Portugal

Telemigração é “oportunidade” para Portugal  

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 29-06-2022

O aumento da ‘telemigração’, que leva a um aumento da concorrência internacional no setor dos serviços, representa uma “oportunidade” para Portugal, defende o economista Richard Baldwin, em entrevista à Lusa, acreditando que a ‘desglobalização’ é um mito.

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O professor de economia internacional no Instituto de Pós-Graduação de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento em Genebra, onde se dedica aos temas da globalização e do comércio, esteve em Sintra no âmbito do Fórum BCE, para apresentar um estudo no qual defende que as economias estão no início da “terceira grande transformação”, provocada pela combinação da globalização e da digitalização.

Em entrevista à Lusa, à margem do evento, Richard Baldwin explicou que Portugal se poderá considerar como um país europeu de baixos salários, pelo que esta “é uma oportunidade”.

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“É essencialmente uma oportunidade para jovens portugueses que tenham níveis razoáveis de formação, que não precisa de ser um diploma universitário, para vender os seus serviços sem terem de se mudar para fora do país”, disse.

Para o economista esta terceirização (contratação de serviços a terceiros) associada ao aumento da telemigração, que faz com que trabalhadores de qualquer parte do mundo tenham a possibilidade de oferecer serviços a preços potencialmente reduzidos nos países da zona euro, contribui para uma maior concorrência internacional no setor dos serviços.

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“Acho que Portugal vai realmente ganhar com esta grande oportunidade de exportação [de serviços]”, disse.

O economista que foi presidente do Centre for Economic Policy Research (CEPR) e editor-chefe do portal VoxEU acredita que a tecnologia digital “está a abrir o mundo do trabalho em escritórios e setores de serviços à concorrência do exterior”, nomeadamente para países com salários mais baixos.

“Lembro-me que quando escrevi o meu livro – terminei em 2018, saiu em 2019 – costumava ter de mostrar às pessoas vídeos de como era trabalhar em casa. Agora, já não preciso de o fazer”, exemplifica em alusão à evolução no mercado de trabalho provocada pela pandemia de covid-19, destacando que passou a ser possível “trabalhar em casa em equipas remotas e juntá-las e todos aprenderam como fazer funcionar”.

Para Baldwin, haverá cada vez mais pressão para alguns membros da equipa ou algumas das tarefas sejam transferidas para países com salários ainda mais baixos.

Neste sentido, rejeita a ideia de que se assiste a uma ‘desglobalização’, considerando ser “um enorme mal-entendido”.

“É uma discussão realizada por pessoas que têm uma ideia particular do que significa globalização”, justifica, defendendo que “a intensidade do comércio de bens está, realmente, a diminuir ou pelo menos estagnada, mas isso não está a acontecer nos serviços”.

O economista destaca que a ‘desglobalização’ é, assim, “um mito”.

No entanto, admite que “a globalização está a mudar e está a mudar de bens para serviços”.

Acredita ainda que esta transformação, que diz ser estrutural, vai ser positiva para mercados emergentes como o Brasil e países africanos.

“Acho que o milagre do mercado emergente vai continuar e espalhar-se. África tenderá a fornecer para a Europa e a América do Sul para a Europa”, acrescenta, assinalando que tal irá ocorrer não para as cadeias globais de valor de bens, mas sim de serviços.

Num estudo apresentado esta terça-feira no fórum anual do BCE, Baldwin defendeu que o rápido progresso da tecnologia implica que os trabalhadores no setor dos serviços, que anteriormente não eram afetados pela automação, terão de competir com “robots de colarinho branco”.

Neste âmbito, acrescenta, a mudança estrutural em curso irá afetar a política monetária, uma vez que os salários e os preços em setores expostos à telemigração e à automação estarão sujeitos a pressões descendentes.

O Fórum do BCE, este ano dedicado aos desafios para a política monetária num mundo em rápida mudança, teve início na segunda-feira à tarde e termina hoje.

Após dois anos realizada por meios telemáticos devido à pandemia, a ‘cimeira’ de três dias regressou a Sintra de forma presencial, conforme anos anteriores.

O tema deste ano foi alterado para refletir os recentes desenvolvimentos globais e a ‘cimeira’ está a debater os desafios que a economia da zona euro enfrenta atualmente.

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