Opinião

Temas quentes, semana fria

MANUEL MILAGRE | 11 anos atrás em 21-06-2013

ManuelMilagre novo

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MANUEL MILAGRE

Por razões que seguramente extraviam a esfera protocolar, permitam-me que, de forma genuína e sobretudo por amizade, não deixe de começar por agradecer ao Fernando o convite que gentilmente me endereçou para iniciar esta saga de crónicas, neste veículo de informação digital que aproveito, também, para, desde aqui, congratular pelo seu recente nascimento. De facto, não poderia deixar de ser para mim um orgulho, um prazer e uma honra poder dizer, de minha justiça, aquilo que vai na minha sempre inquieta alma de forma livre, transparente e absolutamente independente, neste agregador informativo de excelência que é já uma inquestionável referência no mundo da comunicação social “glocal”.

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Mas vamos ao que interessa – “Temas quentes, semana fria…”

Câmara Municipal de Coimbra:

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Festas da Cidade – Creio que não existem superlativos para qualificar aquilo que está a ser feito com o dinheiro que é de todos e nunca chega: os nossos impostos. Apesar das naturais e, em democracia, saudáveis divergências de índole política que tenho com o Presidente da Câmara, a quem já tive até oportunidade de amavelmente oferecer um pombo-correio, sempre o tive como uma pessoa séria. Sempre pensei que, à parte de alguns jogos de cintura e politiquices menos próprias que infelizmente ainda caracterizam a forma de fazer política em Portugal e às quais admito que seja quase impossível escapar, haveria, com certeza, uma linha que a sua honestidade intelectual não o permitira passar.

Haveria certamente um número infinito de diferentes coisas, que me demito de por agora elencar, que poderiam resultar da aplicação dos 340.000€, trezentos e quarenta x 103 euros, €340k ou, se o leitor preferir, nas palavras de Luís Providência, dos 0,16% do orçamento camarário, ao serviço dos conimbricenses, nomeadamente dos mais carenciados, atendendo ao crescente quadro de agravamento social que se tem vindo a observar na cidade. E, no limite, até admito que esse exercício poderia ser feito, de forma disfarçada e discreta, em benefício da campanha eleitoral! Sendo certo que não deixaria de ser uma prática condenável e populista, seria seguramente um mal menor, uma vez que seriam os mais desfavorecidos a lucrar, em detrimento de uma produtora de eventos/outdoors…

Infelizmente não foi o que aconteceu e vamos ter palcos na água, artistas de renome, uns nacionais outros menos, cerveja e vinho para momentaneamente esquecer a crise, imagino que umas quantas centenas de bilhetes à borla para os mais devotos “ao regime” oferecerem aos indecisos e um grande forrobodó, bem ao jeito de Alberto João Jardim!

Mas quando se congeminava que a passada reunião da edilidade iria ser marcada, fundamentalmente, por esta questão, eis senão quando surge uma agrura, no meu entender, ainda mais grave. Aquilo que aparentava ser uma discussão para adjudicação do festival, era tão só um leviano pro-form, um fait-divers de uma decisão que já tinha sido previamente tomada e até anunciada no site da empresa visada! Não quero acreditar nas más-línguas que afirmam tratar-se de uma empresa que irá prestar serviços nas eleições autárquicas, ao serviço de um qualquer partido ou coligação. Até manifesta prova em contrário, recuso-me a fazê-lo! É, simplesmente, mau de mais para ser verdade…

Em jeito de conclusão deste tópico, este processo representa, para mim, um barómetro de tudo o que há de mau na política e, sobretudo, mais um brilhante contributo para o descrédito que infelizmente não se cinge aos seus protagonistas – coligação PSD/CDS – mas que, aos olhos do cidadão, se alastra, contaminando a classe política de forma geral, já de si tão debilitada, corrompida e desacreditada.

Realmente, contra (estes) factos – não há argumentos!

