Saúde

“Superpoder” de um dos predadores mais temidos pode salvar milhões de vidas

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 45 minutos atrás em 09-12-2025

Os tubarões podem assustar nas profundezas do oceano, mas dentro do seu ADN esconde-se algo ainda mais poderoso do que dentes afiados: anticorpos únicos que podem, no futuro, ajudar a curar o cancro. A afirmação pode parecer ousada, mas uma investigação realizada num laboratório especializado da Universidade de Wisconsin–Madison está a transformar esta hipótese numa possibilidade cada vez mais real.

Os tubarões foram as primeiras criaturas da Terra a desenvolver um sistema imunológico, e possuem anticorpos de cadeia única, muito mais pequenos, simples e flexíveis do que os anticorpos humanos.
Segundo o investigador Aaron LeBeau: “Estes anticorpos funcionam como contorcionistas moleculares: infiltram-se numa proteína estranha, agarram-se a ela e nunca mais largam.”

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Esta “aderência” excecional permite-lhes prender células cancerígenas com enorme precisão — criando uma oportunidade para terapias altamente direcionadas e potencialmente menos agressivas do que os tratamentos atuais.

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O laboratório de LeBeau trabalha com tubarões-lixa mantidos num aquário de 26.500 litros. A equipa injeta nos animais proteínas associadas a determinados tipos de cancro, como mama e próstata, esperando que estes desenvolvam uma resposta imunitária semelhante ao princípio das vacinas.
Depois, recolhe pequenas amostras de sangue para isolar as células produtoras dos anticorpos.

Com técnicas de biologia molecular, os cientistas conseguem identificar anticorpos altamente específicos capazes de reconhecer células tumorais como se fossem um alvo marcado a laser, como explica a Popular Mechanics.

Nos primeiros ensaios, células cancerígenas humanas foram implantadas em ratinhos sem sistema imunitário. Quando os anticorpos do tubarão ligados a radioisótopos foram injetados, as imagens PET revelaram algo extraordinário: os anticorpos dirigiram-se diretamente aos tumores.

Numa fase seguinte, os investigadores acoplaram doses elevadas de radiação aos anticorpos. Em cada experiência, os anticorpos encontraram o tumor — e destruíram-no por completo.

LeBeau explica a vantagem desta abordagem: “As células cancerígenas podem tornar-se resistentes à quimioterapia, mas estes anticorpos conseguem atingir regiões das proteínas que não sofrem mutações. Isso torna-as alvos perfeitos.”

A equipa avançou para testes em macacos-rhesus, que não tinham tumores. Os resultados foram encorajadores: os animais eliminaram rapidamente os anticorpos do organismo, reduzindo o risco de efeitos colaterais caso sejam usados anticorpos com toxinas.

O próximo passo será produzir versões de grau farmacêutico e iniciar estudos em humanos — possibilidade que, segundo os investigadores, pode estar a apenas dois anos de distância.

Os anticorpos de tubarão também estão a ser estudados para outras aplicações médicas. Graças à sua capacidade de se ligar a proteínas específicas, poderão ajudar a: mapear a origem da dor crónica; identificar proteínas envolvidas em doenças neurológicas; e desenvolver terapias extremamente precisas para vários tipos de patologias.

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