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Tatiana deixa tudo para trás e está a erguer uma nova vida (tijolo a tijolo) em Penacova

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 dia atrás em 05-06-2025

Tatiana Martynova tem 39 anos e deixou a Rússia no início de 2024. Vive atualmente em Lorvão, no concelho de Penacova, onde encontrou algo que já julgava ter perdido: paz, acolhimento e liberdade.

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“Decidi mudar-me porque a Rússia está em guerra. Eu não concordo com a política atual do país. Para quem não concorda, torna-se perigoso viver lá”, explica. Mas mais do que a guerra, foi a falta de liberdade que a empurrou para fora. “Na Rússia, por qualquer ação podes ir preso sete ou oito anos, mesmo sem teres cometido nenhum crime. Se fores gay, se fizeres publicidade no Instagram, que está proibido, se disseres que a guerra é má… é tudo motivo de repressão”, contou ao Notícias de Coimbra.

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Ao chegar a Portugal, no dia 8 de fevereiro de 2024, passou os primeiros meses na Costa da Caparica. “Lá, falava sobretudo com pessoas da Rússia ou da Ucrânia. Não tive muito contacto com portugueses.”

Isso mudou quando se instalou em Lorvão. “Aqui, tudo é diferente. Fui muito bem recebida na aldeia. Os vizinhos, todos portugueses, disseram logo: ‘Se precisares de alguma coisa, a minha porta está aqui’.”

Tatiana confessa que, antes de sair do seu país, tinha receios: “Diziam-me que os russos não são bem-vindos na Europa, que ninguém nos quer. Mas aqui senti o contrário. Senti que estou a criar uma nova família.”

Com a ajuda dos vizinhos e do Instagram onde partilha o seu percurso, Tatiana está a reconstruir uma casa — e também a sua vida. Esta mulher é um exemplo de superação e de adaptação. Como se vê, nunca baixou os braços. “Comprei uma casa antiga. A fazer obras e a aprender português com os vizinhos. Comecei este blog para melhorar o meu português” – é assim que descreve o falamedeportugal.

Desde setembro, Tatiana vive numa casa que comprou em Lorvão. A casa, com cerca de 80 anos, está a ser renovada e quase construída de raiz pela própria Tatiana. A renovação do espaço, quase toda feita por ela própria, é partilhada diariamente no Instagram, uma forma original e criativa de mostrar o progresso da obra e, ao mesmo tempo, treinar e melhorar a sua fluência em português, que desde já, está a ir muito bem!

Tem aprendido várias técnicas com mestres da construção: desde impermeabilização a pintura, passando por colocação de tomadas e restauro de janelas de madeira. “No início, sem falar português, era tudo muito difícil. Por exemplo, o telhado tinha um buraco e eu não sabia o que fazer. Falei com os vizinhos e eles chamaram um trabalhador para mim. Assim começou tudo.”

Hoje, além do apoio da comunidade local, Tatiana recebe ajuda de voluntários, como pessoas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia que também vivem em Portugal. “Falam a minha língua, o que facilita muito. Uma portuguesa também se ofereceu para me ajudar a limpar o sótão”, diz.

Apesar da distância da família e das feridas abertas pela guerra, Tatiana sente-se em reconstrução, tal como o seu novo ninho. “Acredito que todos merecem viver em paz, com liberdade e respeito. Tenho amigos na Rússia e na Ucrânia, e ver tanto sofrimento parte-me o coração. Desejo que tudo termine rapidamente — e que as pessoas possam voltar a viver com dignidade.”

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