Pode parecer estranho, mas todos nós já tivemos uma cauda — e perdemo-la antes mesmo de nascer. Entre a 5.ª e a 6.ª semana de gestação, o embrião humano desenvolve uma pequena cauda com cerca de 10 a 12 vértebras. Por volta das oito semanas, ela desaparece completamente.
Mas nem sempre foi assim. Há cerca de 25 milhões de anos, os nossos antepassados ainda a exibiam com orgulho, antes da separação entre os grandes símios e os macacos do Velho Mundo. Desde então, a cauda desapareceu dos nossos genes — e, segundo a ciência moderna, isso aconteceu de forma súbita e acidental.
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Um estudo publicado em 2024 na revista Nature, citado pelo ZAP, aponta o dedo a um pequeno fragmento de ADN, um gene saltitante chamado elemento Alu, que se instalou num gene crucial para o desenvolvimento da cauda (o TBXT). Essa intrusão alterou completamente o código genético dos nossos antepassados e fez a cauda “desaparecer” de uma geração para a outra.
“Quando o elemento Alu está presente, a cauda perde-se de uma só vez”, explicou o bioquímico Itai Yanai, da Universidade de Nova Iorque.
Os cientistas confirmaram a descoberta em laboratório, inserindo o mesmo fragmento genético em ratos — e o resultado foi surpreendente: os ratos nasceram sem cauda.
Mas a mutação teve um preço. Os animais apresentaram defeitos na espinal medula, semelhantes à espinha bífida, uma condição que ainda hoje afeta cerca de um em cada mil recém-nascidos humanos. Mesmo assim, a mutação prevaleceu, o que indica que a vantagem evolutiva de perder a cauda foi mais forte do que os riscos.
Ainda assim, o “porquê” desta mudança continua envolto em mistério. Alguns especialistas acreditam que a perda da cauda possa ter facilitado a locomoção bípede, libertando as mãos e favorecendo a postura ereta. Outros defendem que a mutação foi apenas um acidente evolutivo que acabou por se manter.
De uma forma ou de outra, a cauda ficou para trás — e com ela, um dos traços mais marcantes que partilhávamos com o resto do reino animal.
“É um exemplo brilhante de como uma pequena mutação pode ter consequências profundas”, sublinhou o geneticista David Kimelman, da Universidade de Washington.
A verdade é que o gene que nos tirou a cauda moldou, literalmente, aquilo que somos hoje — e dificilmente ela voltará.
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