A frustração entre condutores e ciclistas é frequente, especialmente nos cruzamentos. Muitos automobilistas queixam-se de ver bicicletas a atravessar sem parar completamente nos semáforos ou sinais de STOP, enquanto eles próprios são obrigados a obedecer rigorosamente à lei. Mas faz sentido tratar dois modos de transporte tão diferentes da mesma forma?
No Quebec, e em muitas outras jurisdições, a lei exige igualdade formal: ciclistas devem obedecer às mesmas regras de trânsito que os condutores. No entanto, esta aplicação uniforme cria uma igualdade enganosa, pois os riscos e impactos associados a cada meio de transporte são muito diferentes. Um carro que avança num sinal vermelho pode causar ferimentos graves ou mortes; um ciclista dificilmente provocará o mesmo dano.
Para lidar com esta discrepância, alguns estados americanos, como Idaho, Arkansas, Colorado e Oregon, implementaram a chamada regra de paragem de Idaho. Desde 1982, os ciclistas em Idaho podem tratar sinais de STOP como sinais de dê a preferência e os semáforos vermelhos como um STOP. Ainda assim, devem ceder sempre passagem a carros e peões antes de atravessar. Países como França e Bélgica adotaram regulamentos semelhantes, e o Quebec está a debater uma reforma nesse sentido.
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A regra de Idaho tem três vantagens principais: Reconhece a dinâmica distinta do ciclismo em relação aos carros; reduz o ónus sobre tribunais e polícia para aplicação de multas; e preserva a eficiência do ciclismo, permitindo que os ciclistas mantenham impulso e promovam benefícios de saúde, ambientais e de fluidez do trânsito, pode ler-se no ZAP.
Diversos estudos mostram que a aplicação desta regra não aumenta as colisões e pode até reduzi-las, ao permitir atravessamentos mais rápidos e previsíveis. No Quebec, apenas 35% dos condutores param corretamente nos sinais de STOP, e apenas 27% dos ciclistas afirmam fazê-lo, evidenciando que a prática comum já se afasta da lei estrita.
Além da segurança, a discussão levanta questões culturais: a infraestrutura urbana tem sido historicamente projetada para automóveis, e os condutores ainda veem ciclistas como perigosos, apesar de estes serem estruturalmente mais vulneráveis. A introdução da regra de Idaho não seria uma liberalização indiscriminada, mas sim um reconhecimento da realidade do ciclismo, equilibrando segurança, eficiência e liberdade de deslocamento.
Em suma, a adoção de regulamentos adaptados poderia representar um passo simbólico e prático para integrar verdadeiramente a bicicleta como meio de transporte urbano seguro e eficiente.
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