Uma nova tendência tem vindo a ganhar atenção nas redes sociais, sobretudo no TikTok: adultos a recorrer a chupetas para lidar com momentos de stress, ansiedade ou dificuldades de concentração. Vídeos que mostram adultos a chupar chupetas no trânsito, no trabalho ou em casa têm circulado com alegações de benefícios no sono, foco e controlo emocional.
Apesar do fenómeno parecer inofensivo ou até humorístico, especialistas em psicologia clínica alertam para os riscos. “É um comportamento regressivo, que remete à infância e pode criar dependência emocional”, explica Catarina Lucas, psicóloga clínica. Além disso, o uso prolongado pode afetar o alinhamento dos dentes, gerar tensão na mandíbula e gerar constrangimento social, prejudicando a autoestima, pode ler-se no Jornal de Notícias.
Ana Isabel Lage, também psicóloga clínica, sublinha que o efeito calmante não provém da sucção em si, mas da perceção de controlo associada à ação. “Quando decidimos que alguma coisa nos ajuda a gerir o stress, isso funciona a curto prazo. Mas não é uma solução duradoura nem funcional”, alerta.
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Segundo os especialistas, os mecanismos de autorregulação emocional são normais e variam desde fumar, mascar chiclete ou respirar fundo, até gestos subtis como mexer num anel ou dar uma caminhada. A diferença com a chupeta é o caráter regressivo do gesto, que não é socialmente aceite e pode limitar a procura de estratégias mais adaptativas.
Apesar dos alertas, o fenómeno já gerou debate internacional, com vídeos virais sobretudo nos EUA, Brasil e Ásia. Nelson Zagalo, professor de média digitais da Universidade de Aveiro, explica que “o TikTok tem um poder tremendo de legitimar comportamentos através da viralização. Quando vários influenciadores o fazem, rapidamente se cria um efeito de normalização”.
Os especialistas aconselham que, em vez de recorrer a mecanismos infantis, os adultos utilizem estratégias mais eficazes e socialmente adaptadas para lidar com a ansiedade: passar tempo com pessoas, estar na natureza, praticar exercício físico, técnicas de respiração, mindfulness e terapia cognitivo-comportamental.
“Precisamos de ferramentas funcionais para a autorregulação emocional”, conclui Ana Isabel Lage, lembrando que soluções rápidas podem trazer alívio momentâneo, mas não promovem autonomia ou capacitação a longo prazo.
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