 sobre assuntos de menor importância e não me contactaram por este. Só posso estranhar, até porque tenho reunião marcada com todos os atletas para quinta-feira”, disse o presidente da FTP, em declarações à agência Lusa. .

“Quando vou reunir com os atletas para saber dos seus anseios, dificuldades, objetivos e desejos para próxima época, para estabelecer direitos e obrigações entre as partes, organizar o trabalho e alterar o modelo que se vinha praticando, acontece isto. De facto, é estranho…”, sublinhou Fernando Feijão.

O dirigente lembrou que “o calendário nacional decorreu com normalidade, foram realizadas todas as provas, houve mais participações internacionais do que em algum outro ano, os atletas, em geral, melhoraram os seus ‘rankings’ mundiais”, pelo que assume “dificuldade” em entender esta atitude.

“Isto são factos. Por isso isto é tão estranho. É algo que me preocupa, mas vou falar com os atletas”, assegurou.

Ainda assim, Fernando Feijão disse acreditar que tudo se vai resolver.

“Somos pessoas de bom senso, diálogo. Estou otimista. Vou ver o que se passa e o que não estiver bem será corrigido. Certamente não foi tudo mal feito. Quero ouvi-los. As suas preocupações e porque saiu o comunicado sem me darem conhecimento. Nem sei ainda que atletas o subscrevem, o que os move, se essa será a razão. Falando com eles, talvez se perceba melhor”.

Fernando Feijão insistiu que pretende reunir com todos os agentes da modalidade de forma a estabelecer regras que mereçam a aprovação e agrado da maioria.

O dirigente comentou ainda dois dos pontos de que foi acusado, garantindo ser “mentira” que tenha faltado comida no CAR de Montemor-o-Velho: esclareceu que o contrato com empresa externa cessou em março e que a partir daí foi a própria federação a assumir essa situação, “sem falhas”.

Quanto ao encerramento do CAR de Montemor-o-Velho, assumiu que o projeto era “inviável, financeiramente impossível de suportar pela federação, num negócio que só interessava a uma das partes”.

“Os atletas desconhecem parcialmente a situação, que tivemos de rever. O processo está em tribunal e a seu tempo se saberá o que se passa. A troca de fechadura foi feita por parte do dono do imóvel e fui eu próprio quem fez queixa à GNR”, esclareceu.

Fernando Feijão promete uma reação completa após tomar conhecimento de todos os factos.

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