Opinião

TORRES FARINHA: Permacultura

TORRES FARINHA | 10 anos atrás em 08-01-2014

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A permacultura possui uma pertinência crescente na sociedade actual, assumindo-se como uma visão de futuro, mas colhendo as frutuosas lições do passado, bem como as conquistas da ciência.

A permacultura é um método holístico de conceber e manter sistemas ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis.

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A permacultura foi criada pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren na década de 70, baseando-se no modelo de vida integrado com a natureza das comunidades aborígenes tradicionais da Austrália.

De acordo com Bill Mollison, “a permacultura é uma filosofia de trabalhar com, e não contra a natureza; de observação prolongada e reflectida em vez de trabalho prolongado e impensado; de olhar para as plantas e animais em todas as suas funções, em vez de tratar qualquer área como um sistema único”.

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Os princípios da Permacultura vem da posição de Bill Mollison em que “[…] a única decisão verdadeiramente ética é cada um tomar para si a responsabilidade da sua própria existência e da dos seus filhos”.

É nesta perspectiva que, independentemente da visão política que cada um de nós tem, da organização social que ambiciona e do futuro que deseja, tem subjacente a ideia de que se não tomarmos conta da nossa própria existência e da dos nossos filhos, mais ninguém fará isso por nós, e esta passa pela permacultura.

No âmbito da permacultura, as sete áreas estratégicas para a sustentabilidade da humanidade estão focalizadas em oportunidades e não em obstáculos. A Permacultura permite à humanidade a reintegração e comprometimento com os ciclos de produção e consumo em torno do ponto focal da pessoa motivada e actuante, no âmbito de uma família e de uma comunidade comprometida com um futuro sustentável; aquelas áreas são as seguintes:

– Maneio da terra e da natureza;
– Espaço construído;
– Ferramentas e tecnologia;
– Posse da terra e governo;
– Economia e finanças;
– Educação e cultura;
– Saúde e bem-estar espiritual.

Os sistemas reais que estão a começar a falhar são os solos, as florestas, a atmosfera, e os ciclos de nutrientes. E somos nós os responsáveis por isso. Não temos desenvolvido, em nenhum lugar do mundo ocidental, qualquer sistema sustentável de agricultura ou florestas.

Florestas
Constata-se que as florestas são muito mais importantes para o ciclo do oxigénio do que se imaginava. Era habitual pensar que os oceanos é que eram o elemento mais importante. Contudo, contribuem provavelmente com menos de 8% da reciclagem do oxigénio atmosférico. Para além deste aspecto, se continuarmos a despejar mercúrio nos mares, o oceano tornar-se-á um consumidor de oxigénio. O equilíbrio está em mudança. É principalmente das florestas que dependemos para nos protegermos de uma situação anárquica.

Clima
Os efeitos no clima mundial estão-se a tornar visíveis, quer na composição da atmosfera quer na incapacidade desta em suavizar as suas variações. O que está a acontecer com o clima no mundo não é tão só o tão propalado efeito de estufa, nem tão pouco o caminhar em direcção a uma nova era glaciar: o clima está a flutuar tão drasticamente que se está a tornar completamente imprevisível. Se continuarmos a cortar árvores, talvez daqui a 12 anos não haja mais florestas no mundo!

Solos
Tanto quanto se pode calcular, por volta de 1950 já se havia perdido para cultivo cerca de 50% dos solos existentes para este fim. Desde então, já se perderam mais de 30% dos solos restantes. Por exemplo, na Austrália perde-se cerca de 65 toneladas de solo por hectare cultivado por ano. Na América do Norte, onde se produz milho, pode-se perder até cerca de 1000 toneladas por hectare por ano, embora a média fique em torno de 50 toneladas. No Canadá mede-se esta perda em termos de húmus, estando este país a ficar sem húmus. Nas pradarias, que tinham solos ricos em húmus, o que eles agora têm é um solo puramente mineral.

Estradas, Cidades e Poços
O maior factor isolado na Grã-Bretanha da causa da perda de solos é a construção de rodovias. Este é um factor igualmente importante na América do Norte. A Grã-Bretanha tem um quilómetro de estrada para cada quilómetro quadrado de área. As rodovias estão a ser rapidamente ampliadas, baseado no pressuposto de que nunca se vai precisar daquele solo, e de que as estradas vão possibilitar um aumento do uso da energia. As estradas causam uma perda permanente de solos, assim como as cidades. Estas ocupam 11% dos solos de boa qualidade. O Canadá é um exemplo interessante, onde as cidades são construídas em solos da melhor qualidade, deixando a agricultura ficar com o que resta. Simultaneamente pretende-se, pelo menos, a manutenção e, em alguns casos, um aumento da produtividade, dos solos que restam. Como a perda de solos cultiváveis é devida largamente à aplicação excessiva de energia – mecânica e também química – então o facto de estarmos a tentar manter a produtividade nos solos restantes significa que a taxa de perda deve aumentar, devido ao facto que usamos mais e mais energia em menos e menos área.

Água
Os lençóis freáticos estão agora a secar rapidamente. Trata-se de sistemas muito antigos. Muitos deles têm 40.000 anos de evolução. Já não se pode obter mais água superficial barata em nenhum lugar. Se tal fosse possível, Los Angeles estaria a comprar e a usar essa água. A principal razão é o facto de que se impermeabilizaram grandes áreas de solo com a construção de cidades, impedindo que o solo recolha e reponha os níveis de água.

Também se impermeabilizaram enormes áreas com rodovias, não permitindo devolver nenhuma água ao subsolo. Quando a água atinge os rios, o seu destino é o mar. A partir daí constitui-se como uma saída de água, deixando apenas alguma por evaporação no seu caminho.

A conclusão final a retirar desta atitude do ser humano sobre a natureza pode ser feita apelando ao Evangelho Essénio de João: “Em verdade vos digo, o Homem é o Filho da Mãe Natureza, e dela o Filho do Homem recebeu todo o seu corpo, tal como o corpo da criança recém-nascida vem do ventre da sua mãe. Em verdade vos digo, sois unos com a Mãe Natureza; ela está em vós, e vós nela. Dela nasceste, nela viveis, e a ela voltareis novamente. […] o vosso hálito é o seu hálito; o vosso sangue é o seu sangue; os vossos ossos são os seus ossos; a vossa carne, a sua carne; as vossas entranhas, as suas entranhas, os vossos olhos e ouvidos, os seus olhos e ouvidos.”

Vale a pena reflectir sobre isto!

TORRES FARINHA

Investigador

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