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Telma cumpre promessa e entra na história da Volta de São João de Vila Nova

Susana Brás | 1 hora atrás em 22-06-2025

Decorreu na manhã deste domingo, 22 de junho, a Volta de São João, uma tradição secular profundamente enraizada na identidade da comunidade de Vila Nova, freguesia de Cernache, concelho de Coimbra.

Realizada anualmente em honra de São João Baptista, esta celebração assume-se como um marco cultural e emocional para os habitantes desta aldeia, sendo mais do que uma festa — é uma herança viva que atravessa gerações.

A Volta é composta por um cortejo simbólico que percorre praticamente todas as localidades da freguesia de Cernache. A comitiva é formada por dois grupos emblemáticos: cerca de 60 mulheres trajadas a rigor, que marcham com alegria ao som da Banda Milénio, e um grupo de cavaleiros, também com trajes tradicionais.

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Este ano, pela primeira vez na história da Volta, a bandeira de São João — elemento central da celebração — foi transportada por uma mulher a cavalo. Telma Veríssimo assumiu essa missão histórica com orgulho, fruto de uma promessa pessoal e familiar.

“É a primeira vez que uma mulher leva a bandeira de São João nesta volta. É uma tradição secular e eu cresci com ela”, explicou Telma ao NDC.

A emoção do momento foi evidente. “A missão está cumprida”, disse, visivelmente sem conseguir conter as lágrimas.

“Vou nesta volta desde os meus três anos como marchante, à frente, trajada como todas as outras mulheres. Aos 30 anos decidi aprender a montar para também poder cumprir esta tradição a cavalo, como fizeram mulheres da minha família.”

Para Telma, mais do que fazer história, o mais importante é garantir que a tradição continua:
“Não foi para ficar na história como a primeira mulher, mas aconteceu. Espero que outras mulheres também levem a bandeira no futuro. A tradição está viva e vai continuar.”

A ligação emocional é transversal entre os participantes. Aida Gouveia, com 56 anos e mais de 40 a participar na volta, é exemplo disso.

“Esta volta representa os tempos antigos, é mostrar às outras localidades da freguesia a nossa alegria, os nossos arraiais”, conta com entusiasmo.
Participou desde criança, levada pela mãe, e hoje partilha o orgulho de ter já passado essa vivência às filhas e à neta: “Este ano trouxe a minha neta, que tem 20 meses. Veio trajada”.

A Volta percorre entre 12 a 15 quilómetros, passando por localidades como Feiteira, Pousada, Tirado, Cernache, Vila Pouca, Orelhudo e Casconha, regressando a Vila Nova. O percurso, embora longo, é suavizado pela hospitalidade das gentes locais.

“Em todos os lugares somos recebidos com comida, bebida, sempre com grande carinho”, sublinha Aida.

A tradição inclui também momentos simbólicos e religiosos, como o cumprimento das bandeiras e estandartes em cada localidade, a entrega de fitas a São João como cumprimento de promessas, e a emoção do regresso à Capela de São João, onde a bandeira volta a casa.

“Toda a gente nos recebe com alegria. Cantam connosco, batem palmas. E nós vamos sempre a cantar”, reforça Aida, destacando o papel da Banda Milénio, que há décadas acompanha o cortejo.

A emoção atinge o auge no regresso a Vila Nova.

“Quando chegamos, lembramo-nos dos nossos pais, avós, das pessoas que partiram e que nos transmitiram este amor pela tradição”, confessa Telma, com a voz embargada.

Mais do que uma simples festa, a Volta de São João é uma manifestação de bairrismo, memória coletiva e identidade local, onde o passado se funde com o presente num ciclo contínuo de celebração, devoção e comunidade.

E como resume Telma Veríssimo: “É o amor pela terra. Está no sangue. Nós em Vila Nova somos muito bairristas. Esta tradição é para continuar, sempre com alegria, sempre com orgulho.”

Clique na fotogaleria para ver quem esteve na Volta de São João:

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