SMTUC – Nota positiva para a CMC! Com a aprovação dos novos títulos, passa a ser possível realizar transbordos sem custos acrescidos, uma vez que o bilhete passa a ter a validade de uma hora, em detrimento de apenas uma só viagem.

A configuração das linhas dos SMTUC encontra-se claramente obsoleta face às necessidades e à realidade dos dias de hoje. Em vez de uma rede em forma de “aranhiço”, onde autocarros circulam entre os polos mais densos da cidade, deveria existir um conjunto de linhas de elevada densidade, em redor do centro da cidade, e linhas de densidade menor, transversais às primeiras, ligando as zonas mais periféricas do concelho a essa zona central, onde os passageiros fariam um transbordo para a linha que efetuaria a ligação até ao local pretendido. Claro que este exercício pressupõe que os horários teriam de estar extremamente bem coordenados, tendo em conta fatores como a variação dos níveis de tráfego a cada período do dia, por forma ao transbordo ser feito de forma rápida, cómoda e sem custos adicionais para o passageiro.

Penso que esta medida, com um pouco de boa vontade e alguma mestria, poderá abrir portas para um futuro novo paradigma na configuração das linhas dos SMTUC que permitiria não só melhorar as condições do serviço prestado, como também economizar recursos financeiros a esta estrutura municipal.

Manifestações no Brasil

A gota d’água – De facto, é impressionante num país que literalmente pára quando joga a seleção nacional (a título de exemplo, nalgumas universidades, os exames calendarizados para estes dias são adiados), ver centenas de milhares de pessoas na rua, com uma significativa expressão de estudantes do ensino superior, protestando contra os “bilhões” investidos na Copa do Mundo e a corrupção, a pretexto do aumento de 20 centavos no preço dos transportes públicos. Receio que este possa ser o início de uma espécie de novo Grito de Ipiranga do séc. XXI, desta vez por um sistema de educação e saúde públicos, de qualidade e para todos, bem como de um mecanismo de segurança social que realmente proteja quem mais precisa.

Ou seja, do lado de lá do oceano, milhares protestam na rua por mais estado; do lado de cá, assistimos ao seu desmantelamento. Do lado de lá, foi preciso uma gota d’água para desencadear esta onda de protestos e parar o país; do lado de cá, precisamos do Borda d’Água para tentar acertar previsões económicas apocalípticas que se constatam sistematicamente pior do que o previsto.

Greve dos Professores

O Bom, o Mau e o Vilão – Compreendo e estou solidário com as reivindicações dos professores mas acho lamentável que se utilize os alunos como reféns e que estes sejam instrumentalizados numa luta em que nem sequer tiveram oportunidade de poder escolher o lado, tendo sido colocados, tão só, no meio do fogo cruzado naquele que, à data, é o mais importante momento das suas carreiras académicas.

Historicamente, os professores tendencialmente votam à esquerda e são uma fatia do eleitorado fundamental para o PS. Ainda assim, creio que António José Seguro perdeu uma importante oportunidade de ter mediado/moderado este confronto entre professores e governo, apelando à serenidade e colocando os alunos, e a importância deste momento para as suas vidas, no cerne da questão, em detrimento das reivindicações dos professores e a teimosia do governo.

Era um arriscado e perigoso long shot mas, em caso de sucesso, teria certamente feito o papel do Bom, salvando os alunos da justa fúria dos professores (o Mau), tendo ainda oportunidade para condenar e disparar mais uma importante bala sobre o governo – O Vilão.

Cavaco de Silva

Pagamento dos subsídios de férias – enfim… Todos sabíamos, de antemão, no que isto ia dar! Apraz-me dizer única e exclusivamente:

Boys will be boys…

Por último, uma última questão:

Quanto custa ao erário público a ignorância, falta de espírito democrático e sentido de oportunidade de alguns jovens deputados da Assembleia da República?

MANUEL MILAGRE

Engenheiro Civil

Presidente da CPC da Juventude Socialista de Coimbra

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