Saúde

Tempo passa mais rápido à medida que envelhecemos?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 horas atrás em 27-10-2025

Se já se perguntou o motivo para os verões da infância parecem eternos, enquanto os anos da vida adulta passam a correr, a neurociência pode ter encontrado uma explicação.

Um novo estudo liderado por Selma Lugtmeijer, da Universidade de Birmingham, sugere que a nossa percepção do tempo acelera com a idade não porque algum “relógio interno” funcione de forma diferente, mas porque os nossos cérebros deixam de captar tantas mudanças ao longo da vida.

A equipa analisou o chamado “estado neural” — padrões de atividade cerebral que representam momentos ou eventos distintos — e descobriu que, à medida que envelhecemos, estes estados tornam-se mais longos e menos diferenciados. Em termos simples, o cérebro adulto faz menos “cortes” no filme da nossa vida.

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O estudo utilizou dados de 577 participantes com idades entre 18 e 88 anos, recolhidos no projeto Centro de Envelhecimento e Neurociência de Cambridge (Cam-CAN). Enquanto assistiam a um clipe de oito minutos de Bang! You’re Dead, de Alfred Hitchcock, a atividade cerebral dos participantes foi registada através de fMRI.

Com recurso a um algoritmo de inteligência artificial, os investigadores identificaram quando o cérebro transita entre estados de atividade estáveis — momentos em que “decide” que algo novo está a acontecer. Os resultados mostraram que cérebros mais jovens alternavam entre estados com maior frequência, enquanto cérebros mais velhos permaneciam mais tempo em cada estado.

“As transições mais lentas nas regiões visual e pré-frontal podem contribuir para que os adultos sintam o tempo a passar mais rápido”, explicam os autores.

Os investigadores associam este fenómeno à desdiferenciação neural: respostas especializadas do cérebro — a rostos, objetos ou cenas — tornam-se menos distintas com a idade. Como num filme em que a câmara perde o foco, as fronteiras entre as cenas começam a borrar-se, criando a sensação de que o tempo passa velozmente.

Especialistas externos consideram estas conclusões plausíveis, pois ligam uma experiência humana subjetiva — a perceção do tempo — a padrões neurais mensuráveis. Além disso, a perceção temporal também depende da proporção da vida já vivida: um ano para uma criança de cinco anos representa 20% da sua vida, enquanto para alguém de cinquenta, apenas 2%.

Segundo os investigadores, envolver-se em novas experiências, aprender habilidades, viajar ou viver momentos significativos socialmente pode ajudar o cérebro a criar mais “eventos neurais”, tornando o tempo retrospectivamente mais rico e lento.

“Não é apenas quando estamos a divertir-nos que o tempo voa; se prestarmos atenção plena, ele também pode parecer mais lento”, afirma Linda Geerligs, coautora do estudo.

As conclusões do estudo, publicado na revista Communications Biology, revelam que a nossa noção de tempo é menos como um relógio e mais como uma narrativa que o cérebro conta — uma narrativa cujo ritmo se altera com a idade, com o rolo da vida a passar cada vez mais depressa.

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